domingo, 31 de maio de 2015

Caso FIFA - Rede Globo não sabia de nada?



Globo esconde que J. Hawilla é sócio de filho de João Roberto Marinho
Conseguirá a 'vênus platinada' convencer o público – e a Justiça – de que 'não sabia' que seus sócios pagavam propinas a cartolas pela transmissão de jogos de futebol?

Acusações ainda não foram feitas, mas sobram suspeitas de irregularidades no futebol da Globo
Ao noticiar o escândalo de corrupção internacional de subornos no futebol que levou à prisão do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, o Jornal Nacional da TV Globo omitiu informações relevantes ao telespectador.

A começar pelo fato de J. Hawilla ter sido diretor de esportes da própria Rede Globo em São Paulo – tendo sido antes repórter de campo – e já nessa época, começou paralelamente a comercializar placas de publicidade em estádios. Ali nascia o empresário com forte ligação com a emissora.

Em 2003 J. Hawilla fundou a TV TEM, sigla de Traffic Entertainment and Marketing, que forma uma cadeia de TVs afiliadas da Rede Globo no interior de São Paulo. As TVs de Hawilla cobrem quase metade do estado de São Paulo: 318 municípios e 7,8 milhões de habitantes, alcançando 49% do interior paulista. Entre as cidades cobertas estão, São José do Rio Preto, Bauru, Sorocaba e Jundiaí.

A dobradinha Hawilla-Globo não para por ai. Foi também do Grupo Globo que o empresário comprou, em 2009, o Diário de São Paulo. Ele já era dono da Rede Bom Dia, de jornais em cidades da área coberta pela TV TEM.

Faltou também o JN noticiar que os negócios da Globo com Hawilla que fazem parte da programação nacional da emissora. A produtora TV 7, que é da Traffic, faz os programas Auto Esporte e o Pequenas Empresas, Grandes Negócios, apresentados na Globo aos domingos, já há alguns anos.

Mas o que ninguém sabe e nem a Globo conta é que J. Hawilla é sócio de Paulo Daudt Marinho, filho e herdeiro de João Roberto Marinho, na TV TEM de São José do Rio Preto (SP).

João Roberto Marinho é um dos três filhos de Roberto Marinho que herdou o império da Rede Globo. O próprio João Roberto é sócio de dois filhos de J. Hawilla (Stefano e Renata) na TV TEM de Sorocaba (SP). Aliás a avenida em São José do Rio Preto onde fica a TV TEM ganhou o nome de Avenida Jornalista Roberto Marinho, em homenagem ao fundador da 'vênus platinada'.

No Jornal Nacional de quarta feira (27) , muito brevemente, William Bonner citou a Globo, como se quisesse dizer aos espectadores: "Não temos nada com isso". O jornalista leu: "A TV Globo, que compra os direitos de muitas dessas competições, só tem a desejar que as investigações cheguem a bom termo e que o ambiente de negócios do futebol seja honesto". Assim seco, sem entrar em detalhes.

J. Hawilla foi condenado nos Estados Unidos por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Os crimes foram cometidos na intermediação de subornos para cartolas da Fifa, da CBF e outras confederações de futebol por contratos de direitos televisivos e de marketing. Ele admitiu os crimes e, para não ir para a cadeia, delatou quem recebia propinas e negociou pagar multa de quase meio bilhão de reais.

Entre suas operações mais comuns estão propinas pagas à cartolagem dos clubes para intermediar a comercialização com emissoras de TV, como a TV Globo, dos direitos televisivos de transmissão dos jogos.

Segundo o departamento de Justiça dos Estados Unidos, as empresas de TV e de outras mídias pagavam à empresa de marketing de J. Hawilla, que conseguia os direitos de comercializar as transmissões, e depois repassava uma "comissão" aos cartolas.

As propinas acontecem há pelo menos 24 anos e envolveram jogos da Copa América, da Libertadores da América e do torneio Copa do Brasil, segundo os investigadores dos EUA.

Ao longo dos anos a maioria destes jogos no Brasil foram transmitidos com exclusividade pela TV Globo, que cedia alguns jogos para a TV Bandeirantes – mas sob limites rígidos – para livrar-se de acusações de concentração econômica e práticas anti-concorrenciais.

Se até o momento de fato não há acusações contra emissoras de TVs que tenham chegado ao conhecimento público, também é difícil afirmar que não pesam suspeitas. A Justiça dos Estados Unidos e o FBI disseram que as investigações estão apenas no começo.

Todo mundo tem direito à presunção de inocência e ao benefício da dúvida, mas depois de passar anos fazendo jornalismo na base da pré-condenação, testes de hipóteses, "domínio do fato" e do "ele não sabia?" para tentar fazer política demotucana, será difícil convencer o telespectador de que a Globo "não sabia" que seus sócios pagavam propinas a cartolas pela transmissão dos jogos que a emissora transmitiu.






Fonte: Helena Sthephanowitz,/Rede Brasil Atual


sábado, 30 de maio de 2015

Estuprar esposa na Índia não é crime!



Estupros por cônjuges não podem ser criminalizados na Índia porque o casamento é sagrado no país, declarou um ministro no Parlamento indiano. O comentário causou polêmica, em meio a casos chocantes de violência sexual cometida por maridos divulgados recentemente pela mídia indiana. O repórter Parul Agarwal, da BBC Hindi (Seção em hindu do Serviço Mundial da BBC), explica a controvérsia:

Amarrando e desamarrando nervosamente um pedaço de pano sobre seu rosto, Rashmi (o nome é fictício) tenta encobrir sua identidade enquanto se prepara para dar uma entrevista para a câmera. "Se o dono da casa que alugo me identificar, serei despejada", ela diz.
Com 25 anos, ela é uma entre as muitas vítimas de estupro marital que lutam por justiça na Índia.

"Para ele, eu era apenas um brinquedo que ele podia usar de maneiras diferentes todas as noites. Quando brigávamos, ele se vingava na cama. Às vezes, eu implorava para ele me deixar em paz porque não me sentia bem, mas ele não aceitava um não, nem mesmo quando eu estava menstruada", diz Rashmi.

Na Índia, o estupro de uma esposa pelo marido não é crime. E muitos acreditam que o casamento é uma fonte de prazer sexual para o homem, portanto, as mulheres têm de se submeter.

Desigualdade
Em fevereiro, a Suprema Corte da Índia rejeitou o pedido de Rashmi para que o estupro marital fosse declarado um crime. O tribunal disse que não se podia ordenar uma mudança na lei para atender a uma pessoa.

A história de Rashmi é semelhante à de qualquer outra jovem com bom nível educacional na Índia que se apaixonou por um colega do escritório e se casou com ele. Mas o relacionamento dos dois nunca envolveu "consentimento" e "igualdade", ela diz.
Não posso deixar que ele me use e depois encontre outra mulher e destrua a vida dela. Não quero o divórcio, quero que ele seja punido.

Ativistas vêm, já há algum tempo, fazendo campanha para que o estupro marital seja criminalizado na Índia.
Após o estupro e assassinato de uma estudante por uma gangue em Nova Déli, em dezembro de 2012, formou-se um comitê para sugerir reformas à lei criminal no país. O comitê recomendou que o estupro marital passasse a receber o mesmo tipo de punição que qualquer outro estupro.
O governo, liderado na ocasião pelo Partido do Congresso, rejeitou a recomendação.
Vítimas de estupro marital, no entanto, se recusam a abandonar a batalha.

