domingo, 2 de dezembro de 2018

Entenda as Superbactérias!


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Siga o conselho do seu médico: o uso indevido de antibióticos ajuda na criação de bactérias imunes a eles – um problema que pode causar mais de 10 milhões de mortes em 2050.

Quem já precisou de antibióticos para tratar de uma infecção deve ter ouvido as mesmas recomendações: tomar sempre no mesmo horário, não interromper o tratamento antes do fim, evitar bebidas alcóolicas etc. Pode parecer meramente protocolar, mas esses pedidos do médico visam a evitar a resistência bacteriana.


Naturalmente, as bactérias passam por um processo de mutação que, com o tempo, faz com que os antibióticos percam o efeito elas. Funciona assim: a pressão seletiva do remédio faz com que apenas os organismos imunes a ela sobrevivam. São eles, então, que passarão os genes adiante, forçando a criação de medicamentos mais potentes.

Excluindo métodos alternativos (como a fagoterapia, que combate bactérias utilizando vírus especiais), não há muito como fugir do ciclo da resistência bacteriana. No entanto, o uso indevido e excessivo de antibióticos – além de sua utilização na agropecuária e a falta de saneamento básico – aceleram esse processo, o que pode trazer graves consequências no futuro.


Atualmente, a resistência bacteriana causa 700 mil mortes por ano. Mas um relatório do Reino Unido sobre o tema, lançado em 2014, fez uma previsão preocupante: em 2050, esse número pode chegar a 10 milhões de pessoas, superior doenças como o câncer (8,2 milhões).

A pesquisa analisa ainda que o impacto econômico do crescimento desse problema pode representar um queda de até 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial – algo em torno de US$ 100 trilhões.

No Brasil, o problema também já deu as caras. Há registros em diversos estados brasileiros de surtos de KPC, uma superbactéria que ataca em ambientes hospitalares (um dos mais propícios para o surgimento de organismos resistentes). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ela era a maior causa de infecções no sangue de pacientes de UTI no Brasil. Imune a diversos antibióticos, ela causa doenças como pneumonia e infecções generalizadas.

Como combater as superbactérias?

De maneira geral, o governo precisa implementar políticas de melhorias em saneamento básico, organizar campanhas de conscientização para a população e fiscalizar o uso de antibióticos na agricultura e pecuária. Mas, enquanto isso não acontece, médicos e pacientes podem seguir algumas recomendações.

“Acertar no antibiótico correto para cada tipo de infecção é extremamente importante”, disse Flávia Rossi, médica do Hospital das Clínicas de São Paulo e integrante de um grupo de vigilância sobre o fenômeno da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela explica que é preciso detectar qual é a bactéria causadora do problema o quanto antes para que seja usado o remédio adequado. “Vale dizer que existem bactérias ‘do bem’, que ajudam em certas funções do corpo e podem ser afetadas com um medicamento incorreto”, completa.

As doses indicadas pelos médicos são estabelecidas de acordo com a doença e devem ser seguidas até o fim para evitar que as bactérias voltem mais fortes. Em outras palavras, nada de interromper o tratamento, mesmo que você já esteja melhor.

Lembra da regra sobre o consumo de álcool? Ela tem uma explicação: bebidas alcóolicas são diuréticas – fazem com que você vá mais vezes ao banheiro. Só que urinar em excesso pode diminuir a concentração do remédio no sangue, atrapalhando o tratamento. Outra prática que pode interferir na dosagem correta é o hábito de cortar as pílulas ao meio. Sim, algumas são grandes e difíceis de engolir. Mas vale o esforço.





Fonte: Superinteressante



quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O preservativo que reduz as dst's!

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Com o objetivo de estimular o uso da camisinha, cientistas desenvolveram preservativos de látex que se autolubrificam quando em contato com fluidos corporais.

Além de promover maior conforto, dizem os pesquisadores, a inovação traria mais segurança aos usuários, já que a falta de lubrificação pode fazer com que a camisinha saia do lugar durante a relação.

Quando usada corretamente, a camisinha é um contraceptivo eficaz e protege contra doenças sexualmente transmissíveis - a questão é que nem todo mundo gosta de usá-la.

Em artigo publicado na revista acadêmica Royal Society Open Science, os autores dizem que esses problemas seriam resolvidos com o novo produto - cujo desenvolvimento foi patrocinado pela Melinda Gates Foundation, dedicada a pesquisas na área da saúde -, já que ele desliza melhor depois de entrar em contato com fluidos corporais.

A sensação maior de conforto, eles acrescentam, duraria até o fim da relação sexual.

Isso porque a camisinha é capaz de manter a textura por cerca de mil movimentos de penetração - em média, um ato sexual leva metade disso.

Outros preservativos, quando usados em conjunto com lubrificantes vendidos em embalagens, deslizam melhor no início, mas perdem a eficácia após 600 movimentos de penetração.

Um grupo de voluntários testou e deu notas às duas camisinhas, quanto à textura e deslizamento.

A maioria dos 33 homens e mulheres deu nota maior à camisinha que se autolubrifica.

"Não parece tão lubrificada quando você pega nela a seco, mas na presença de água e fluidos naturais, fica bem escorregadia. Só precisa de um pouco de fluido para ativar esse efeito", afirma o pesquisador Mark Grinstaff, da Universidade de Boston.

Os cientistas dizem que mais testes serão necessários para comparar o desempenho da camisinha autolubrificante na "vida real". Testes clínicos com casais devem começar no início do ano que vem, segundo Grinstaff.

Uma empresa ligada à Universidade de Boston planeja desenvolver o produto para venda comercial, mediante aprovação regulatória.

Conveniência
Nicola Irwin, da Queen's University, em Belfast, na Irlanda do Norte, é especialista em materiais de saúde de alta tecnologia. Ela diz que revestimentos "hidrofílicos" similares têm sido usados em cateteres urinários, para ampliar o conforto.

"Esses cateteres revestidos são, em geral, associados com uma aceitação maior que os cateteres sem revestimento ou outros dispositivos lubrificados a gel", afirmou Irwin, destacando que o cateter "hidrofílico" gera menor desconforto na inserção.

