sábado, 21 de julho de 2018

Como surgiram os primeiros "santos católicos "!

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“It’s hard to be a saint in the City” (“É difícil ser um santo na cidade grande”) cantava Bruce Springsteen em seu álbum de estreia, comentando o ambiente profano da Nova York dos anos 1970, com seus cafetões, apostadores e luxúria. “Quanto mimimi”, responderiam homens e mulheres de 2 mil anos atrás, que tiveram um bocadinho a mais de provações que o cantor americano para viver a experiência da santidade. Pois dureza mesmo era ser um santo no cristianismo primitivo, de raiz, aquele que se desenvolveu nos primeiros séculos d.C. O próprio ato de se assumir cristão na época já era uma decisão com mau prognóstico: implicava o heroísmo dos que se apresentam dispostos a morrer.

Diferentemente do que se vê hoje, quando os seguidores de Cristo estão na dianteira entre as religiões do mundo – com 2,2 bilhões de pessoas contra 1,6 bilhão de muçulmanos –, naqueles tempos eles formavam uma espécie de contracultura em oposição aos valores do Império Romano. Aos olhos das autoridades, a recusa dessa minoria em demonstrar devoção por deuses como Júpiter, Minerva e Apolo parecia coisa de traidor do Estado, alguém que contrariava a virtude cívica. Por isso, os que tinham fé naquele judeu que morreu num madeiro não eram exatamente bem-vindos.

Mas só começaram a ser perseguidos mesmo quando Nero lhes transferiu a responsabilidade pelo grande incêndio de Roma (64 d.C.) – que, na verdade, levava a assinatura do próprio imperador. Isso gerou uma onda de má vontade generalizada contra a nova seita, e todas as culpas imagináveis
começaram a pairar sobre os malfadados pioneiros da cristandade. Como disse o autor cartaginês Tertuliano (160 – 220): “Se o Tibre transbordou, se o Nilo permaneceu em seu leito, se o céu tem estado calmo, ou a terra em movimento, se a morte andou devastando, ou a fome trouxe seus tormentos, o grito imediato é ‘cristãos aos leões!’”.

Mesmo com tudo jogando contra, essa onda cristã – que começara em Jerusalém, com os apóstolos de Jesus – logo se espalhou na forma de comunidades da parte oriental do império, na Grécia e nas atuais Turquia e Síria, até chegar à própria Roma. O avanço rápido é creditado a Paulo de Tarso (futuro São Paulo), um perseguidor implacável de cristãos que teria presenciado uma epifania e se convertido, tornando-se não apenas o maior relações públicas da nova seita, como seu principal gestor. “Ele articulava ideias complexas e lidava bem com as palavras”, explica o historiador Geoffrey Blainey, professor da Universidade Harvard e autor de Uma Breve História do Cristianismo. “Estava disposto a viajar, pagando as despesas, para locais distantes aonde a mensagem cristã tivesse chegado e pudesse espalhar-se.” Quando acabou preso por incitar essas ideias subversivas, Paulo encarou a morte com a altivez que se espera dos santos. Na véspera de sua execução, teria dito: “Lutei o bom combate, terminei a carreira, mantive a fé”.

Entre o primeiro século da cristandade e o Édito de Tolerância (311 d.C.), do imperador Constantino, os maus-tratos aos cristãos variaram em quantidade e intensidade. Foram esporádicos e localizados até o período conhecido como o das Grandes Perseguições, entre os séculos 3 e 4 – quando a repressão foi sistematizada e aplicada em todo o Império Romano, nos governos de Valeriano e Diocleciano. Não que antes já não houvesse ferocidade no tratamento. As torturas reservadas aos primeiros seguidores de Cristo fariam Guantánamo parecer uma clínica de acupuntura.

Um exemplo: Inácio de Antioquia (35 – 108), importante teólogo do cristianismo primitivo, foi o primeiro cristão devorado por leões no Coliseu de Roma – um circo sádico dos horrores, que mesclava punição bárbara com espetáculo para a plateia. Crucificação, claro, também fazia parte do portfólio; não parou em Jesus de Nazaré. O aposóstolo Pedro teria morrido numa cruz de cabeça para baixo, e  André, também apóstolo, numa cruz em formato de “X”. Já o diácono Lourenço de Huesca (225 – 258) foi condenado a virar churrasco. Mesmo. Os algozes construíram uma espécie de grelha disposta em cima de brasas e colocaram o cristão ali, para torrar até a morte. Diz a lenda que São Lourenço teria encarado o martírio com bom humor, dizendo aos seus carrascos: “Este lado do meu corpo já está bem assado, podem me virar agora”.