Pooja, mãe de três filhas, sofreu em silêncio por 14 anos antes de ganhar coragem para abrir um processo contra o marido por violência doméstica. A principal razão para a separação, ela diz, foi "sexo violento e à força".
"Eu não tinha direito de dizer não porque era sua esposa. Eu estava cuidando das crianças e da casa sozinha, mas ele nunca teve qualquer consideração."
Hoje, Pooja está separada do marido, mas se recusa a lhe dar o divórcio porque isso permitiria a ele se casar de novo.
"Não posso deixar que ele me use e depois encontre outra mulher e destrua a vida dela. Não quero o divórcio, quero que ele seja punido", ela diz.

Comum

O advogado da Suprema Corte Karuna Nundy, que se especializa em litígios envolvendo direitos humanos e Justiça de gênero, diz que a lei indiana oferece pouco apoio para vítimas de violência marital.

"No momento, uma esposa pode abrir um processo com base na lei de violência doméstica, e ele será julgado em uma corte civil. A lei dá à mulher o direito legal de se separar do marido alegando crueldade", explica o advogado.

"Mas qual é o recurso legal para punir o ato do crime? Qualquer ato sexual que é forçado ou está sendo feito sem o consentimento da mulher é crime. O relacionamento da vítima com o autor do crime não faz diferença", argumenta o advogado.

Estudos feitos ao longo dos anos indicam que violência sexual no casamento é comum na Índia.
Dez por cento das entrevistadas na última Pesquisa Nacional de Saúde da Família feita no país disseram ter sido forçadas pelo marido a ter relações sexuais. A pesquisa, feita entre 2005 e 2006, envolveu 124.385 mulheres de 25 Estados indianos.

Um terço dos homens entrevistados em outro estudo, feito no ano passado pelo International Centre for Women (ICRW) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNPFA), admitiu ter forçado suas esposas a ter relações sexuais. O estudo envolveu sete Estados do país. Em cada estado, 9.205 homens e 3.158 mulheres com idades entre 18 e 49 foram entrevistados.

As vítimas do estupro marital dizem travar uma batalha solitária porque seu sofrimento não se enquadra em nenhuma das categorias do sistema legal indiano. E ainda por cima, elas dizem, a sociedade com frequência as culpa por denegrir a instituição do casamento.
Mesmo assim, um grupo de defesa dos direitos dos homens, a Save the Family Foundation, adverte contra a criminalização do estupro marital.

"Nós já observamos como a lei 498A, contra o dote, foi utilizada de maneira errônea por mulheres na Índia para assediar homens e suas famílias. A Central Woman Commission of India (Comissão Central de Mulheres da Índia) admitiu que muitos casos de estupro relatados anualmente são falsos. Como pode alguém provar o estupro marital? Levar o quarto para o tribunal é uma ideia perigosa", diz o porta-voz do grupo.

A entrevista com Rashmi vai chegando ao fim. Ela retira o pano que cobre seu rosto e diz: "Em cada audiência no tribunal, vejo meu marido e sua família, não parecem afetados nem sentem qualquer remorso pelo que aconteceu".

"Por que uma mulher tem de esconder sua identidade para parar de ser acuada? Por que sou mal vista por dizer ao mundo que fui estuprada pelo meu marido?"





Fonte: BBC

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Caso Fifa - Marin, obrigado a viajar para ser preso!



A prisão de Marin é um retrato do Brasil: ele foi obrigado a viajar para ser preso.

Marin é, ou era, um daqueles intocáveis no país. Apesar da ficha carregada de delinquências, ele jamais foi importunado pela justiça, pela polícia e, muito menos, pela imprensa.

Isso com 83 anos.

Fosse mais comedido, ou menos ávido por propinas e atividades, Marin teria chegado ao túmulo bem longe de coisas desagradáveis como cadeia.

Prender Dirceu e Genoíno é fácil no Brasil destes tempos. Mas Marin pertence a outra casta: a do 1%. Isso significa imunidade.

Por exemplo: ele só virou notícia policial na Globo por causa dos investigadores americanos que descobriram, com trabalho duro, a fábrica de propinas que ele montou na CBF.

A CBF sempre foi parceira da Globo na rapinagem do futebol brasileiro. Enquanto ao longo dos anos ambas acumularam fortunas fabulosas com o futebol brasileiro, este, em si, virou uma ruína.

Estádios vazios e precários, times incapazes de segurar os melhores jogadores e por aí vai: não pode funcionar uma parceria em que alguém ganha muito e o outro só perde.

É o jeito Globo de operar.

Também no cinema é o mesmo quadro. A Globofilmes se dá bem e os outros – produtores, diretores, atores – vivem de migalhas.

O caso Marin oferece também uma chance de confrontar o trabalho policial entre os Estados Unidos e o Brasil.

Os investigadores americanos não fizeram, ao contrário do que é tão comum na Polícia Federal, coisas como basear ações em recortes de jornais e revistas.

É patético ver juízes e policiais acusarem alguém e, impávidos, citarem uma reportagem da Veja, ou da Folha, como se a mídia não tivesse fortíssimos interesses por trás de denúncias frequentemente sem nenhum fundamento.

No Mensalão, um juiz começou um magnífico pronunciamento dizendo que não havia um dia que não abrisse os jornais e encontrasse um escândalo.

A quem apelar?

Mais arguto, ele teria questionado a obsessão da mídia em publicar escândalos contra o PT. Mas não: o juiz tratou a mídia como se ela também pertencesse ao STF.

(Recentemente, Marta Suplicy fez o mesmo ao explicar por que saiu do PT. Citou a mídia.)

No episódio Marin, os policiais dos Estados Unidos suaram. Não entraram no Google para ver o que a imprensa tinha a falar de Marin.

Uma das cenas mais marcantes da Operação Lava Jato foi uma em que um réu perguntou respeitosamente a Moro se fazia sentido ele estar preso fazia cinco meses quando a grande evidência que pesava contra ele era uma reportagem da Veja.

Como disse Mino Carta, a Veja mente todos os dias. Mas a Justiça brasileira enxerga nela uma fonte de informações acima de qualquer suspeita.

O caso Marin oferece muitas reflexões. A principal delas é o caráter hipócrita e partidário do combate à corrupção promovido pelo 1%, ao qual interessa apenas a manutenção de privilégios e mamatas.







Fonte: Paulo Nogueira







Barbas com cocô?




Nos últimos dias, muitos sites de notícias, nacionais e internacionais, publicaram textos alegando que “barbas contém coliformes fecais”, ou “barbas podem ser mais sujas do que vasos sanitários”. Segundo o jornal The Guardian, no entanto, barbudos podem ficar tranquilos: aparentemente todo frisson da mídia nesse sentido surgiu da interpretação equivocada dessa reportagem de TV do Novo México, nos Estados Unidos.

Não há estudo ou pesquisa. A coisa foi mais ou menos assim: uma repórter coletou amostras de “um punhado” de barbas e enviou para análise em um laboratório. Feitos os testes, um microbiologista foi entrevistado para comentar os resultados. Segundo ele, algumas bactérias encontradas nas barbas analisadas são do mesmo tipo que também vivem em nossos intestinos. "Também são encontradas em fezes", disse ele. E é isso.

Essas bactérias não são cocô. E elas também podem ser encontradas na pele. A mesma pele que fica sob a barba. De alguma forma, a história cresceu e muita gente acabou colocando cocô na barba, sendo que ele nunca esteve lá. Pobre barba. Pobre cocô!








Fonte: Movi+

terça-feira, 26 de maio de 2015

Existe livre-arbítrio?



O livre-arbítrio não existe!

Você se interessou pelo tema desta reportagem e, por isso, resolveu dar uma lida. Certo? Errado! Muito antes de você tomar essa decisão, a sua mente já havia resolvido tudo sozinha – e sem lhe avisar. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, colocou em xeque o que costumamos chamar de livre-arbítrio: a capacidade que o homem tem de tomar decisões por conta própria.