O objetivo da camisinha que se autolubrifica é garantir, além de conforto, mais segurança, já que a falta de lubrificação pode fazer com que o preservativo saia do lugar
Enquanto isso, pesquisadores da Universidade de Wollongong, na Austrália, têm usado hidrogel firme para fazer camisinhas autolubrificantes, em vez de látex e borracha. O resultado é um preservativo com uma textura mais parecida com a pele.

"Nós damos boas-vindas a inovações que encorajam o uso de camisinha, que é o único método contraceptivo que também ajuda a proteger contra DSTs. Então é importante que as pessoas se sintam confiantes e confortáveis ao usá-la", afirma Bekki Burbidge, da ONG FPA, voltada à saúde sexual.

"Lubrificação pode deixar o sexo mais confortável e proveitoso, então encorajamos que as pessoas a tentem diferentes tipos de lubrificantes à base de água, assim como diferentes tipos, tamanhos e texturas de camisinhas para encontrar as que melhor se adaptam elas a e que garantem maior prazer sexual."

Erros comuns no uso de camisinhas
- Produtos à base de óleo, inclusive alguns cremes de mão, podem danificar camisinhas de látex - portanto, é importante evitá-los. Use lubrificantes à base de silicone ou água.

- Nunca reutilize uma camisinha

- Tenha cuidado ao guardar as camisinhas, porque elas podem ser facilmente danificadas, especialmente se mantidas na carteira, bolso ou bolsa.

- Cheque a data de validade

- Quando colocar uma camisinha, é importante apertar a ponta para se livrar de qualquer resquício de ar. Se você não fizer isso, o preservativo pode romper.








Fonte : Michelle Roberts





segunda-feira, 15 de outubro de 2018

HPV - Como foi descoberto esse vírus?


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No Brasil, o câncer de colo de útero é o terceiro mais frequente entre as mulheres e o quarto que mais mata. Ele é causado pelo HPV

Em junho de 1991, o imunologista escocês Ian Frazer voltou para casa animado.

"Eu disse a minha esposa que descobrimos algo no laboratório que, um dia, poderia ser muito útil", contou o médico à BBC News. E ele estava certo.

A descoberta seria o início de um processo que mudou a prevenção de um dos tipos mais letais de câncer para mulheres.

Frazer era professor da Universidade de Queensland, na Austrália, e estudava o HPV, que causa o câncer de colo de últero.

O que é HPV?
HPV é a sigla em inglês para papilomavírus humano. São vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas oral, genital ou anal, tanto de homens quanto de mulheres - provocando, segundo o Ministério da Saúde, verrugas na região genital e no ânus, além de câncer, a depender do tipo de vírus.

Dos mais de 150 tipos diferentes do vírus, 13 são considerados de alto risco, podendo causar, além dos tumores cervicais, câncer de ânus, vulva, vagina e de pênis.

Altamente contagioso, muitas vezes assintomático e sem cura, ele é transmitido principalmente durante a relação sexual sem proteção e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o vírus sexualmente transmissível mais comum.

"Aproximadamente 8 em cada 10 pessoas contrairão esse vírus em algum momento de suas vidas", segundo a ONG britânica Cancer Research, dedicada à pesquisas sobre a doença.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde divulgados em 2017 mostram que a prevalência do vírus na população é de 54,6% - sendo que 38,4% apresentaram HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer.

O HPV é responsável por 99% dos casos câncer de colo de útero. É o terceiro mais frequente entre as mulheres no país, o quarto que mais mata - e um dos poucos que podem ser prevenidos com vacina.

O organismo da maioria das pessoas combate o vírus e muitos nem chegam a saber que foram contaminados.

Para alguns, no entanto, as consequências dele podem ser fatais.

A caminho da vacina
Em 1989, Frazer estava em um período sabático na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e lá conheceu o cientista chinês Jian Zhou, que também estava interessado em pesquisas sobre o HPV.

Ele então o convidou para trabalhar em seu laboratório na Universidade de Queensland, na Austrália. Seu objetivo? Tentar encontrar uma vacina para o vírus.

Mas eles esbarraram em um problema fundamental.

Ao contrário da maioria dos vírus, o HPV não pode ser replicado em laboratório. E esse processo é essencial para desenvolver uma vacina.

Eles decidiram então superar o obstáculo de uma jeito muito especial: usando técnicas de engenharia genética para tentar copiar o vírus.

O HPV é responsável por 99% dos casos câncer de colo de útero e um dos poucos que podem ser prevenidos com vacina
Eureka!
Assim começou um meticuloso trabalho de pesquisa e experimentação que durou meses.

A lógica era que, se conseguissem replicar a camada externa do vírus, e se ela fosse idêntica à original, o organismo a identificaria e o sistema imunológico reagiria eliminando o vírus.

Dessa maneira, se no futuro a pessoa fosse infectada pelo HPV, o corpo o reconheceria e o eliminaria, impedindo assim que o vírus pudesse causar o câncer de cólo de útero.

"Nós tentamos 20, 30 vezes, até que finalmente conseguimos. A aparência do vírus que criamos era a do HPV. E isso nos deixou muito animados. Se uma vacina podia ser desenvolvida, aquela era a maneira de fazer", diz o imunologista.

Os cientistas patentearam a descoberta e, logo depois, empresas farmacêuticas começaram a contatá-los.

Sucesso e efetividade
A indústria americana Merck foi quem reproduziu em laboratório o que Frazer e Zhou fizeram.

Levaria anos, no entanto, até a vacina poder finalmente ser comercializada. A primeira versão, que contou com contribuições inovadoras de outro grupo de cientistas nos Estados Unidos, se concentrou em 2/3 dos tipos de HPV que causam o câncer de colo do útero.

Mais de 100 variedades foram identificadas, mas ao menos 13 estão associadas à doença, de acordo com a OMS.

Os estudos clínicos foram concluídos em 2001 e incluíram 6 mil mulheres que foram vacinadas e ficaram sob supervisão médica por 2 anos. A eficácia foi de 100%.

Como o vírus é transmitido através de relações sexuais e a vacina funciona naqueles que não contraíram a infecção, o momento ideal para a imunização é na infância, antes que a pessoa seja sexualmente ativa.