Rituais secretos

O que os romanos não suspeitavam é que essa mesma violência abriria caminho para que os cristãos tivessem seus primeiros ídolos além de Jesus. “Sanguis Martyrum est semen Ecclesia”, diria Tertuliano – “o sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Tantos assassinatos por intolerância religiosa fizeram com que as comunidades cristãs passassem a descrever em texto as circunstâncias daquelas mortes. E a ideia era enviar esses relatos para que fossem lidos em voz alta – pelos raros letrados – em outros grupos de cristãos. Era uma forma de dar a esses mortos status de heróis – uma inspiração que produzia comprometimento. O Martírio de Policarpo, um relato do século 2 que tratava da morte de um bispo, já vinha com reflexões teológicas, fazendo uma analogia entre o sacrifício do personagem e o de Jesus, o modelo de todo comportamento justo. O passo seguinte seria a veneração daqueles que seguiram o exemplo do Cordeiro de Deus.

Um costume que logo ficou estabelecido foi dar atenção especial aos restos mortais dos mártires – quando sobrava alguma coisa dos seus corpos. Enterravam em locais que pudessem servir de ponto de encontro, para uma celebração anual do martírio dessas pessoas. Eram cemitérios secretos ou, quando em Roma, catacumbas – galerias subterrâneas, inacessíveis ao olhar dos perseguidores. Quanto mais os romanos torturavam e matavam cristãos, mais o calendário comemorativo aumentava – e eram confraternizações repletas de rituais. “As cerimônias de veneração nos túmulos dos mártires incluíam leituras, salmos e orações, e, possivelmente, a celebração da Eucaristia [aquele momento da missa em que o padre oferece a óstia ao fiel, representando o corpo de Cristo]”, aponta o teólogo Lawrence S. Cunningham, professor da Universidade de Notre Dame (EUA). Ao término do período das perseguições, esses ritos de veneração aos mártires já estavam consolidados entre as comunidades cristãs. Igrejas eram construídas em cima do pedaço de chão em que seus heróis estavam enterrados, locais que passaram a ser vistos como terra sagrada.

Quando o "cristianismo", finalmente, se tornou a religião número um do Império Romano, no século 4, as preces e as liturgias junto aos túmulos dos mártires já eram vistas como uma boa estratégia para se conseguir uma ajudinha dos céus – pedir auxílio aos mortos começava a cair no gosto da cristandade. Aqueles sacrificados pelo testemunho da fé, imitações próximas da virtude de Jesus, seriam mais do que exemplos de vida e de morte. Eram intermediadores do acesso ao poder de Deus. Supercristãos.


O paradoxo eremita

Por volta do ano 320, um número crescente de cristãos de regiões da Síria ou das proximidades do Rio Nilo deixavam seus povos para viver isolados – nas florestas ou no deserto, em cavernas ou cabanas simples. Aí passavam a se alimentar de vegetais crus ou de um pão doado por um admirador condoído – desde que o isolamento não fosse a quilômetros de qualquer possível doador – e viviam na mais completa penúria. As horas de seus dias se resumiam à prece, à contemplação e à tênue subsistência. Esses indivíduos, igualmente tocados pela fé cristã que movia os mártires, abdicavam dos objetivos comuns dos homens – paixões, família, a garantia de um prato quente à mesa, um banho –, para que nada os distraísse da prática religiosa. Ou mais do que isso: eles queriam atingir a perfeição espiritual. Uma busca que não passou despercebida: os eremitas começaram a ser vistos como seres iluminados, prováveis fontes de sabedoria profunda – ou capazes de uma cura milagrosa. Passaram à condição de celebridades, o oposto do que pretendiam.

No Egito, um expoente do eremitismo cristão – dos chamados “Padres do Deserto” – foi Antão, o Anacoreta, que teve sua história contada em 360 pelo teólogo Atanásio de Alexandria. Essa biografia, Vida de Santo Antão, tornou-se um clássico da literatura cristã, e teve o impacto de um mar se abrindo para um segmento da cristandade, inspirando uma produção volumosa de outros escritos – muito populares, inclusive – sobre a santidade dos eremitas, elevados a modelos da fé cristã. E havia cada eremita esquisito… São João Crisóstomo teria passado anos rastejando como um animal, para expiar seus pecados. São Simeão construiu uma coluna de pedra da altura de um prédio de seis andares, onde teria vivido exposto às intempéries por 37 anos. E lá de cima pregava para uma multidão de admiradores.

Outros decidiram optar por um isolamento light, excluindo-se da vida social, mas morando em comunidades de monges e freiras – ainda que em condições espartanas, em silêncio e com o mínimo contato com outras pessoas. Diferentemente do “cada um por si” dos eremitas hardcore, esses viviam em estruturas organizadas, seguras contra o ataque de feras ou de bandidos, e obedecendo a uma hierarquia, que tinha em seu topo a figura do abade. Eram os primeiros mosteiros da história.