 As escolhas que fazemos na vida são mesmo nossas. Mas não são conscientes. Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma seqüência aleatória de letras. Eles deveriam escolher uma letra e apertar um botão quando ela aparecesse. Simples, não? Acontece que, monitorando o cérebro dos voluntários via ressonância magnética, os cientistas chegaram a uma descoberta impressionante.

 Dez segundos antes de os voluntários resolverem apertar o botão, sinais elétricos correspondentes a essa decisão apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro que controlam a tomada de decisões. “Nos casos em que as pessoas podem tomar decisões em seu próprio ritmo e tempo, o cérebro parece decidir antes da consciência”, afirma o cientista John Dylan-Haynes. Isso porque a consciência é apenas uma “parte” do cérebro – e, como a experiência provou, outros processos cerebrais que tomam decisões antes dela.

 Agora os cientistas querem aumentar a complexidade do teste, para saber se, em situações mais complexas, o cérebro também manda nas pessoas. “Não se sabe em que grau isso se mantém para todos os tipos de escolha e de ação”, diz Haynes. “Ainda temos muito mais pesquisas para fazer.” Se o cérebro deles deixar, é claro.






Fonte: Salvador Nogueira/Superinteressante











segunda-feira, 25 de maio de 2015

O complexo de Vira-lata!




Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente, notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi "de Londres", veio um grande sorriso de aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: ‘sou deste país sofrido aqui’.

Fiquei surpreso. Eu - como vários gringos que conheço que ficaram um tempo no Brasil - adoro o país pela cultura e pelo povo, apesar dos problemas. E que país não tem problemas? O Brasil tem uma reputação invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo. Frustração e ódio da própria cultura foram coisas que senti bastante e me surpreenderam durante meus 6 meses no Brasil. Sei que há problemas, mas será que não há também exagero (no sentido apartidário da discussão)?

Tem uma expressão brasileira, frequentemente mencionada, que parece resumir essa questão: complexo de vira-lata. A frase tem origem na derrota desastrosa do Brasil nas mãos da seleção uruguaia no Maracanã, na final da Copa de 1950. Foi usada por Nelson Rodrigues para descrever “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais 'sofrido' deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.

Sei que é complicado generalizar e que minha estada no Brasil não me torna um especialista, mas isso pode ser visto nos shoppings, clones dos 'malls' dos Estados Unidos, com aquele microclima de consumismo frígido e lojas com nomes em inglês e onde mesmo liquidação vira 'sale'. Pode ser sentido na comida. Neste "país tropical" tão fértil e com tantos produtos maravilhosos, é mais fácil achar hot dog e hambúrguer do que tapioca nas ruas. Pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do Samba e da Bossa Nova.

Tapioca
Cadê a tapioca?
Pode ser visto também no estilo das pessoas na rua. Para mim, uma das coisas mais lindas do Brasil é a mistura das raças. Mas, em Sampa, vi brasileiras com cabelo loiro descolorido por toda a parte. Para mim (aliás, tenho orgulho de ser mulato e afro-britânico), dá pena ver o esforço das brasileiras em criar uma aparência caucasiana.

Acabei concluindo que, na metrópole financeira que é São Paulo, onde o status depende do tamanho da carteira e da versão de iPhone que se exibe, a importância do dinheiro é simplesmente mais uma, embora a mais perniciosa, importação americana. As duas irmãs chamadas Exclusividade e Desigualdade caminham de mãos dadas pelas ruas paulistanas. E o Brasil tem tantas outras formas de riqueza que parece não exaltar...

Um dos meus alunos de inglês, que trabalha em uma grande empresa brasileira, não parava de falar sobre a América do Norte. Idealizou os Estados Unidos e Canadá de tal forma que os olhos dele brilhavam cada vez que mencionava algo desses países. Sempre que eu falava de algo que curti no Brasil, ele retrucava depreciando o país e dando algum exemplo (subjetivo) de como a América do Norte era muito melhor.

O Brasil está passando por um período difícil e, para muitos brasileiros com quem falei sobre os problemas, a solução ideal seria ir embora, abandonar este país para viver um idealizado sonho americano. Acho esta solução deprimente. Não tenho remédio para os problemas do Brasil, obviamente, mas não consigo me desfazer da impressão de que, talvez, se os brasileiros tivessem um pouco mais orgulho da própria identidade, este país ficaria ainda mais incrível. Se há insatisfação, não faz mais sentido tentar melhorar o sistema?

Destaco aqui o que vejo como um uma segunda colonização do Brasil, a colonização cultural pelos Estados Unidos, ao lado do complexo de vira-latas porque, na minha opinião, além de andarem juntos, ao mesmo tempo em que existe um exagero na idealização dos americanos, existe um exagero na rejeição ao Brasil pelos próprios brasileiros. É preciso lutar contra o complexo de vira-latas. Uma divertida, porém inspiradora, lição veio de um vendedor em Ipanema. Quando pedi para ele botar um pouco mais de 'pinga' na caipirinha, ele respondeu: "Claro, (mermão) meu irmão. A miséria tá aqui não!" Viva a alma brasileira!





Fonte: Adam Smith/Para Inglês Ver
BBC




domingo, 24 de maio de 2015

Terremotos - Pode-se evitar mais mortes?




Muitas das centenas de milhares de edificações que desabaram nos terremotos que vêm sacudindo o Nepal desde o dia 25 de abril, compartilhavam uma característica: telhados pesados.

O colapso de construções na capital, Katmandu, e em áreas vizinhas contribuiu imensamente para o grande número de mortos, que agora já se aproxima de 10 mil.

A massiva destruição de edifícios com o mesmo tipo de falha contribuiu para a morte 200 mil pessoas no terremoto que abalou o Haiti em 2010, mais de 80 mil no sismo de 2008 na China; e pelo menos outras 80 mil no Paquistão em 2005, para citar apenas algumas das catástrofes mortíferas mais recentes desse gênero.

Comparativamente, em 2010, quando o Chile foi atingido por um tremor 10 vezes mais forte que o grande sismo nepalês de 25 de abril, cerca de 500 pessoas morreram.

Essa enorme diferença é simples de explicar:

O Chile investiu mais dinheiro em tecnologia de construção apropriada e garantiu que as pessoas construíssem adequadamente após um calamitoso terremoto [de magnitude 9,5 na escala Richter, o maior já registrado] em Valdivia, em 1960.

A abordagem chilena prova que é possível construir estruturas capazes de reduzir drasticamente a perda de vidas em abalos sísmicos muito fortes; mas implementar esses métodos continua sendo um desafio em grande parte do mundo.

“A natureza humana parece favorecer quase que universalmente o mais rápido e mais barato, especialmente quando se consideram consequências relativamente raras”, criticou William Holmes, um engenheiro estrutural da firma de engenharia Rutherford + Chekene (R&C), com sede em São Francisco, na Califórnia.

De acordo com ele, a corrupção agrava essa propensão ao rápido e barato porque muitos construtores submetem propostas fraudulentas [em licitações], a construção é apressada e tanto autoridades como engenheiros são subornados ou simplesmente estão ocupados demais para supervisionar e fiscalizar se novas edificações atendem aos padrões de segurança.

“A grande maioria dos países dispõe de códigos de construção que melhorariam significativamente o desempenho se fossem aplicados”, acrescentou Holmes.

A engenheira civil Elizabeth Hausler Strand, a empreendedora social por trás da organização Build Change, que promove trabalhos assistenciais de prevenção, treinamento e construções melhores e mais reforçadas tem uma explicação mais simples ainda:

“Se as pessoas não têm o dinheiro para construir um edifício seguro, então elas não fazem isso”.