Os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças recomendam a aplicação de duas doses para meninos e meninas entre 11 e 12 anos.

Imunização no Brasil
No Brasil, desde 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente a vacina contra o HPV para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.

A indicação para esse grupo está relacionada a sua maior capacidade imunológica de desenvolver anticorpos: estudos sobre a eficácia da vacina em diferentes grupos etários mostraram que a resposta imunológica do organismo é mais alta na pré-puberdade. Por isso, a imunização em massa é para essa parcela da população, e não em adultos.

A vacina também é distribuída gratuitamente pelo SUS e é indicada para pessoas portadoras do vírus HIV e pessoas transplantadas na faixa etária de 9 a 26 anos. Para aqueles acima dessa idade, é necessário se vacinar na rede privada.

Outras formas de prevenção do vírus, porém, são importantes.

Entre elas estão o exame preventivo contra o HPV, o papanicolau - um exame ginecológico que não é capaz de diagnosticar a presença do vírus, mas é considerado o melhor método para detectar câncer de colo do útero e suas lesões precursoras.

Outra forma é o uso de camisinha masculina ou feminina nas relações sexuais. "Essa é outra importante forma de prevenção do HPV. Contudo, seu uso, não impede totalmente a infecção pelo HPV, pois, frequentemente as lesões estão presentes em áreas não protegidas pela camisinha (vulva, região pubiana, perineal ou bolsa escrotal)", diz o Ministério da Saúde em texto publicado no site








Fonte : BBC Brasil






domingo, 7 de outubro de 2018

Corrupção - Porque ela é tão arraigada no Brasil ?

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Ela existe em qualquer país, sob qualquer forma de governo, em qualquer instituição. É impossível exterminá-la, mas colocar rédeas nela é mais fácil do que parece. Saiba como.

Nada de floreios, brados moralistas ou frases de efeito de WhatsApp no estilo ”Por mais ética na política”, ”Por um Brasil melhor para os nossos filhos”, ”Vamos acabar com a corrupção”. Tampouco vale sacar velhos chavões para naturalizar a corrupção no País,  do tipo ”O brasileiro é corrupto por natureza”, ”A corrupção é um traço do Brasil desde o descobrimento”.

Corrupção faz, sim, parte da nossa história. Como faz parte também da história dos Estados Unidos, do Japão, da Suécia e de Cingapura – que, nas últimas cinco décadas, deixou de ser apontada como um dos países mais corruptos do mundo para se tornar um dos menos.


Da Grécia Antiga, quando o termo surgiu ligado à ideia de putrefação do corpo político, até hoje, referente ao uso de cargos públicos para ganhos privados, a corrupção faz parte da história de todos os países. O que muda, em cada caso, é a maturidade com que cada povo lida  com o problema.

Nesse quesito, convenhamos: a reação de boa parte dos brasileiros parece a de um adolescente bipolar. De um lado, indignação crescente diante de revelações diárias de bilhões de reais em recursos públicos desviados para favorecer empresas e partidos políticos. Do outro, certo cinismo, descrença e até uma convivência pacífica – muitas vezes complacente – com indivíduos e empresas que se beneficiam desses acordos. ”O controle da corrupção não pode ser travado nem com moralismo nem com cinismo”, diz o historiador da Unicamp Leandro Karnal. ”Brasília não é um mundo paralelo colonizado por extraterrestres, é um espelho da nossa sociedade.”.

Ou seja, para combater a corrupção, o primeiro passo é ter maturidade para deixar de vê-la apenas como algo distante, sempre relacionado ao outro. Mesmo assim fica a pergunta: será que a corrupção é uma marca da nossa formação? Vejamos.


Ainda no século 19, numa cidade do Nordeste, o prédio do tribunal demorou 20 anos para ser inaugurado. O superfaturamento foi tão grosseiro que um carpinteiro chegou a receber o equivalente a US$ 5 milhões em dinheiro de hoje por 30 dias de serviço. Outro trabalhador, responsável pela argamassa, recebeu atuais US$ 2 milhões por dois dias de serviço. Quando finalmente foi inaugurado, em 1881, o Tribunal do Condado de Nova York, no nordeste dos Estados Unidos, terminou custando o dobro do valor que o país pagara na compra do Alaska. À época, os desvios foram comandados por um dos mais corruptos e populares políticos da cidade, William M. Tweed, ou ”chefe Tweed” – no filme Gangues de Nova York, de Scorsese, é ele quem dá guarida ao açougueiro criminoso interpretado por Daniel Day-Lewis.

Das gangues de Tweed, no século 19, à renúncia de Richard Nixon, no século 20, os Estados Unidos sabem que a corrupção está sempre à espreita do poder – que o diga Francis Underwood, o inescrupuloso político de House of Cards, a série do Netflix. Nem por isso boa parte dos cidadãos de lá vive repetindo, como se ouve no Brasil, que a corrupção é uma espécie de marca genética do país desde a colonização. ”Culpar a herança da burocracia colonial pelos casos de corrupção atual no Brasil é apenas uma forma de jogar para o passado os pecados do presente”, diz o historiador americano Stuart Schwartz, professor de Yale e autor de Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial. Como ficariam, então, as teses clássicas do Estado patrimonialista brasileiro (modelo em que o público e o privado se confundem), difundidas em obras como Os Donos do Poder, do jurista Raymundo Faoro, para quem o Estado e a sociedade no Brasil evoluíram separadamente?

”A ideia de Faoro de que o governo era sempre algo separado da sociedade brasileira encobre o fato de que o Estado representava, sim, interesses da sociedade, ainda que não de todos os grupos”, diz Schwartz. Para outros pesquisadores, interpretações simplistas dessa tese tornaram-se, com o tempo, muletas anacrônicas para não nos responsabilizarmos por nossas escolhas. ”Basta olhar para o Congresso para constatar que Brasília reflete muito bem, sim, a nossa sociedade”, diz Leandro Karnal. ”Estão lá evangélicos, empresários, sindicalistas, enfim, de Jean Wyllys a Bolsonaro, de Ronaldo Caiado a Luciana Genro, há tipos ideais de todos os segmentos da sociedade.” Para Karnal, a ideia de que, de um lado, existe um Brasil corrupto, de gente atrasada, ”da qual eu não faço parte”, é apenas um pretexto da sociedade de expiar seus demônios para longe, negando que a corrupção faz parte de uma rede ampla – e bem mais próxima do que se imagina.