Mas será que a veneração aos eremitas fazia sentido? Afinal, o que a experiência do ermitão teria a ver com os exemplos de Cristo? A despeito de seus 40 dias em jejum no deserto, Jesus preferiu passar todo o resto de sua existência conhecida bem acompanhado. Dedicava-se a ensinar e a discutir, o que também exigia gente em volta. E não há registro de que tenha defendido a mortificação em vida – pelo contrário, transformou água em vinho. Jesus queria levar a palavra de Deus aos povos, e seria completamente inviável fazê-lo escondido numa caverna a quilômetros do ser humano mais próximo. Há um outro ponto de vista, porém.

Assim como os primeiros indivíduos sagrados do cristianismo, que suportaram a tortura romana para confirmar sua fé, o asceta, em suas privações extremas, era ele também um mártir. E de um tipo muito especial: alguém que não experimentou o martírio apenas na iminência da morte, mas em todos os dias de sua vida. Ponto para os ermitões.

Foram esses homens e mulheres, os primeiros santos da Igreja Católica. Séculos antes da existência de uma canonização formal, o culto a eles já era indissociável das práticas cristãs. Brotou com o martírio de ex-soldados romanos convertidos e de judeus arrebatados pela história de Jesus, e encorpou com os relatos – muitas vezes extravagantes – dos eremitas. Uma adoração que a Igreja viria a ter o privilégio de administrar.
















Fonte: Alexandre Carvalho dos Santos/Super










quinta-feira, 19 de julho de 2018

Como o sol é uma bola de fogo se não há oxigênio no espaço?


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Bem, o fato é que o Sol não é uma bola de fogo. Na verdade, a luz e o calor que sentimos daqui da Terra nada mais são do que o resultado do gás hidrogênio aquecido a 2 milhões de graus Celsius. A essa temperatura, qualquer coisa libera energia na forma de luz e calor. Por isso, temos a impressão de que o astro é feito de fogo. A diferença é que a chama que sai das fogueiras é um dos produtos da combinação de certos compostos, como madeira, álcool ou gasolina, com o oxigênio da atmosfera. No caso do Sol, a energia surge de fusões nucleares. A violenta pressão no interior da estrela faz com que átomos de hidrogênio se juntem para formar átomos de hélio. Essa união também libera luz e calor, mas numa escala incomparavelmente maior.

Essa luz é tão intensa que arranca elétrons dos átomos que formam a capa gasosa do Sol, fazendo com que ela se comporte comoum plasma, o mesmo estado em que está o material que preenche as lâmpadas fluorescentes, por exemplo. “A camada externa do astro parece um fluido luminoso, formado por uma ‘pasta’ de elétrons e prótons soltos”, diz o astrônomo Roberto Costa, da USP. Para terminar, uma curiosidade: os planetas formados principalmente por gases, como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, não parecem fogueiras como o Sol. Mas, para quem os observa do espaço, suas superfícies gasosas dão a impressão de estarem derretendo.










Fonte : Mundo Estranho








quarta-feira, 18 de julho de 2018

Obesidade - Nem todos os gordinhos correm risco de vida!

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A ligação entre a obesidade e a expectativa de vida pode não ser tão óbvia assim. Pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, descobriram que pacientes obesos, mas com nenhum outro fator de risco metabólico, não apresentam aumento na taxa de mortalidade em relação às pessoas magras. Isso contraria a maior parte da literatura sobre o assunto, que inclui a obesidade como um risco por si só.

O estudo acompanhou 54.089 homens e mulheres, alguns apenas obesos e outros com disfunções associadas (cardiovasculares ou relacionados à glicose). Aqueles com a chamada obesidade metabólica saudável não tiveram uma taxa de mortalidade maior do que a média da população.

Hoje, qualquer um que estiver com o IMC acima de 30 kg/m2 é instruído a perder peso, como se o fato por si só já fosse um risco para a saúde. Mas a pesquisa apresenta outra maneira de enxergar a situação, ao constatar que 1 a cada 20 voluntários não apresentavam nenhum problema metabólico.

“Estamos mostrando que os indivíduos com obesidade metabolicamente saudável não estão em uma taxa de mortalidade elevada. Descobrimos que uma pessoa com peso normal e sem outros fatores de risco metabólicos tem a mesma probabilidade de morrer do que a pessoa com obesidade e sem outros fatores de risco”, diz Jennifer Kuk, coordenadora do projeto, ao Science Daily. “Isso significa que centenas de milhares de pessoas na América do Norte com obesidade metabolicamente saudável serão orientadas a perder peso, mesmo que o benefício para isso seja questionável.”

Calma, não tranque a matrícula na academia agora. O estudo não contesta, de nenhuma forma, os benefícios em praticar atividades físicas e nem de ter uma alimentação saudável. O que eles dizem é que, se você cuida da sua saúde, não precisa se preocupar com as gordurinhas aparecendo.










Fonte: Felipe Sali/Super



terça-feira, 17 de julho de 2018

Nova DST se espalha e é resistente a antibióticos!

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Uma infecção sexualmente transmissível pouco conhecida pode se transformar em uma superbactéria resistente a tratamentos com antibióticos mais conhecidos, segundo um alerta feito por especialistas europeus.