O Nepal tem um código de construção desde 1994. Mas a fiscalização é negligente ou inexistente.

Telhados de zinco sustentados por colunas de concreto reforçado por vergalhões de aço continuam sendo a norma, em vez da combinação mais tradicional, e mais resistente a terremotos, de suportes e vigamentos de madeira para construções de tijolos.

Quando os inflexíveis concreto e aço substituem a madeira “maleável”, especialmente concreto e aço que não são produzidos nem reforçados adequadamente como no Nepal, os edifícios simplesmente desabam sobre as pessoas que estão lá dentro quando o chão se move.

“Alvenaria é um material muito inapropriado em um terremoto”, explica Hausler Strand. “Uma vez que racha, ela não tem mais capacidade para absorver energia”, assim como um pedaço de giz se quebra sob pressão enquanto um ramo de árvore se curva.

Mas madeira tornou-se um material de construção raro no Nepal e em alguns outros países devido à superexploração florestal. As florestas que ainda restam agora são protegidas.

Técnicas de construção aprimoradas podem ajudar quando não há madeira.

Hausler Strand, por exemplo, tem sua própria regra dos três Cs: configuração, conexões e construção.

No Nepal, os edifícios que desabaram tendiam a ter configurações ruins.

Em prédios de vários andares, pavimentos térreos “ocos”, utilizados como lojas ou estabelecimentos comerciais, sustentavam os andares muito mais pesados acima, onde as pessoas viviam.

Muros de sustentação (ou suporte) poderiam ajudar nesse caso, mas isso reduziria o espaço varejista.

Colunas mais rijas e resistentes seriam a única alternativa para proporcionar espaço para lojas e mais força estrutural, opina Hausler Strand.



“O primeiro passo é escutar os proprietários da casa/residência”, acrescenta ela. “Se a arquitetura não for o que eles querem, então eles não ouvirão [o que temos a dizer sobre] construir segurança”.

Simplesmente revestir vergalhões com vergalhões; ou seja, revestir aço com aço dentro do concreto, é suficiente para reforçar um prédio para que ele resista à maioria dos terremotos. Isso seria um exemplo de boa construção.

Além disso, tijolos e blocos de concreto têm de ser produzidos da melhor maneira possível.

Isso quer dizer: usar uma temperatura suficientemente alta para a queima dos tijolos ou blocos; utilizar a quantidade certa de cimento e agregados [materiais que são adicionados à massa de cimento e água para lhe dar “corpo”] para moldar os blocos, e reservar tempo suficiente para que eles endurecerem adequadamente.

Garantir que seja colocada argamassa entre cada peça de alvenaria ou que elas pelo menos sejam conectadas mais firmemente por meio de um revestimento de reboco proporciona força/resistência adicional.

Mas tudo isso custa dinheiro.

“Você tem de convencer o dono da casa a investir nisso ou fornecer um subsídio”, salienta Hausler Strand.

A ideia não é garantir que edifícios emerjam intactos [de um abalo sísmico], mas que os colapsos de construções não se tornem “armas de destruição em massa”.

Foi essa expressão que o geólogo Roger Bilham da University of Colorado em Boulder e o cientista da computação Vinod Gaur do Instituto CSIR Fourth Paradigm, em Bangalore, na Índia, usaram em um artigo sobre riscos de terremotos na região do Himalaia no periódico científico Science em 2013.

“Melhores estimativas de riscos sísmicos serão inúteis se governos consentirem com a persistência de práticas de construção desautorizadas e não seguras”, advertiram os autores.

“Para casas/habitações pequenas, a autoridade governamental está muito longe”, destaca Holmes. “Educação sobre como construir corretamente é o mais importante”.

Mas existem maneiras de promover construções melhores.

Uma ideia é usar o dinheiro à vista que o governo ofereceu para a reconstrução em parcelas como um incentivo para reconstruir adequadamente.

“Se você não seguir os padrões de construção, então não receberá o dinheiro”, resume Hausler Strand.

Mas essa abordagem requer que o governo tenha dinheiro a oferecer em primeiro lugar.

Na China pós-2008, o governo disponibilizou grandes volumes de recursos para a reconstrução, então o desafio foi garantir que ela fosse executada corretamente. A supervisão dos próprios donos de casas, que haviam sido treinados para saber o que observar em termos de construção boa ou ruim, parece ter ajudado.

Mas na Indonésia, após o tsunami de 2004, simplesmente não havia recurso disponível para reconstruir corretamente.

A esperança é que as lições da catástrofe no Nepal possam também inspirar prevenção em outros lugares, como os programas de modernização e aprimoramento que a Build Change está tentando implementar na Colômbia e Guatemala.

Na Colômbia, à medida que o nível de vida das pessoas melhora, elas acrescentam andares a suas casas. Estas adições não são construídas para resistir a um desastre como um terremoto; ainda assim novos pisos muitas vezes se projetam além das dimensões do pavimento térreo.

A Build Change está tentando acrescer colunas e vigas de sustentação a essas construções irregulares com a ajuda de um subsídio do governo, seguindo o exemplo do  Chile.

A Turquia, por outro lado, está tratando de se preparar melhor para o seu próximo sismo ao modernizar e adaptar escolas para torná-las seguras em caso de terremoto.

A nação islâmica iniciou essa tarefa em 2000 e espera concluí-la até 2018.

Istambul concluiu um plano mestre antiterremoto, que incluiu fiscalizar e fazer cumprir os códigos de construção e fortalecer edifícios precários, abaixo do padrão, existentes.

Mas “há menos dinheiro disponível para prevenir desastres que para responder a eles”, queixou-se Hausler Strand. Ela salientou que, em três dias, a Build Change arrecadou mais dinheiro para o Nepal devastado pelo terremoto de abril do que conseguiu levantar nos últimos três meses para reestruturar escolas guatemaltecas.



É claro que nenhum edifício pode resistir a todos os desastres.

Construir com segurança para um eventual terremoto pode deixar uma estrutura mais vulnerável a outro tipo de catástrofe, como inundações ou o aumento do nível do mar somado a gigantescas ondas de tempestades.

Um telhado mais leve, que pode resistir melhor a um terremoto, talvez saia voando em uma poderosa tempestade com fortes ventos, como um ciclone tropical.

“Você tem de garantir que esteja tudo bem amarrado e interligado; o telhado à parede e os dois ao alicerce”, salienta Hausler Strand.

Mesmo se os edifícios reforçados sobreviverem a um terremoto e protegerem as pessoas em seus interiores, muitos desafios ainda podem se apresentar depois do evento — como o potencial de um tremor secundário (ou subsequente) como o que atingiu o Nepal em 12 de maio e que acabou de derrubar incontáveis edifícios já danificados.

Além dos potentes tremores secundários, a liquefação do solo, destruição dos sistemas de água e esgoto, o colapso de estradas e incêndios resultantes de infraestruturas elétricas ou canalizações de gás abaladas podem atrapalhar muito qualquer esforço de recuperação — tanto no mundo em desenvolvimento como nas cidades mais ricas do planeta.

Ainda assim, “a resiliência para os mais pobres certamente começaria por garantir que suas casas não desabem”, observa Holmes.






Fonte: David Biello/Scientific American








sábado, 23 de maio de 2015

Estado Islâmico: Nós amamos a morte tanto quanto vocês amam a vida'!




Nós amamos a morte tanto quanto vocês amam a vida', diz militante do EI.

Com seu mais recente triunfo, envolvendo não só a captura da cidade histórica de Palmira, mas também de um importante campo de produção de gás natural próximo, o grupo autodenominado "Estado Islâmico" agora controla metade do território sírio.