Na mesma Avenida Paulista, em que milhares de pessoas protestaram contra a corrupção, estão localizados escritórios de empresas envolvidas na Lava Jato, incluindo as acusadas de formar um cartel que combinavam entre si a apresentação de propostas superfaturadas à Petrobras – por meio de propinas ou doações de campanha ao PT e aliados. Juntas, Odebrecht, OAS, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Promom, Mendes Júnior, UTC Engenharia, Queiroz Galvão, GDK,  Skanska, Techint, Setal, Grupo MPE, IESA, Grupo Engevix e Galvão Engenharia têm uma folha de funcionários de quase um milhão de pessoas.

 Rotular de corrupto os milhares de trabalhadores dessas empresas seria um erro semelhante ao de tachar todos os funcionários públicos de Brasília com o mesmo selo. Por outro lado, isso também deixa claro o quanto a corrupção está próxima da gente. Pense na rede de familiares e amigos desse milhão de pessoas e já temos uma parcela considerável da população brasileira. E isso tomando um único caso de corrupção, ainda que mastodôntico. 

De qualquer forma, vale também outro raciocínio aqui: se a participação dessas empresas pode ser justificada como mais um indício da nossa ”herança patrimonialista”, o que dizer, então, de multinacionais como a alemã Siemens, a japonesa Mitsui, a canadense Bombardier, a francesa Alstom, a espanhola CAF, entre outras envolvidas no cartel para as obras da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPMT), em São Paulo? ”De fato, a corrupção não é ‘privilégio’ do brasileiro e muito menos está em seu ‘DNA”’, diz Bruno Brandão, consultor no Brasil da Transparência Internacional, maior organização global de combate à corrupção, com sede em Berlim. ”Na verdade, ela aparece sempre que se produzem condições para sua ocorrência, mesmo nos países mais desenvolvidos.”.

Bruno lembra que, até poucos anos atrás, a Alemanha e a França chegavam a conceder incentivos fiscais para a prática de suborno internacional a suas multinacionais. As empresas podiam deduzir do imposto de renda os chamados ”gastos de facilitação”, suborno pago a autoridades em países onde tinham ou pretendiam ter negócios. ”Após muita pressão da Transparência Internacional e de outras entidades, a União Europeia estabeleceu uma regulação eliminando a prática que, combinada a outras medidas coercitivas, teve um grande impacto na redução desse tipo de corrupção”, diz o consultor. Mas como medir, de fato, se a corrupção de um país aumentou ou diminuiu?   

O banco mundial estima que, só em subornos, são gastos mais de um US$ 1 trilhão anuais no mundo – quase metade do nosso PIB. Mesmo assim, é impossível saber com precisão o real fluxo de recursos que vai para corrupção. A Transparência Internacional, então, criou o chamado Índice de Percepção da Corrupção. Ele é feito anualmente com base em pesquisas de organizações, como o próprio Banco Mundial, e entrevistas com diversos grupos (jornalistas internacionais, acadêmicos, diplomatas), para avaliar o grau de percepção da corrupção de um dado país. Com base nessas informações, os países são pontuados de zero (totalmente corrupto) a 100 (completamente limpo)

Corruptos

Claro que esses extremos são só uma referência. No ranking para valer, Somália e Coreia do Norte dividem a 174ª (e última) posição, com 8 pontos. E a Dinamarca lidera, com 92.   

Como o Brasil aparece ali? Com medíocres 43 pontos, na 69ª posição ao lado de Suazilândia, Bulgária, Grécia… Quando se olha apenas para a América do Sul, no entanto, nossa situação relativa parece menos vergonhosa. Ficamos em terceiro, à frente de oito países – graças ao mau desempenho de nações como Colômbia (com 37 pontos), Argentina (com 34 pontos) e Venezuela (19 pontos).

Ainda que seja possível detectar uma clara correlação entre pobreza e corrupção no índice, ela não é absoluta: a Itália divide a 69ª colocação com o Brasil, enquanto Uruguai e Chile (73 pontos) superam Áustria (72), França (69) e Coreia do Sul (55).  Mas talvez o dado mais curioso do índice seja outro: a constatação de que ideologia ou presença do Estado na economia não parece ter nenhuma relação direta com a corrupção. O índice mostra uma boa pontuação tanto para berços do liberalismo, como o Reino Unido (78), quanto para todos os países da Escandinávia, conhecidos pela forte presença do Estado e alta carga tributária. ”Com amplo setor público e governo intervencionista, a Suécia possui todas as características que, segundo a teoria econômica convencional, deveriam tê-la transformado em uma sociedade corrupta”, diz Cláudia Varejão, jornalista brasileira radicada na Suécia e autora do livro  Um País Sem Excelências e Mordomias. ”Até pela alta carga tributária, os suecos exigem acesso rápido à prestação de contas dos gastos dos políticos com o dinheiro do contribuinte”, ela completa. Duas vezes por ano, o país divulga listas dos investimentos privados de todos os ministros do governo, incluindo o nome dos fundos e dos bancos das aplicações. Um grau de tranparência que, para os nossos padrões, chega a ser ofuscante. Mas nem sempre a transparência resolve. É o que acontece com um dos maiores vetores de corrupção no mundo: o financiamento de campanhas.

O seu voto vale a mesma coisa que o de alguém que doou milhões de reais para o mesmo candidato? Provavelmente não. Esse desequilíbrio cria o que alguns analistas chamam de corrupção legal, ou corrupção institucional, aquela exercida estritamente dentro da lei. Um dos maiores propagadores desse conceito é o jurista americano Lawrence Lessig, professor de  Harvard. Lessig mostra que, nos EUA, 0,5% de superdoadores de campanhas são responsáveis por mais de 60% do financiamento arrecadado nas primeiras fases da eleição – o que inviabiliza candidatos que não são bons na captação de recursos.