A Mycoplasma genitalium (MG), como é conhecida, já tem se mostrado resistente a alguns deles e, no Reino Unido, autoridades de saúde trabalham com novas diretrizes para evitar que o quadro vire um caso de emergência pública.

O esforço é para identificar e tratar a bactéria de forma mais eficaz, mas também para estimular a prevenção, com o uso de camisinha.

O que é a MG?
A Mycoplasma genitalium é uma bactéria que pode ser transmitida por meio de relações sexuais com um parceiro contaminado.

Nos homens, ela causa a inflamação da uretra, levando a emissão de secreção pelo pênis e a dor na hora de urinar.

Nas mulheres, pode inflamar os órgãos reprodutivos - o útero e as trompas de falópio - provocando não só dor, como também febre, sangramento e infertilidade, ou seja, dificuldade para ter filhos.

A infecção, porém, nem sempre apresenta sintomas.

E pode ser confundida com outras doenças sexualmente transmissíveis, como a clamídia, que é mais frequente no Brasil.

Preocupação
A ascensão da MG ocorre principalmente no continente europeu, mas, no Brasil, o Ministério da Saúde diz que monitora a bactéria tanto pelo aumento da prevalência quanto pelo aumento da resistência antimicrobiana.

Como a infecção por essa bactéria não é de notificação compulsória no país, ou seja, as secretarias de saúde dos Estados e municípios não são obrigadas a informar os casos, não se sabe quantas são as pessoas atingidas.

No entanto, segundo o Ministério da Saúde, estudos regionais demonstram que ela "é muito menos frequente que outros agentes como a N. gonorrhoeae (responsável pela gonorreia) e Chlamydia trachomatis (responsável pela clamídia) - que, quando não tratadas, também podem causar infertilidade, dor durante as relações sexuais, entre outros danos à saúde.

No Reino Unido, por outro lado, o quadro preocupa, segundo a Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV (BASHH, da sigla em inglês).

A associação afirma que as taxas de erradicação da bactéria após o tratamento com um grupo de antibióticos chamados macrolídeos estão diminuindo.

E que a resistência da MG a esses antibióticos é estimada em cerca de 40% no Reino Unido. "60% das infecções permanecem sensíveis a macrolídeos como a azitromicina", diz o médico Paddy Horner, da Associação Britânica de Saúde Sexual e HIV e responsável por desenvolver as diretrizes relacionadas à doença.

Segundo Horner, "antes de 2009 "quase todas as infecções" por Mycoplasma genitalium eram sensíveis a esse grupo de antibióticos.

Diretrizes
Novas diretrizes detalhando a melhor forma de identificar e tratar a MG estão sendo lançadas, nesse contexto, no Reino Unido.

Já existem testes para detectar a bactéria, mas eles ainda não estão disponíveis em todas as clínicas da Inglaterra, onde os médicos podem, entretanto, enviar amostras para o laboratório da Public Health England - a agência executiva do Departamento de Saúde e Assistência Social - para obter um diagnóstico.

Peter Greenhouse, especialista em DSTs, recomenda às pessoas que tomem precauções.

"Já é hora de o público aprender sobre a Mycoplasma genitalium", disse ele. "É mais um bom motivo para por camisinhas nas malas das férias de verão - e realmente usá-las."

O Ministério da Saúde do Brasil também recomenda o uso da camisinha, masculina ou feminina, para evitar essa e outras doenças
No Brasil, o Ministério da Saúde afirma que "a realidade ainda é muito diferente da Inglaterra", mas que é necessário identificar os casos e tratá-los "para interromper a cadeia de transmissão".

"Vale destacar que a camisinha masculina ou feminina é fornecida gratuitamente pelo Sistema único de Saúde (SUS), podendo ser retirada nas unidades de saúde de todo o país", lembra.









Fonte : Renata Moura/Bbc




sábado, 14 de julho de 2018

Brasil - Quem lembra do massacre dos Carajás?


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O deputado federal e pré-candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, defendeu os policiais que participaram do Massacre de Eldorado dos Carajás no exato local dos 19 assassinatos nesta sexta (13). ”Quem tinha que estar preso era o pessoal do MST, gente canalha e vagabunda. Os policiais reagiram para não morrer”, disse Bolsonaro no registro do repórter Leonencio Nossa, do jornal O Estado de S.Paulo.

O Brasil desmemoriado talvez não se lembre do que foi o massacre, o horror sentido país afora e a vergonha internacional que isso nos causou. Para quem se lembra, a imagem de um político atacando os sem-terra mortos em seu memorial como parte de uma estratégia de campanha para ganhar espaço na mídia, buscar votos de certos fazendeiros e policiais e receber chuvas de likes de gente desinformada soa como ignomínia. Visitei o memorial pelos mortos diversas vezes. Deveria ser um local de reflexão sobre nossa ignorância, não um espaço para que ela aflorasse.