A violência dos militantes vem surtindo efeito, paralisando de medo seus inimigos.
"Estamos indo atrás de vocês, com homens que amam a morte tanto quanto vocês amam a vida. Vocês nunca estarão seguros enquanto estivermos vivos", diz um integrante do "EI".

Palmira, uma cidade de grande valor histórico, agora está indefesa. Quando possível, o 'Estado Islâmico' destrói qualquer vestígio do passado não islâmico de seus alvos.



O grupo vem avançando numa velocidade extraordinária. Há dois dias, foi a vez de Palmira. Há cinco, militantes tomaram a cidade de Ramadi, próxima a Bagdá, capital do Iraque.

Uma multidão de refugiados deixou Ramadi, em uma tentativa desesperada de escapar da ira do "EI".
Um pequeno grupo de 200 militantes derrotou um contingente dez vezes maior de soldados iraquianos. Os moradores da cidade sentem-se abandonados à própria sorte.

Bagdá, por outro lado, parece estar tranquila. Quase dois terços do exército iraquiano está baseado na cidade ou em seus arredores para protegê-la.

Mesmo diante dos recentes fatos, autoridades no Iraque acreditam que o "EI" pode e será derrotado e que o controle de Ramadi será retomado em algumas semanas.
Mesmo assim, os últimos dias deixaram muitos no país em estado de choque.






Fonte: BBC





quinta-feira, 21 de maio de 2015

Barbosa critica fundo partidário!




Agora sem a toga, mas preservando o ar sisudo, o magistrado aposentado Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou, durante evento promovido por investidores do mercado financeiro e de capitais, a postura do Congresso Nacional em sua relação com o Executivo. Sem especificar projetos, Barbosa disse que o Legislativo “se acomodou” com o chamado presidencialismo de coalizão e usa poderes e prerrogativas adquiridos após a Constituição muito mais para “a chantagem”, se preocupação com a discussão de conteúdo de políticas públicas. ” Parece que o grande esporte do Legislativo é derrubar o Executivo nessa ou naquela proposta”, ironizou. “O Legislativo não foi feito para isso.”

Em palestra proferida no encerramento do 8º Congresso Anbima de Fundos de Investimentos, em São Paulo, o ex-presidente do STF, que se tornou celebridade depois de relatar a Ação Penal 470, do mensalão, falou durante 35 minutos, em pé, para então sentar-se e responder a perguntas do público, não identificadas, exibidas em um telão. Criticou, em menor escala, o governo, e também lamentou a corrupção no meio empresarial, em sua opinião menos discutida do que a corrupção na esfera pública. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também iria participar, mas cancelou sua presença de última hora.

A última pergunta endereçada a Barbosa – “O senhor vai nos dar o privilégio de se tornar candidato à Presidência da República em 2018?” – foi recebida com risos e aplausos pelas aproximadamente 600 pessoas presentes no encerramento do congresso da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Foi também um raro momento de sorriso do ex-magistrado. “Tornar-se presidente do Brasil é a honra suprema para qualquer pessoa. Mas é preciso ter vontade. E até hoje essa vontade eu não tive não”, respondeu Barbosa.

O ex-presidente do STF fez uma única referência, sem citar o nome, à presidenta Dilma Rousseff, criticando a chefe do Executivo por não ter vetado projeto que aumentou os recursos do Fundo Partidário. “Um gesto absolutamente insensato”, segundo Barbosa. “Ela simplesmente deixou passar. Um erro político imperdoável.”

Ele atribui a corrupção no setor público, em boa parte, ao modelo de organização política, com um “sistema partidário fragmentado” e partidos “destituídos de qualquer ideário”. Para Barbosa, a atividade política “tornou-se um meio para atingir outros objetivos que não aqueles de atender aos interesses da comunidade, e de maneira impune”.

Sobre o tema corrupção, o ex-magistrado afirmou que se fala muito sobre o que acontece na esfera pública, mas pouco no que ocorre internamente nas empresas privadas – de certa forma endossando críticas recentes de setores do Ministério Público que veem desinteresse da imprensa e do próprio Judiciário pelos desdobramentos de fatos como a Operação Zelotes e a CPI do HSBC, cujas investigações têm como alvo suspeitas de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo grandes empresas, com menos impactos nas guerras políticas.






Fonte: DCM








quarta-feira, 20 de maio de 2015

Poluição - Vai acabar mesmo com o planeta?



Embora a Terra produza ar puro, alimento nutritivo e água limpa, os humanos estão prejudicando cada vez mais esses processos naturais. Cientistas procuram desesperadamente maneiras de reverter essa tendência.

Austrália
Calcula-se que há 500 mil quilômetros cúbicos de água de baixa salinidade sob o leito oceânico da Terra. Vincent Post, da Universidade Flinders, Adelaide, explicou que “o nível do mar era bem mais baixo do que é hoje” e por isso havia mais terra seca. Naquela época, a chuva “enchia o lençol freático em regiões que atualmente estão no fundo do mar”. Cientistas esperam que, com o tempo, essas reservas no fundo do mar possam ser usadas para ajudar algumas dos mais de 700 milhões de pessoas que têm pouco acesso à água limpa.

Deserto do Saara
Metade das espécies de animais de grande porte que eram encontradas no Saara desapareceu ou está confinada a apenas 1% de seu habitat original. Instabilidade política local e a caça generalizada são apenas dois fatores. Embora os desertos tenham tanta biodiversidade quanto as florestas, pesquisadores dizem que “a falta de interesse científico na biodiversidade dos desertos é acompanhada pela falta de apoio financeiro”. Isso dificulta que os conservacionistas monitorem os ecossistemas do deserto que estão ameaçados.

Mundo
Estima-se que 1 em cada 8 mortes ocorridas em 2012 tenham sido em resultado da poluição atmosférica. Segundo a Organização Mundial da Saúde, esse tipo de poluição “é atualmente a principal ameaça à saúde mundial resultante de fatores ambientais”.

O homem vai acabar mesmo com o planeta?






Fonte: Awake





terça-feira, 19 de maio de 2015

A Guerra Cibernética Já Acontece!





Nas últimas semanas, o Pentágono deixou claro que a guerra cibernética não é mais apenas uma ameaça futurística – agora ela é real. Sistemas de computador da indústria e do governo dos Estados Unidos já estão envolvidos em várias campanhas de guerra cibernética contra agressores localizados na China, Coreia do Norte, Rússia e outras partes do mundo.

Como contraponto, hackers vinculados à Rússia foram acusados de roubar vários dos emails do presidente Barack Obama, ainda que a Casa Branca não tenha feito nenhuma acusação formal contra o Kremlim. O que a administração Obama fez, porém, foi responsabilizar a Coreia do Norte por ordenar o ataque cibernético do ano passado contra a Sony Pictures Entertainment.

A batalha começou. “Atores externos sondam e analisam redes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) em busca de vulnerabilidades milhões de vezes todos os dias, e mais de 100 agências de inteligência tentam continuamente se infiltrar nas redes do DoD”, declarou Eric Rosenbach, secretário assistente de defesa interna e segurança global, durante um testemunho realizado em abril diante do Comitê de Serviços Armados do Senado dos Estados Unido, Subcomitê de Ameaças Emergentes e Capacidades. “Infelizmente, algumas incursões – realizadas tanto por instituições estatais quanto não-estatais – tiveram sucesso”.

No mês passado, após anos de debates sobre como a névoa da guerra se estenderá à Internet, Obama assinou uma ordem executiva declarando que ataques cibernéticos lançados do exterior contra alvos dos Estados Unidos são uma “emergência nacional” e estabelecendo sanções contra os responsáveis. As penas incluem o congelamento dos ativos americanos de agressores cibernéticos e seus auxiliares, além de proibir que residentes dos Estados Unidos conduzam transações financeiras com aqueles atingidos pela ordem executiva.