O resultado, segundo o pesquisador, é a paralisação de basicamente qualquer projeto de lei que ameace os interesses desses doadores. No Brasil, algo semelhante vem acontecendo há algum tempo. De acordo com dados da Transparência Brasil, 7% das empresas doadoras concentraram 64% do financiamento de campanha nas eleições de 2010 (que consumiram quase meio bilhão de reais em doações, diga-se).

A não existência de almoço grátis também se manifesta aqui, lógico. E a conta aparece em escândalos como a Lava Jato: ”Não existe doação de campanha. São empréstimos a serem cobrados posteriormente, com juros altos, dos beneficiários das contribuições quando no exercício do cargo”. Quem disse isso, veja bem, não foi nenhum cientista político, mas um corrupto confesso: o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, em delação premiada à Polícia Federal.
 
Apesar de não haver consenso quanto à melhor  forma de acabar com esse toma-lá-dá-cá, nenhuma entidade de combate à corrupção discorda de que é preciso, sim, diminuir o peso das contribuições privadas. Algumas delas, como a Transparência Internacional, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e a Ordem dos Advogados do Brasil defendem a total eliminação de doações de empresas privadas, além de pedirem contenção nos gastos de campanha. ”Com limites estritos, ficará muito mais fácil o controle, pois será evidente para a própria população quando um candidato gastar demais”, diz Bruno Brandão, da Transparência Internacional.

Tirar as empresas da jogada, porém, não impediria que os próprios donos das companhias fizessem doações vultosas como pessoa física mesmo. Quem tem uma ideia de como impedir isso é Lawrence Lessig. Ele defende que cada cidadão de um país ganhe um ”vale” – de R$ 100, por exemplo. E aí decida para qual candidato vai doar seu vale. O Estado, então, banca as campanhas conforme a quantidade de vales que cada candidato recebe. Em tese, isso deixaria um Jorge Paulo Lemann da vida em pé de igualdade com o  Zé da esquina. A Transparência Brasil, porém, acredita que nenhuma proibição nessa linha possa funcionar a contento, porque o fluxo de doações/empréstimos continuaria por debaixo dos panos. Aí pior ainda: não teríamos mais registro das doações – informação crucial hoje para que, ao menos, seja possível checar o quanto um político pode ter sido ”balançado” por elas. ”Acreditamos que o mais eficaz seria estabelecer um teto menor de doação, com base em um valor nominal, e não na porcentagem de 2% do faturamento, conforme permite a legislação atual, responsável por todo esse desequilíbrio”, diz Natália Paiva, diretora da Transparência Brasil.

É fácil entender de qual desequilíbrio ela fala: se você trabalha em uma pequena ou média empresa, 2% do faturamento parece uma porcentagem bem razoável, certo? Mas, digamos agora que você trabalha na JBS, dona da marca Friboi, que faturou em 2014 mais de R$ 120 bilhões. Na prática, isso significa que seu patrão poderia doar a partidos e candidatos quase R$ 2,5 bilhões de reais. A JBS não chegou a tanto, mas nem ficou tão longe: doou R$ 366 milhões a políticos nas eleições de 2014, o que a transformou oficialmente na maior doadora do País. Por outro lado, ela também é a recordista em receber dinheiro do governo. O BNDES injetou R$ 7,5 bilhões na Friboi nos últimos anos, na forma de empréstimos e de compra de ações. Coincidência?


Mas vale lembrar que tanto a JBS quanto outros megadoadores não podem ser confundidos com as empreiteiras da Lava Jato. Eles não estão corrompendo a lei – ainda que a lei, ao liberar doações nababescas, ofereça a grande brecha para que o interesse privado do doador fique acima do interesse público, o do eleitor. Mesmo assim, para a maioria dos analistas, a aprovação de uma reforma política que limite doações não teria força no combate à corrupção. Não sozinha. ”É preciso fortalecer e reformar os órgãos de controle, tais como os Tribunais de Contas e as controladorias, assim como o Poder Judiciário”, diz Bruno Brandão, da Transparência Internacional.

O caso dos Tribunais de Contas talvez seja o mais exemplar de um órgão de controle que, na prática, pouco controla.  Como dois terços dos seus conselheiros são indicados por deputados e a Constituição é pouco exigente quanto à sua pré-qualificação (basta ter vagos ”notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, financeiros ou de administração pública”), não faltam por lá ex-políticos julgando as contas de parentes, de aliados e até de inimigos. Um levantamento realizado em 34 Tribunais de Contas pela Transparência Brasil em 2014 indica que, de cada dez conselheiros, seis são ex-políticos, dois sofrem processos na Justiça ou nos próprios Tribunais de Contas e 1,5 é parente de algum político local. 

Assim como ocorreu  em outros países, no entanto, não será nem no Legislativo nem no Executivo que se dará a batalha contra a corrupção no Brasil. ”É o Judiciário que decide, afinal, se haverá ou não impunidade”, diz a professora de Ciência Política da USP, Maria Teresa Sadek. ”Por isso mesmo, instituições como o Conselho Nacional de Justiça, que estão promovendo uma mudança institucional e de cultura nos Tribunais, precisam ser cada vez mais fortalecidos.”.

Mudança de instituições e de cultura: essa dobradinha tem sido a principal receita de países que decidiram enfrentar a corrupção.  ”Quando as instituições garantem regras válidas para todos, ninguém se sente ‘otário’ por segui-las”, diz o filósofo Mario Sergio Cortella, coautor de Política, Para Não Ser Idiota. No Brasil, porém, a diferenciação começa dentro da própria Justiça. De acordo com a lei da magistratura, por exemplo, juízes têm direito a 60 dias de férias (sem contar os recessos que podem adicionar mais 15). Além disso, a mesma lei prevê que a maior punição administrativa aplicável a um juiz pelo mau exercício da função é uma simples aposentadoria compulsória – e sem perda dos vencimentos. Ou seja: um juiz corrupto pode até entrar em depressão pela perda do cargo, mas não deixará de receber seus salários pagos pelo contribuinte a menos que venha depois a ser condenado por processo penal – e mesmo assim não vai ficar em cela comum, com os outros presos.