Dito isso, não vale perder tempo criticando marketing eleitoral de mau gosto. Mas sim explicar o que foi Eldorado dos Carajás e suas consequências à população para a qual Eldorado dos Carajás não significa nada. Pois a certeza da impunidade deixada pelo massacre segue produzindo filhos em toda a Amazônia. Por exemplo, em maio do ano passado, não muito longe dali, dez trabalhadores rurais sem-terra foram executados pela polícia no que ficou conhecido como o Massacre de Pau d’Arco.

O que foi o massacre?
O Massacre de Eldorado dos Carajás foi o palco da execução de 19 sem-terra e deixou mais de 60 feridos em uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia PA-150, no Sudeste do Pará, no dia 17 de abril de 1996. Duas pessoas foram condenadas por reprimir com morte a manifestação: o coronel Mario Colares Pantoja (a 228 anos) e o major José Maria Pereira Oliveira (a 154 anos), que estavam à frente dos policiais.

O massacre se fez apenas com duas pessoas? 
Os responsáveis políticos na época, o então governador Almir Gabriel (que ordenou a desobstrução da rodovia) e o secretário de Segurança Pública, Paulo Câmara (que autorizou o uso da força policial), nunca foram processados. Outros 142 policiais militares que participaram da matança foram absolvidos. Isso sem contar que as denúncias de fazendeiros locais que teriam dado apoio para a ação policial ficaram por isso mesmo.

O massacre foi algo novo no Pará?
Se fossemos contar todos os casos anteriores de sindicalistas, trabalhadores rurais, camponeses, indígenas cujos carrascos nunca foram punidos no Pará, teríamos o maior post de todos os tempos. Por exemplo, na década de 80 e 90, os fazendeiros resolveram acabar com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, no Sul do Pará, e assassinaram uma série de lideranças. Foram a julgamentos, houve condenações, fuga de pistoleiros, mandantes que viveram em paz até a sua morte natural. A certeza da impunidade pavimenta a tortura e a violência contra trabalhadores e populações tradicionais no Pará. Periodicamente, lideranças sociais são agredidas e mortas na Amazônia. Alguns casos são mais conhecidos e ganham mídia nacional e internacional – como as mortes da irmã Dorothy Stang (em fevereiro de 2005, em Anapu) e das lideranças extrativistas Maria e Zé Cláudio (em maio de 2011, em Nova Ipixuna). Mas a esmagadora maioria passa como anônima e é velada apenas por seus companheiros. Mudanças positivas têm acontecido na Justiça no Pará graças à sociedade civil, à imprensa e a promotores, procuradores e juízes que têm a coragem de fazer o seu trabalho, mesmo com o risco de uma bala atravessar o seu caminho. Mas tudo isso é muito pouco diante do notório fracasso em garantir a dignidade daqueles que lutam com melhores condições de vida até o presente momento.

Um massacre gera filhos?
Muitos. Por exemplo, uma ação conjunta das Polícias Militar e Civil do Pará, em maio do ano passado, levou à morte de nove homens e uma mulher no município de Pau d’Arco. Segundo o governo do Estado, os policiais estariam cumprindo mandados de prisão de acusados de assassinar um segurança de uma fazenda, mas a Comissão Pastoral da Terra afirma que foi uma execução em uma ação de despejo. Os policiais tem sido soltos e presos em uma gangorra judicial desde então. Pau d’Arco tem o mesmo cheiro e gosto que Eldorado dos Carajás. Mas repercutiu bem menos dentro e fora do país. Não por conta dos nove mortos a menos, mas pelo massacre de 1996, que não recebeu devida Justiça, ter aberto uma porteira para outras ocorrências. Como as nove pessoas que foram assassinadas em uma área próxima a um assentamento em Colniza (MT), município que faz divisa com os Estados do Amazonas e Rondônia, em abril de 2017. Dois foram mortos a facadas e sete com tiros de calibre 12 por pessoas encapuzadas, de acordo com sobreviventes. Pegue diferentes matérias sobre os assassinatos no campo. Verá que é só trocar o nome dos mortos, do município (às vezes, nem isso) e onde foi a emboscada para serem a mesma matéria. As mesmas desculpas do governo, os mesmos planos de ação parecidos, as mesmas reclamações da sociedade civil, os mesmos grupos sendo criados para debater e encontrar soluções. Pode-se prender um ou dois. Mas as condições que fizeram Eldorado dos Carajás estão aí produzindo vítimas. De novo. E de novo. E de novo.

O massacre foi algo isolado?
As mortes no campo são resultado de um modelo de desenvolvimento concentrador e excludente, que fomenta a grilagem de terras e a especulação fundiária. E está pouco se importando com o respeito às leis ambientais, por que acredita que o país tem que crescer rápido, passando por cima do que for. Esse modelo explora mão de obra, chegando a usar trabalho escravo a fim de facilitar a concorrência (desleal) e o dumping social em cadeias produtivas cada vez mais globalizadas (o Pará é o Estado com maior incidência de trabalhado escravo: dos 52.766 libertados, entre 1995 e 2017, 13.211 (25%) estavam lá, a maior parte na pecuária bovina). Tudo com a nossa anuência, uma vez que consumimos os produtos de lá alegres e felizes com nossa ignorância, elogiando algumas marcas e empresas que – ao contrário de nós – não estão imersas em ignorância.