É claro que uma dissuasão desse tipo tem limites e é por isso que, no mês passado, o DoD divulgou uma versão atualizada de sua estratégia cibernética para engajar seus adversários online. O plano esboça esforços da Defesa para proteger redes, sistemas e informações do governo, além de empresas dos Estados Unidos.

Se ataques cibernéticos continuarem a aumentar na taxa atual, eles poderiam desestabilizar situações mundiais já tensas, explica O. Sami Saydjari, ex-especialista cibernético do Pentágono que atualmente comanda uma agência de consultoria chamada de Cyber Defense Agency. “As nações devem começar a estabelecer consequências reais para ações maliciosas no cyberespaço, porque essas ações estão provocando sérios danos e há potencial para danos muito maiores do que os que já foram vistos até agora”, adiciona ele.

Uma grande parte da estratégia cibernética do DoD é apoiar a “força tarefa cibernética” do Pentágono, que o departamento começou a formar em 2013 para conduzir suas operações no ciberespaço. Ainda que não fique totalmente operacional antes de 2018, espera-se que a unidade tenha quase 6.200 militares, civis e terceiros – divididos em 13 equipes – trabalhando em vários departamentos militares e agências de defesa para “caçar intrusos online”, declarou o Secretário de Defesa, Ashton Carter, no mês passado durante uma palestra ministrada na Stanford University.

A estratégia não entra em detalhes sobre quais armamentos digitais a força tarefa cibernética usará para lutar suas campanhas. Mas essa informação pode ser extraída dos softwares maliciosos – “malware” – que já dominam a Internet, além de tecnologias militares projetadas para interromper comunicações digitais. O worm Stuxnet, que sabotou a usina de enriquecimento de urânio Natanz, no Irã, em novembro de 2007, é um exemplo recente do arsenal de guerra cibernética. Ninguém se declarou oficialmente responsável pelo Stuxnet, ainda que muitas especulações apontem Estados Unidos e Israel como seus autores. Um outro malware estratégico conhecido como Flame é mais sutil, coletando informações de maneira furtiva e transmitindo-a por Bluetooth enquanto evita ser detectado.

Os componentes da guerra cibernética são exatamente os mesmos da guerra que usa armas e explosivos, só que muito mais rápidos, explica Saydjari. Um agressor tentaria danificar infraestruturas críticas como redes elétricas, de telecomunicações ou financeiras ao atacar os sistemas de computadores que controlam essas infraestruturas. “O instrumento para criar esses danos geralmente é alguma forma de software malicioso, inserido nesses sistemas por uma variedade de meios que incluem hackear o sistema por meio de alguma vulnerabilidade já conhecida, mas ainda não corrigida, ou até então desconhecida”, adiciona ele.

Recentemente, a China admitiu ter tanto equipes civis quanto militares de programadores desenvolvendo armas digitais, e documentos divulgados pelo delator da Agência Nacional de Segurança, Edward Snowden, indicam que a China desenvolveu malwares para atacar computadores do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e até mesmo roubar informações sigilosas sobre o caça F-35 Lightning II, que a Lockheed Martin está desenvolvendo para a Força Área dos Estados Unidos. “Todos os países tecnicamente conscientes estão desenvolvendo tanto capacidades ofensivas quanto defensivas para se prepararem para o possível conflito cibernético, próprio ou no contexto de conflitos mais amplos, incluindo a guerra cinética, que envolve bombas e armas”, explica Saydjari. “O objetivo de muitos desses países é ser capaz de exercer domínio e controle completos sobre qualquer parte do ciberespaço, em qualquer lugar e a qualquer momento que isso sirva a seus interesses nacionais”.

O Laboratório de Pesquisa da Força Aérea está solicitando projetos capazes de fornecer opções de contra-inteligência que possam ser usados por comandantes para “fornecer informações falsas, confundir, atrasar ou impedir agressores cibernéticos para o benefício de forças aliadas”.

Outro aspecto da guerra cibernética poderia ser o emprego de atividades cibernéticas eletromagnéticas para “obter, sustentar e explorar uma vantagem sobre adversários e inimigos, tanto no ciberespaço quanto no espectro eletromagnético”, de acordo com um relatório do Exército dos Estados Unidos sobre o assunto. Agressores eletromagnéticos já atacaram a Coreia do Sul, onde mais de 500 aeronaves que entravam e saíam dos aeroportos Incheon e Gimpo, ambos do país, relataram falhas de GPS em 2010, divulgou a IEEE Spectrum em 2014. A origem dos campos eletromagnéticos foi rastreada até a cidade norte-coreana de Kaesong, cerca de 50 quilômetros ao norte de Incheon.

A guerra cibernética pode ser difícil de definir, mas tratados cibernéticos oferecem um desafio ainda maior. “De certa forma é como pedir que ladrões de banco do Velho Oeste negociem um tratado para não roubarem bancos”, compara Saydjari. “Muitos países estão se beneficiando dessa falta de regras. E muitos países estão explorando essa nova arena de guerra sem compreendê-la bem o bastante para concordar em parar de explorá-la”.

Ainda mais importante que isso, adiciona ele, é que é muito difícil atribuir responsabilidade a ações realizadas dentro do ciberespaço devido à sua complexidade, o que torna difícil a atribuição de responsabilidades e sanções à violação do tratado”.









Fonte: Larry Greenemeier

Fibras fazem bem ao nosso intestino!



O intestino é palco de constantes guerras territoriais.

Centenas de espécies bacterianas, além de fungos, archaea (microrganismos unicelulares procariotas) e vírus, lutam diariamente, competindo por recursos.

Enquanto algumas empresas defendem maior consumo de probióticos, bactérias vivas benéficas, para melhorar a composição de comunidades microbiais em nosso intestino, cada vez mais pesquisas sustentam a noção de que a abordagem mais poderosa pode ser alimentar melhor as bactérias boas que já abrigamos.

A refeição preferida delas? Fibras.

Fibras têm sido associadas há muito tempo a uma saúde melhor e novas pesquisas mostram como a microbiota intestinal pode desempenhar um papel nisso.

Um estudo concluiu que acrescer mais fibras à dieta pode levar à mudança de um perfil microbiano associado à obesidade a outro vinculado a um físico mais magro. Outro trabalho recente mostrou que quando microrganismos estão depauperados de fibras, eles podem começar a se alimentar do revestimento mucoso que protege o intestino, possivelmente provocando inflamações e doenças.

“A dieta é uma das ferramentas mais poderosas que temos para mudar a microbiota”, ressaltou Justin Sonnenburg, um biólogo da Stanford University.

Palestrante em um simpósio sobre o microbioma intestinal, em Keystone, no Colorado, no início de março, ele destacou que “fibra dietética e diversidade da microbiota se complementam para melhores resultados de saúde”.

Segundo Sonnenburg, microrganismos benéficos gostam de se banquetear particularmente em fibras fermentáveis, derivadas tanto de diversos vegetais, como de grãos integrais e outros alimentos que resistem à digestão (dissociação) por enzimas produzidas pelo corpo humano à medida que elas trafegam pelo do trato digestivo.

Essas fibras chegam relativamente intactas ao intestino grosso, prontas para serem devoradas por nossas multidões microbianas.

Microrganismos conseguem extrair energia, nutrientes, vitaminas e outros compostos extras das fibras para nós.

Ácidos graxos de cadeias curtas obtidos de fibras são particularmente interessantes por terem sido associados a uma melhor função imune, redução de inflamações e proteção contra obesidade.

Mas Sonnenburg salientou que, em padrões históricos, a atual dieta ocidental é extremamente pobre em material fibroso contendo apenas algo em torno de 15 gramas de fibras por dia.