Ainda que tudo esteja dentro da lei, essa cultura de privilégios é um dos principais entraves ao combate à corrupção. Se um cidadão sabe que um político ou magistrado conta com uma série de privilégios (como a imunidade parlamentar), por que se arriscaria a sofrer represálias denunciando uma autoridade corrupta? ”Mesmo aqueles que consideram a corrupção algo moralmente condenável são propensos a participar do esquema, uma vez que todos os ‘outros’ participam do jogo”, afirmou o cientista político Bo Rothstein, da Universidade de Gotemburgo, no livro de Cláudia Varejão. Ele lembra que, diferentemente do que muita gente imagina, a Suécia já foi marcada por subornos, e que os contatos privilegiados eram mais importantes do que as leis. Em meados do século 19, contudo, uma série de reformas detonou o que ele chama de ”Big Bang Institucional” – quando os cidadãos perceberam que as instituições se tornaram imparciais, a população foi mudando de comportamento. A boa notícia é que, como lembra o cientista político sueco, embora a corrupção tenha, sim, características culturais, ela não é culturalmente determinada.

Ou seja: quanto mais imparciais, transparentes e eficientes forem as instituições, menos espaço existirá para a cultura do jeitinho brasileiro. Só cuidado para não confundir ”eficiência” com ”braço forte”, no sentido militar da coisa. Intervenções militares descabam em ditaduras militares, como aconteceu por aqui mesmo. E ditaduras são exatamente o contrário de transparência. Regimes assim destroem a liberdade de imprensa, tornam suas instituições mais opacas, menos permeáveis à fiscalização e, consequentemente, mais propensas ao crime, conchavo e ao favorecimento político.

Como dizia o pensador italiano Norberto Bobbio, escândalo é apenas a corrupção que vem a público. Em sociedades pouco transparentes, claro, pode até não proliferar escândalos – mas há quase sempre muita corrupção. Que o diga a China. A estimativa é que 15 mil membros do Partido Comunista tenham fugido do país nos últimos 2o anos, levando o equivalente a R$ 400 bilhões ”na cueca”. 

A atual encarnação da democracia brasileira, enfim, é jovem, mas nem tanto. Aos 26 anos de idade, já é hora de ela provar que tem maturidade para exigir as reformas necessárias (inclusive nas ruas, quando necessário) e combater a cultura da corrupção como gente grande – sem tutela de generais, líderes populistas ou bonecos fabricados por marqueteiros políticos. Que transparência, no Brasil, deixe de ser só uma característica dos copos de cristal com que empresários e políticos celebram acordos nebulosos.











Fonte : Superinteressante









domingo, 12 de agosto de 2018

Diabetes - Legado da Poluição?


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Se você é sedentário, obeso ou não abre mão de sempre comer doce e alimentos gordurosos, certamente está mais propenso a se tornar diabético. Caso viva em uma cidade grande, pior ainda. Um estudo da Universidade de Washington, publicado no fim de junho na revista científica The Lancet Planetary Health, estima que, em 2016, a poluição contribuiu para 3,2 milhões de casos de diabetes no mundo.

Para fazer essa associação os cientistas acompanharam, durante oito anos e meio, nada menos do que 1,7 milhão de americanos, todos sem histórico da doença. As informações foram cruzadas com dados da Nasa e da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) sobre a qualidade do ar. E, para encontrar o elo com o diabetes, os estudiosos focaram nas partículas PM 2,5, emitidas pelos motores de carros e por usinas termelétricas, por exemplo.

Sabe-se que, ao serem inalados, esses poluentes chegam ao pulmão e caem na corrente sanguínea. Com isso, passam por vários outros órgãos, como o pâncreas, responsável pela liberação de insulina. Isso prejudica a produção desse hormônio, que faz a absorção do açúcar no organismo. Como consequência, mais glicose se acumula no sangue – o que, a longo prazo, leva ao diabetes. “Notamos que isso vale mesmo para níveis de poluição considerados seguros pela EPA e pela OMS [Organização Mundial da Saúde]”, diz o principal autor do estudo, Ziyad Al Aly.

De acordo com a investigação, a população de países de baixa renda – como Índia, Afeganistão e Papua Nova Guiné – têm maior probabilidade de desenvolver a doença devido à falta de políticas ambientais. Já os habitantes de nações como França, Finlândia e Islândia estão bem menos expostos a esse fator de risco.








Fonte: Luiza Monteiro/Super





sábado, 21 de julho de 2018

Como surgiram os primeiros "santos católicos "!

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“It’s hard to be a saint in the City” (“É difícil ser um santo na cidade grande”) cantava Bruce Springsteen em seu álbum de estreia, comentando o ambiente profano da Nova York dos anos 1970, com seus cafetões, apostadores e luxúria. “Quanto mimimi”, responderiam homens e mulheres de 2 mil anos atrás, que tiveram um bocadinho a mais de provações que o cantor americano para viver a experiência da santidade. Pois dureza mesmo era ser um santo no cristianismo primitivo, de raiz, aquele que se desenvolveu nos primeiros séculos d.C. O próprio ato de se assumir cristão na época já era uma decisão com mau prognóstico: implicava o heroísmo dos que se apresentam dispostos a morrer.

Diferentemente do que se vê hoje, quando os seguidores de Cristo estão na dianteira entre as religiões do mundo – com 2,2 bilhões de pessoas contra 1,6 bilhão de muçulmanos –, naqueles tempos eles formavam uma espécie de contracultura em oposição aos valores do Império Romano. Aos olhos das autoridades, a recusa dessa minoria em demonstrar devoção por deuses como Júpiter, Minerva e Apolo parecia coisa de traidor do Estado, alguém que contrariava a virtude cívica. Por isso, os que tinham fé naquele judeu que morreu num madeiro não eram exatamente bem-vindos.

Mas só começaram a ser perseguidos mesmo quando Nero lhes transferiu a responsabilidade pelo grande incêndio de Roma (64 d.C.) – que, na verdade, levava a assinatura do próprio imperador. Isso gerou uma onda de má vontade generalizada contra a nova seita, e todas as culpas imagináveis
começaram a pairar sobre os malfadados pioneiros da cristandade. Como disse o autor cartaginês Tertuliano (160 – 220): “Se o Tibre transbordou, se o Nilo permaneceu em seu leito, se o céu tem estado calmo, ou a terra em movimento, se a morte andou devastando, ou a fome trouxe seus tormentos, o grito imediato é ‘cristãos aos leões!’”.