O massacre feito por policiais é apenas culpa do poder público?
A pergunta é: quem comanda o quê? Há uma relação carnal que se estabelece entre o público e o privado na região amazônica. O detentor da terra exerce o poder político, através de influência econômica e da coerção física. É frequente, por exemplo, encontrar policiais que fazem bicos como seguranças de fazendas por conta da baixa remuneração de sua atividade. Em outros casos, as tropas públicas ficam diretamente a serviço de particulares. Sabe qual a chance de trabalhadores rurais que solicitam a destinação de terras griladas para a reforma agrária ou de comunidades tradicionais que exijam a devolução de terras roubadas terem o mesmo sucesso que grandes proprietários que pedirem a desocupação de terras? Anos atrás, grandes proprietários rurais e suas entidades patronais chegaram a demandar intervenção federal no Pará uma vez que o poder público local não estava sendo célere – em sua opinião, claro – para garantir reintegrações de posse de terras (muitas das quais, com sérios indícios de grilagem). Se fossem trabalhadores pedindo isso, o ato seria encarado como um levante e reprimido à bala.

A quem interessa que massacres no campo continuem acontecendo?
Não é de hoje que as regiões de expansão agropecuária e extrativista da Amazônia e do Cerrado vivem uma situação de conflito deflagrado. O Estado brasileiro tem sido incompetente para prevenir e solucionar crimes contra a vida no campo e há uma situação clara de conflito deflagrado. Mortes no campo não são de hoje, mas há muitos produtores rurais e extrativistas gananciosos que estão com sangue nos olhos. Sentem-se fortalecidos por verem no atual governo federal um aliado para suas demandas. Tem sido um bom negócio para ambas as partes: eles garantem a manutenção de Michel Temer (inclusive com a concessão de votos para livrar seu pescoço das denúncias de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça) e, em troca, ganham perdões bilionários e apoio para sua pauta de retorno ao feudalismo. Querem mudar as regras da demarcação de territórios indígenas, suprimir ainda mais a proteção ambiental, ”flexibilizar” as regras para a implantação de grandes empreendimentos, enfraquecer o conceito de trabalho escravo contemporâneo, atenuar a punição para as piores formas de trabalho infantil. E, principalmente, desejam manter sob seu domínio a terra que, muitas vezes, grilaram da coletividade ou roubaram de comunidades tradicionais. Passando bala em quem estiver no meio do caminho, em alguns casos. Qual o município mais violento do Brasil? Rio de Janeiro, com seus 40 mortos por 100 mil habitantes? Não, Altamira, no Pará, com seus 107 mortos por 100 mil habitantes.

Em tempo: Um grupo de homens armados atacou um acampamento com dez famílias de trabalhadores rurais no município de São João do Araguaia, próximo à Marabá, no Estado do Pará, em maio deste ano. Encapuzados, chegaram às margens do rio Araguaia, onde elas estavam acampadas, em duas caminhonetes com pistolas, revólveres e escopetas. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, adultos e até bebês foram vítimas de uma sessão de tortura por quase uma hora. ”Os adultos foram espancados a golpes de paus, facões e coronhadas. As marcas ficaram espalhadas pelos corpos dos trabalhadores. Os pistoleiros dispararam suas armas próximo do ouvido de duas crianças gêmeas de três meses de idade para aterrorizar sua mãe. Atiraram em redes com crianças dentro, além de derrubarem e pisotearem crianças no chão. Uma das mães que estava grávida, que também foi pisoteada e teve sangramento”, afirma nota da Comissão Pastoral da Terra. No acampamento, havia crianças entre três meses e dez anos de idade.

Malditas crianças, canalhas e vagabundas.










Fonte: LEONARDO SAKAMOTO

terça-feira, 10 de julho de 2018

Heroína - O segundo produto mais exportado de Moçambique!

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A cada ano, cerca de 40 toneladas do total de heroína que entra na Europa passam muito provavelmente por Moçambique, país não produtor e com baixíssimos níveis de consumo da droga. Acredita-se que a heroína já ocupe o posto de segundo maior item em valor exportado pelo país africano.

O pesquisador Joseph Hanion, professor visitante da London School of Economics, editor do "Mozambique Political Process Bulletin" e especialista no tema, explica no texto a seguir como a movimentação da heroína através do território moçambicano ganhou força com a ampliação da rede de telefones celulares no país africano e como traficantes usam o WhatsApp para burlar o controle da polícia:

"Com a intensificação do policiamento em outras rotas tradicionais, os traficantes vêm constantemente buscando caminhos alternativos, mesmo que mais longos, para levar a droga desde a origem no Afeganistão até o lucrativo mercado europeu.