Durante a maior parte de nossa história primitiva, como caçadores e coletores, provavelmente ingeríamos cerca de 10 vezes essa quantidade diariamente. “Imagine o efeito disso em nossa microbiota ao longo de nossa evolução”, argumentou.

A flora intestinal reflete de que nos alimentamos.

Novas pesquisas indicam que nem todas as fibras úteis precisam derivar necessariamente das raízes e do volume de massa fibrosa que nossos ancestrais procuravam incorporar em seus forrageios.

Kelly Swanson, um professor de nutrição comparativa na University of Illinois em Urbana-Champaign e sua equipe constataram que o simples acréscimo de uma barrinha de cereal às dietas diárias de seus objetos de estudo era capaz de mudar perfis microbianos em questão de semanas.

Em um estudo que envolveu 21 adultos saudáveis, com um consumo de fibras médio para os padrões americanos, uma única barra de cereais por dia (contendo 21 g de fibra), durante três semanas, aumentou significativamente o número de bactérias do gênero Bacteroides e diminuiu o de Firmicutes.

Os resultados foram obtidos por meio da comparação entre os níveis dessas bactérias antes do estudo e após três semanas de consumo de barras de cereais.

Essa proporção, de mais de Bacteroidetes e menos Firmicutes, está associada a índices de massa corporal (IMC) mais baixos.

As conclusões do estudo foram publicadas na edição de janeiro do periódico especializado American Journal of Clinical Nutrition.

Resultado de imagem para Fibras e o nosso intestino

“Sabemos há muito tempo que se você ingere muitas fibras, você perde peso”, observou Swanson

Tanto o seu como outros estudos recentes sugerem que nossa flora intestinal desempenha um papel-chave nessa correlação.

Além de identificar diferentes grupos de bactérias, um exame de varredura do genoma revelou uma mudança no padrão de atividade de genes ativos na microbiota intestinal.

À medida que o consumo de fibras aumentou a atividade de genes associados ao metabolismo de proteínas diminuiu. Pesquisadores esperam que essa constatação possa ajudá-los a entender o complicado quebra-cabeça de dieta e perda de peso.

“Estamos chegando mais perto do que é causa e efeito”, comemorou Swanson.

Alimente os microrganismos para que eles não se alimentem de você.

Quando microrganismos intestinais são privados de fibras fermentáveis, alguns de fato morrem. Outros, porém, são capazes de se adaptar e passar para outra fonte de alimento: o revestimento mucoso que ajuda a manter a parede intestinal intacta e livre de infecções.

Em outro estudo, também apresentado no simpósio de Keystone, Eric Martens, da Faculdade de Medicina da University of Michigan, o pesquisador de pós-doutorado Mahesh Desai e seus colegas constataram que essa mudança de fonte energética teve consequências marcantes em roedores.

Um grupo de camundongos alimentados com uma dieta rica em fibras tinha revestimentos intestinais saudáveis, “mas em animais com um regime sem fibras a camada mucosa ficou drasticamente reduzida”, explicou Martens no encontro.

Ocasionalmente, essa alteração pode ter consequências graves para a saúde.

Uma pesquisa realizada por uma equipe sueca, divulgada em 2014 na publicação especializada Gut, revelou uma ligação entre a penetração de bactérias na camada mucosa e colite ulcerosa, uma doença intestinal crônica e bastante dolorosa.

Um terceiro grupo de camundongos recebeu porções de ração rica e pobre em fibras em dias alternados, “como se nós estivéssemos sendo mal comportados, devorando hambúrgueres e batatas fritas um dia, para, no dia seguinte, consumirmos bonzinhos nossos cereais integrais”, Martens exemplificou brincando.

No entanto, mesmo uma dieta fibrosa em tempo parcial foi insuficiente para manter os intestinos desse grupo de camundongos saudáveis: a camada mucosa deles tinha apenas cerca de 50% da espessura da dos animais que se alimentavam consistentemente de uma dieta com elevado teor de fibras.

Se pudermos estender esses resultados a humanos, “isso nos diz que nem o consumo concentrado de todos os alimentos fibrosos a cada dois dias é suficiente para nos proteger. Precisamos nos alimentar de uma dieta rica em fibras diariamente para manter um intestino saudável”, salientou Martens.

Ao longo dessas mesmas linhas, o grupo de Swanson determinou que os microbiomas intestinais de seus objetos de estudo adultos retornaram aos perfis iniciais assim que o consumo das barras de cereais foi descontinuado.

Martens e seus colegas também observaram que camundongos com dietas consistentemente ricas em fibras consumiam menos calorias e eram mais magros que os animais alimentados com rações sem fibras. Isso evidenciou que elas [as fibras] beneficiam o corpo de várias maneiras.

“Estudos como esse são ótimos porque eles investigam os mecanismos para explicar por que fibras são benéficas”, resumiu Swanson.

Como todos esses trabalhos enfatizam, o microbioma intestinal é excepcionalmente maleável.

Essas rápidas adaptações influenciadas pela dieta provavelmente nos serviram muito bem ao longo de nossa história evolutiva, mudando mais rápido que nossa própria fisiologia, escreveram Justin Sonnenburg e Erica Sonnenburg em um artigo publicado em novembro de 2014 em Cell Metabolism.

“Ao delegar parte de nossa digestão e absorção de calorias aos nossos residentes intestinais, a parte microbial de nossa biologia poderia se ajustar facilmente a variações cotidianas ou sazonais de alimentos disponíveis”, argumentaram eles.

Novos estudos continuam a demonstrar que mudanças microbiais devido à dieta são, “em grande parte, reversíveis em escalas de curto prazo”.

Ainda assim, persiste a questão de como uma ingestão cronicamente baixa, ou pobre em fibras, ao longo de toda uma vida ou de gerações, pode alterar permanentemente nossos intestinos e nossa saúde.





Fonte: Katherine Harmon Courage - Scientific American






segunda-feira, 18 de maio de 2015

Truques para melhorar a cobertura wi-fi na sua casa.



Você tem uma rede de internet sem fio em casa mas não consegue acessá-la na sala de estar? O computador fica lento demais em determinado cômodo do domicílio?
Problemas assim são muito comuns. No entanto, é possível melhorar a cobertura da rede doméstica fazendo algumas mudanças e revendo algumas decisões tomadas para preparar a conexão.
Aqui estão alguns conselhos que você pode adotar para melhorar o acesso Wi-Fi na sua casa.

1) Confira se o roteador está em um lugar adequado
Faz alguns anos que você instalou a rede de internet sem fio na sua casa, mas é preciso parar e analisar qual é o melhor lugar da sua casa para colocar o roteador. Talvez você tenha escolhido um canto meio escondido para não interferir muito na decoração da casa, nem na disposição dos móveis.
Mas o roteador funciona com ondas, como as de rádio ou as do seu celular, ou seja, qualquer obstáculo no meio do caminho – uma cortina, um livro, etc – pode interferir na sua cobertura. A melhor estratégia é colocá-lo em um lugar alto, pois assim o sinal se expande para baixo e para os lados e ele fica livre de objetos ao redor.
Como o sinal se espalha em todas as direções, o melhor é colocar o roteador no centro do cômodo. Também é importante que você o coloque no local da casa onde mais irá utilizá-lo.
Alguns dispositivos, como telefone sem fio e microondas, podem interferir no sinal, por isso o ideal é não colocar o roteador perto desses itens.