Mesmo com tudo jogando contra, essa onda cristã – que começara em Jerusalém, com os apóstolos de Jesus – logo se espalhou na forma de comunidades da parte oriental do império, na Grécia e nas atuais Turquia e Síria, até chegar à própria Roma. O avanço rápido é creditado a Paulo de Tarso (futuro São Paulo), um perseguidor implacável de cristãos que teria presenciado uma epifania e se convertido, tornando-se não apenas o maior relações públicas da nova seita, como seu principal gestor. “Ele articulava ideias complexas e lidava bem com as palavras”, explica o historiador Geoffrey Blainey, professor da Universidade Harvard e autor de Uma Breve História do Cristianismo. “Estava disposto a viajar, pagando as despesas, para locais distantes aonde a mensagem cristã tivesse chegado e pudesse espalhar-se.” Quando acabou preso por incitar essas ideias subversivas, Paulo encarou a morte com a altivez que se espera dos santos. Na véspera de sua execução, teria dito: “Lutei o bom combate, terminei a carreira, mantive a fé”.

Entre o primeiro século da cristandade e o Édito de Tolerância (311 d.C.), do imperador Constantino, os maus-tratos aos cristãos variaram em quantidade e intensidade. Foram esporádicos e localizados até o período conhecido como o das Grandes Perseguições, entre os séculos 3 e 4 – quando a repressão foi sistematizada e aplicada em todo o Império Romano, nos governos de Valeriano e Diocleciano. Não que antes já não houvesse ferocidade no tratamento. As torturas reservadas aos primeiros seguidores de Cristo fariam Guantánamo parecer uma clínica de acupuntura.

Um exemplo: Inácio de Antioquia (35 – 108), importante teólogo do cristianismo primitivo, foi o primeiro cristão devorado por leões no Coliseu de Roma – um circo sádico dos horrores, que mesclava punição bárbara com espetáculo para a plateia. Crucificação, claro, também fazia parte do portfólio; não parou em Jesus de Nazaré. O aposóstolo Pedro teria morrido numa cruz de cabeça para baixo, e  André, também apóstolo, numa cruz em formato de “X”. Já o diácono Lourenço de Huesca (225 – 258) foi condenado a virar churrasco. Mesmo. Os algozes construíram uma espécie de grelha disposta em cima de brasas e colocaram o cristão ali, para torrar até a morte. Diz a lenda que São Lourenço teria encarado o martírio com bom humor, dizendo aos seus carrascos: “Este lado do meu corpo já está bem assado, podem me virar agora”.


Rituais secretos

O que os romanos não suspeitavam é que essa mesma violência abriria caminho para que os cristãos tivessem seus primeiros ídolos além de Jesus. “Sanguis Martyrum est semen Ecclesia”, diria Tertuliano – “o sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Tantos assassinatos por intolerância religiosa fizeram com que as comunidades cristãs passassem a descrever em texto as circunstâncias daquelas mortes. E a ideia era enviar esses relatos para que fossem lidos em voz alta – pelos raros letrados – em outros grupos de cristãos. Era uma forma de dar a esses mortos status de heróis – uma inspiração que produzia comprometimento. O Martírio de Policarpo, um relato do século 2 que tratava da morte de um bispo, já vinha com reflexões teológicas, fazendo uma analogia entre o sacrifício do personagem e o de Jesus, o modelo de todo comportamento justo. O passo seguinte seria a veneração daqueles que seguiram o exemplo do Cordeiro de Deus.

Um costume que logo ficou estabelecido foi dar atenção especial aos restos mortais dos mártires – quando sobrava alguma coisa dos seus corpos. Enterravam em locais que pudessem servir de ponto de encontro, para uma celebração anual do martírio dessas pessoas. Eram cemitérios secretos ou, quando em Roma, catacumbas – galerias subterrâneas, inacessíveis ao olhar dos perseguidores. Quanto mais os romanos torturavam e matavam cristãos, mais o calendário comemorativo aumentava – e eram confraternizações repletas de rituais. “As cerimônias de veneração nos túmulos dos mártires incluíam leituras, salmos e orações, e, possivelmente, a celebração da Eucaristia [aquele momento da missa em que o padre oferece a óstia ao fiel, representando o corpo de Cristo]”, aponta o teólogo Lawrence S. Cunningham, professor da Universidade de Notre Dame (EUA). Ao término do período das perseguições, esses ritos de veneração aos mártires já estavam consolidados entre as comunidades cristãs. Igrejas eram construídas em cima do pedaço de chão em que seus heróis estavam enterrados, locais que passaram a ser vistos como terra sagrada.

Quando o "cristianismo", finalmente, se tornou a religião número um do Império Romano, no século 4, as preces e as liturgias junto aos túmulos dos mártires já eram vistas como uma boa estratégia para se conseguir uma ajudinha dos céus – pedir auxílio aos mortos começava a cair no gosto da cristandade. Aqueles sacrificados pelo testemunho da fé, imitações próximas da virtude de Jesus, seriam mais do que exemplos de vida e de morte. Eram intermediadores do acesso ao poder de Deus. Supercristãos.


O paradoxo eremita

Por volta do ano 320, um número crescente de cristãos de regiões da Síria ou das proximidades do Rio Nilo deixavam seus povos para viver isolados – nas florestas ou no deserto, em cavernas ou cabanas simples. Aí passavam a se alimentar de vegetais crus ou de um pão doado por um admirador condoído – desde que o isolamento não fosse a quilômetros de qualquer possível doador – e viviam na mais completa penúria. As horas de seus dias se resumiam à prece, à contemplação e à tênue subsistência. Esses indivíduos, igualmente tocados pela fé cristã que movia os mártires, abdicavam dos objetivos comuns dos homens – paixões, família, a garantia de um prato quente à mesa, um banho –, para que nada os distraísse da prática religiosa. Ou mais do que isso: eles queriam atingir a perfeição espiritual. Uma busca que não passou despercebida: os eremitas começaram a ser vistos como seres iluminados, prováveis fontes de sabedoria profunda – ou capazes de uma cura milagrosa. Passaram à condição de celebridades, o oposto do que pretendiam.