Do Afeganistão, a heroína é transferida para o sul do Paquistão, onde é carregada em barcos motorizados típicos, conhecidos como dhow, que seguem pelo oceano Índico até o litoral norte de Moçambique.

Assim que a carga alcança águas moçambicanas, donos de pequenas embarcações, motoristas de caminhões e centenas de outros trabalhadores são recrutados pela operação do tráfico internamente em Moçambique por meio de mensagens de WhatsApp.

Um enorme contingente é acionado por telefones celulares para escoamento da droga desde o recebimento do exterior até o repasse para a Europa por via marítima ou rodoviária.


Operação de transferência
Os dohws ficam ancorados ao largo da costa e o transporte da droga até terra firme é feito por pequenas embarcações.

Da praia, a heroína é transferida para galpões onde é carregada em caminhões que seguem por terra numa viagem de 3 mil km até Joanesburgo, na África do Sul.

De lá, os traficantes escondem a droga em contêineres de exportação de diferentes produtos que seguem por navio para países europeus.

Grande parte da heroína também é enviada diretamente de um porto moçambicano para a Europa escondida em meio a produtos legalmente exportados.

'Receita de exportação'
Apesar de serem embarcações de médio porte, cada dohw tem capacidade de transportar uma carga de até uma tonelada de heroína. E pelo menos um dohw com heroína chega a Moçambique a cada semana, exceto durante os meses das tempestades de Monções, que tornam a navegação extremamente perigosa.

Estima-se, portanto, que até 40 viagens sejam feitas a cada ano pelos dhows transportando a droga até Moçambique - o que significa que transitam pelo país, anualmente, cerca de 40 toneladas de heroína.

Neste ponto da rota do tráfico para a Europa, o preço da heroína fica em torno de US$ 20 milhões por tonelada. Isso significa que a droga movimentada através do país africano rende entre US$ 600 milhões a US$ 800 milhões a cada ano, fazendo da heroína o segundo maior produto exportado em valor por Moçambique, atrás apenas do carvão, cuja venda ao exterior gera ao país US$ 687 milhões.

Do valor total gerado pelas exportações de heroína, estimo que cerca de US$ 100 milhões permaneçam no país africano, tanto na forma de lucro retido por traficantes locais quanto em pagamento de propinas, incluindo a corrupção de membros do partido do governo Frelimo.

Corrupção e tráfico
Desde o ano 2000, o comércio de heroína vem sendo feito por meio de algumas empresas exportadoras estabelecidas em Moçambique. Elas usam seus galpões para armazenamento da droga que acabam por esconder no meio de produtos exportados legalmente.

Na operação, essas empresas usam também seus próprios funcionários e veículos para a movimentação da heroína traficada pelo país.

Nos portos moçambicanos de Beira e Nakala, fiscais alfandegários são instruídos a não vistoriar os contêineres de certas empresas para que a droga não seja descoberta antes do embarque.

Um porta-voz da polícia de Moçambique disse que as autoridades estão investigando o possível envolvimento de membros do partido do governo. Ele acrescentou que a tarefa da polícia de impedir o tráfico de heroína através do país tem sido extremamente difícil.

"Nosso país tem condições geográficas favoráveis ao contrabando, possui um longo litoral e uma imensa fronteira terrestre que facilitam a operação dos traficantes."

Por seu lado, a comunidade internacional tem ignorado amplamente o tráfico de heroína que passa por Moçambique para que a repressão não acabe afetando de alguma forma a reforma que está sendo promovida no país em outros setores, como por exemplo, o estímulo para que o setor privado assuma maior papel na economia moçambicana.

WhatsApp
Iniciativas empresariais menos estruturadas podem ser encontradas nos desdobramentos do comércio de heroína, onde se nota a aplicação da criatividade típica da economia informal.

O recrutamento de trabalhadores avulsos é normalmente feito via telefone celular utilizando apps específicos.

Para isso, o tráfico tem se valido da crescente corrupção no país, como também da expansão da rede de telefonia celular em Moçambique e do crescimento no país da popularidade do WhatsApp, o aplicativo que permite a comunicação através de mensagens protegidas por códigos.

Um motorista de caminhão ou o dono de uma pequena embarcação recebe uma mensagem por WhatsApp informando local e hora em que deve coletar a carga de heroína e o valor que irá receber pelo serviço.

Ninguém conhece a identidade do remetente das mensagens ou ao menos o local de que foi enviada.

Para os traficantes, emitir ordens para a movimentação de 20 quilos de heroína é tão fácil quanto contratar uma corrida de táxi pelo aplicativo de transporte Uber, e tudo é feito em total segredo.

Aperfeiçoamento das comunicações
Vinte anos atrás, os deslocamentos dos carregamentos de heroína pelas estradas de Moçambique eram sempre acompanhados de policiais corruptos para garantir que os caminhões não seriam incomodados em barreiras existentes ao longo do percurso.