2) Mudança de canal
É possível que, se você é o único da vizinhança com uma rede Wi-Fi no seu prédio, seu sinal seja bom. Mas sendo realista, isso é muito pouco provável. Muita gente tem conexão de internet sem fio atualmente e, com certeza, a sua rede está funcionando no mesmo canal que a de alguns dos seus vizinhos.
Fazendo algo simples – escolher o canal que está mais livre -, você pode melhorar muito a cobertura do seu Wi-Fi.
Existe uma variedade de aplicativos que te permitem saber qual canal você deve escolher.
Um dos mais usados é o WiFi Analyzer, para Android, que proporciona gráficos para ver qual canal está utilizando cada roteador para depois recomendar os melhores.
Para mudar o roteador de canal, você pode perguntar à empresa fornecedora do roteador ou usar o manual de instruções, se o aparelho for seu.

3) Proteja-se dos ladrões
Se, apesar de tudo isso, sua rede continuar funcionando com lentidão, pode ser que estejam ‘roubando’ seu Wi-Fi.
Para verificar isso, você pode usar alguns dos programas ou aplicativos que existem no mercado para indicar quais dispositivos estão conectados à sua rede em um determinado momento.
Se houver alguém usando sua rede, você deve ir às configurações do seu roteador para bloquear o acesso e limitar quem pode se conectar ao seu wifi por meio do MAC (controle de acesso à mídia) – para fazer isso, existem muitos tutoriais disponíveis na internet.
Outra coisa que você deve fazer é mudar a sua senha imediatamente. O melhor é sempre combinar letras e números e evitar senhas óbvias que, apesar de fáceis de lembrar, são muito simples para que outros possam roubar.

4) Melhore o alcance do seu roteador
Se você já tentou todas as opções anteriores e não conseguiu solucionar o problema, talvez não reste outra alternativa que não a de instalar um dispositivo adicional – especialmente se você vive em uma casa com vários pisos ou paredes muito grossas.
A primeira opção são os repetidores de Wi-Fi, que se conectam ao roteador por meio de um cabo Ethernet e reenviam o sinal a dispositivos mais remotos.
Esses repetidores devem estar sempre conectados por cabo com o roteador, o que pode causar uma inconveniência. Por isso, outra opção seria utilizar um dos chamados dispositivos PLC, ligados ao cabeamento da rede elétrica.








Quem paga a farra dos partidos políticos?





Apesar das arrecadações milionárias dos partidos entre empresas para as campanhas eleitorais, a maior parte dos recursos que passa pelas mãos dos dirigentes para manter suas estruturas, fora do período eleitoral, sai dos cofres públicos. Mais da metade dos 32 partidos registrados no País sobreviveu em 2013, o último ano com as prestações de contas completas disponíveis no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), quase exclusivamente do Fundo Partidário, uma parcela do Orçamento da União que é destinada ao custeio das legendas, que não param de se multiplicar. Das 32 siglas, 17 delas tiveram mais de 90% de suas receitas no Fundo em 2013.

Há legendas que só têm como fonte de renda o dinheiro público. É o caso de PCO, PROS e Solidariedade, cujo caixa foi formado 100% com verbas do Fundo, em 2013. Essas duas últimas siglas foram formadas em setembro de 2013 e, em 2014, mudaram um pouco de perfil. Outras, como PDT, PTB, PR, PTC, PTdoB e PCB tiveram 99% de suas receitas nos recursos públicos. A prestação de contas dos partidos à Justiça Eleitoral mostra que cada partido gasta esse dinheiro de um jeito. Há evidências de mordomias e até excentricidades pagas com dinheiro público, como carros de luxo e até um avião.

Movimentação

Em 2013, um ano em que não houve gastos com campanhas eleitorais, os partidos receberam 546,2 milhões de reais, sendo 362,7 milhões de reais de fundos públicos – o equivalente a 66% dos recursos. O dinheiro que sai da arrecadação de impostos para as legendas é uma bolada nada desprezível. E ainda vai aumentar. Graças a uma manobra feita pelos parlamentares na hora de votar o Orçamento de 2015, os recursos do Fundo foram triplicados e alcançarão 867,7 milhões de reais este ano. A presidenta Dilma Rousseff acabou sem espaço para vetar.
Para se ter uma ideia, toda a dinheirama que passou pelas contas dos partidos em 2013, somando fundos públicos e privados, seria suficiente para a construção dos 8.130 imóveis do Minha Casa, Minha Vida já contratados pela CEF (Caixa Econômica Federal) para serem construídos em Niterói e Belford Roxo, no Rio de Janeiro.

Esse dinheiro fácil motivou, durante muito tempo, a fábrica de legendas sem representatividade política. Com raras exceções, a maioria desses pequenos e médios partidos conta com uma atuação legislativa desvinculada de compromissos programáticos e ideológicos. Eles se movem ao sabor da liberação de cargos e recursos para emendas parlamentares, aumentando a fragmentação do Legislativo e, consequentemente, o balcão de negócios que acaba envolvendo a formação da base aliada do governo.

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Uma vez criadas, as legendas passavam a ter direito, automaticamente, à divisão de 5% do bolo do Fundo, mesmo sem eleger ninguém. Por conta de mudanças na legislação, os novos partidos não terão mais direito a essas benesses. Melhor para os que já têm registro definitivo. Das 32 siglas, apenas duas receberam mais dinheiro privado de doações do que público em 2013. No caso do PT, dos 170,7 milhões de reais que entraram em seu caixa, 58,3 milhões de reais, ou 34%, vieram do Fundo.

A arrecadação do PT naquele ano, no entanto, foi inflada por 79,8 milhões de reais em doações privadas obtidas pelo ex-tesoureiro João Vaccari Neto, atualmente preso por envolvimento na Operação Lava-Jato, a maior parte junto a empreiteiras.

Essa correlação de valores entre público e privado, porém, muda completamente em ano eleitoral. Em 2014, por exemplo, os partidos foram mantidos sobretudo com recursos de empresas. As 25 legendas pesquisadas movimentaram receitas da ordem de 1,3 bilhão de reais, sendo 298 milhões de reais do Fundo. O levantamento não incluiu todas as 32 agremiações porque, embora elas tenham entregue ao TSE a contabilidade de 2014, os processos de apenas 25 estão disponíveis para consulta por causa da tramitação interna do tribunal.

Do que foi contabilizado até agora em relação a 2014, mais da metade são doações para as campanhas eleitorais. Os campeões de arrecadação entre as empresas foram PT, (193 milhões de reais), PMDB (171 milhões de reais) e PSDB (169 milhões de reais).

Juntas, as três siglas concentraram 533 milhões de reais, 74% de tudo que foi doado para as campanhas. A prestação de contas também mostra que partidos da base aliada têm a preferência dos doadores. O PSD, criado em 2011 e que apoiou a reeleição de Dilma, recebeu 52,4 milhões de reais, mais do que a sigla anterior de Gilberto Kassab, o DEM, que em 2014, na oposição, teve 46 milhões de reais em doações para as campanhas.

Sem eleição, as contas de 2013 expressam os gastos dos partidos com o custeio de sua estrutura. Mesmo sem campanha, a segunda fonte de receita das legendas naquele ano foram as doações de pessoas jurídicas. E, nesse caso, verifica-se como o poder atrai a benevolência das empresas. O PT obteve 79,7 milhões de reais de empresas, muitas com relação direta com o governo.

 A Camargo Corrêa, investigada na Lava-Jato, foi quem mais contribuiu: 10,3 milhões de reais. O PMDB levantou 17,7 milhões de reais, sendo 11 milhões de reais da Odebrecht. Mas o PSDB, maior partido da oposição, não tem do que reclamar. Às vésperas do ano eleitoral, as empresas doaram 20,4 milhões de reais para os tucanos. Nesse caso, a maior benevolência veio da Queiroz Galvão, outra empreiteira envolvida na Lava-Jato.





Fonte: Jornal O Sul