No Egito, um expoente do eremitismo cristão – dos chamados “Padres do Deserto” – foi Antão, o Anacoreta, que teve sua história contada em 360 pelo teólogo Atanásio de Alexandria. Essa biografia, Vida de Santo Antão, tornou-se um clássico da literatura cristã, e teve o impacto de um mar se abrindo para um segmento da cristandade, inspirando uma produção volumosa de outros escritos – muito populares, inclusive – sobre a santidade dos eremitas, elevados a modelos da fé cristã. E havia cada eremita esquisito… São João Crisóstomo teria passado anos rastejando como um animal, para expiar seus pecados. São Simeão construiu uma coluna de pedra da altura de um prédio de seis andares, onde teria vivido exposto às intempéries por 37 anos. E lá de cima pregava para uma multidão de admiradores.

Outros decidiram optar por um isolamento light, excluindo-se da vida social, mas morando em comunidades de monges e freiras – ainda que em condições espartanas, em silêncio e com o mínimo contato com outras pessoas. Diferentemente do “cada um por si” dos eremitas hardcore, esses viviam em estruturas organizadas, seguras contra o ataque de feras ou de bandidos, e obedecendo a uma hierarquia, que tinha em seu topo a figura do abade. Eram os primeiros mosteiros da história.

Mas será que a veneração aos eremitas fazia sentido? Afinal, o que a experiência do ermitão teria a ver com os exemplos de Cristo? A despeito de seus 40 dias em jejum no deserto, Jesus preferiu passar todo o resto de sua existência conhecida bem acompanhado. Dedicava-se a ensinar e a discutir, o que também exigia gente em volta. E não há registro de que tenha defendido a mortificação em vida – pelo contrário, transformou água em vinho. Jesus queria levar a palavra de Deus aos povos, e seria completamente inviável fazê-lo escondido numa caverna a quilômetros do ser humano mais próximo. Há um outro ponto de vista, porém.

Assim como os primeiros indivíduos sagrados do cristianismo, que suportaram a tortura romana para confirmar sua fé, o asceta, em suas privações extremas, era ele também um mártir. E de um tipo muito especial: alguém que não experimentou o martírio apenas na iminência da morte, mas em todos os dias de sua vida. Ponto para os ermitões.

Foram esses homens e mulheres, os primeiros santos da Igreja Católica. Séculos antes da existência de uma canonização formal, o culto a eles já era indissociável das práticas cristãs. Brotou com o martírio de ex-soldados romanos convertidos e de judeus arrebatados pela história de Jesus, e encorpou com os relatos – muitas vezes extravagantes – dos eremitas. Uma adoração que a Igreja viria a ter o privilégio de administrar.
















Fonte: Alexandre Carvalho dos Santos/Super










quinta-feira, 19 de julho de 2018

Como o sol é uma bola de fogo se não há oxigênio no espaço?


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Bem, o fato é que o Sol não é uma bola de fogo. Na verdade, a luz e o calor que sentimos daqui da Terra nada mais são do que o resultado do gás hidrogênio aquecido a 2 milhões de graus Celsius. A essa temperatura, qualquer coisa libera energia na forma de luz e calor. Por isso, temos a impressão de que o astro é feito de fogo. A diferença é que a chama que sai das fogueiras é um dos produtos da combinação de certos compostos, como madeira, álcool ou gasolina, com o oxigênio da atmosfera. No caso do Sol, a energia surge de fusões nucleares. A violenta pressão no interior da estrela faz com que átomos de hidrogênio se juntem para formar átomos de hélio. Essa união também libera luz e calor, mas numa escala incomparavelmente maior.

Essa luz é tão intensa que arranca elétrons dos átomos que formam a capa gasosa do Sol, fazendo com que ela se comporte comoum plasma, o mesmo estado em que está o material que preenche as lâmpadas fluorescentes, por exemplo. “A camada externa do astro parece um fluido luminoso, formado por uma ‘pasta’ de elétrons e prótons soltos”, diz o astrônomo Roberto Costa, da USP. Para terminar, uma curiosidade: os planetas formados principalmente por gases, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, não parecem fogueiras como o Sol. Mas, para quem os observa do espaço, suas superfícies gasosas dão a impressão de estarem derretendo.










Fonte : Mundo Estranho








quarta-feira, 18 de julho de 2018

Obesidade - Nem todos os gordinhos correm risco de vida!

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A ligação entre a obesidade e a expectativa de vida pode não ser tão óbvia assim. Pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, descobriram que pacientes obesos, mas com nenhum outro fator de risco metabólico, não apresentam aumento na taxa de mortalidade em relação às pessoas magras. Isso contraria a maior parte da literatura sobre o assunto, que inclui a obesidade como um risco por si só.

O estudo acompanhou 54.089 homens e mulheres, alguns apenas obesos e outros com disfunções associadas (cardiovasculares ou relacionados à glicose). Aqueles com a chamada obesidade metabólica saudável não tiveram uma taxa de mortalidade maior do que a média da população.

Hoje, qualquer um que estiver com o IMC acima de 30 kg/m2 é instruído a perder peso, como se o fato por si só já fosse um risco para a saúde. Mas a pesquisa apresenta outra maneira de enxergar a situação, ao constatar que 1 a cada 20 voluntários não apresentavam nenhum problema metabólico.

“Estamos mostrando que os indivíduos com obesidade metabolicamente saudável não estão em uma taxa de mortalidade elevada. Descobrimos que uma pessoa com peso normal e sem outros fatores de risco metabólicos tem a mesma probabilidade de morrer do que a pessoa com obesidade e sem outros fatores de risco”, diz Jennifer Kuk, coordenadora do projeto, ao Science Daily. “Isso significa que centenas de milhares de pessoas na América do Norte com obesidade metabolicamente saudável serão orientadas a perder peso, mesmo que o benefício para isso seja questionável.”

Calma, não tranque a matrícula na academia agora. O estudo não contesta, de nenhuma forma, os benefícios em praticar atividades físicas e nem de ter uma alimentação saudável. O que eles dizem é que, se você cuida da sua saúde, não precisa se preocupar com as gordurinhas aparecendo.










Fonte: Felipe Sali/Super