Com a melhoria gradativa da telefonia celular no país, os motoristas que eram parados em postos de controle na estrada passaram a esperar por uma mensagem em que lhes era passado um número para ligar e autorizar a liberação da carga.

Atualmente, com a maior disseminação da corrupção em Moçambique, os motoristas recebem uma quantia em dinheiro que usam para subornar os policiais em barreiras rodoviárias. O que conseguirem economizar até o destino final, podem reter como forma de remuneração pelo transporte do contrabando.

África do Sul
Não tem havido apreensão significativa de heroína em território moçambicano, entretanto, as autoridades sul-africanas de fronteira têm conseguido impedir que parte da droga entre em seu país.

A rota de exportação pelo continente africano tem causado um aumento no número de usuários na Cidade do Cabo e em outras grandes cidades da África do Sul.

Estas apreensões têm revelado que os traficantes preferem embalar a heroína no Afeganistão em pacotes de 1 quilo, provavelmente para impedir que a carga seja adulterada ao longo do trajeto. Entre os nomes preferidos pelos traficantes na rotulação da droga estão Topaki, 555 e Africa Demand.

Ordem de compra via aplicativos
Neste mundo moderno de apps e de mensagens encriptadas, um traficante na Europa pode emitir uma ordem de compra de 100 quilos de heroína 555 que será enviada a um distribuidor em qualquer parte do planeta.

Por sua vez, o distribuidor reúne várias ordens que vão compor a carga de uma tonelada que será transportada por um dhow.

Usando WhatsApp, ele também se encarrega de acertar com contatos locais a coleta da droga em Moçambique e a transferência para os armazéns.

Nesses galpões, a carga é então separada de acordo com cada ordem de compra individual que, por sua vez, vai seguir viagem até Joanesburgo, de onde será transportada para seu destino final em cidades europeias ou enviada de Moçambique diretamente ao comprador na Europa.

A agilidade da operação faz com que o contrabando de heroína em Moçambique se assemelhe ao comércio de outra mercadoria qualquer - a droga é apenas mais um produto sendo movimentado pelo país sob a coordenação de organizações internacionais."










Fonte : BBC









segunda-feira, 9 de julho de 2018

A inacreditável hipocrisia de Galvão e Ronaldo ao falar de corrupção na CBF e no país.

Resultado de imagem para corrupção na cbf e a Globo

Após o fim jogo em que o Brasil foi eliminado pela Bélgica, Galvão Bueno pôs-se a deblaterar sobre a corrupção na CBF.

Ladeado por Casagrande e Ronaldo, lembrou que um presidente (José Maria Marin) “foi afastado”.

“É um momento de parar pra pensar”, lamentou, rouco e abatido, ligeiramente inchado, num discurso meia sola interminável.

O Fenômeno fez um aparte.

Vivemos “um momento difícil da política no Brasil e pior ainda no futebol”, lembrou o sujeito que fez campanha para Aécio Neves em 2014.

Segundo Galvão, tem “muita coisa pra melhorar”.

“Uma vitória na Copa não melhora os problemas muito sérios do país”, acrescentou.

É inacreditável.

A Globo foi parceira de todos os bandidos da CBF, sem exceção, que cultivou e poupou até a situação deles ficar insustentável. Todos, de Havelange em diante.

Não pagou imposto pela aquisição dos direitos de transmissão do mundial de 2002.

Em 2011, a revista Piauí publicou uma longa e reveladora matéria sobre esse casamento.

Pois é
Ricardo Teixeira e a repórter Daniela Pinheiro se encontraram em Zurique dez vezes. “Só jornalista fala mal de mim”, disse o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Não os da Globo.

Teixeira se orgulhava da emissora não repercutir denúncias contra ele. “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”, relatou.

Daniela contava de um empresário que lhe confidenciou o receio de ser entrevistado pela Globo sobre pacotes de viagem para a Copa de 2014 vendidos com “preços estratosféricos”.

“Não vai ter isso, não: está tudo sob controle”, disse o cartola.

Daniela menciona um Globo Repórter sobre a CPI da Nike em que se deixava claro que o estilo de vida do empresário era incompatível com sua suposta renda.

Teixeira deu o troco alterando o horário de uma partida entre Brasil e Argentina.

Foi a última ocasião em que saiu uma matéria séria sobre ele e sua organização.

“Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo”, afirmou.

“Em 2014 posso fazer a maldade que for. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada”.

A promiscuidade era absoluta.

De acordo com a reportagem, antes de pagar a conta no restaurante, Teixeira falou pelo telefone com Evandro Guimarães, lobista da Globo em Brasília. “Trocou ideias sobre inseminação de bovinos, uma de suas mais novas atividades”, relata Daniela Pinheiro.

A capacidade de tratar seu público como otário é o diferencial absoluto do grupo dos Marinhos. Galvão é só o papagaio da história.

Qualquer reforma verdadeira no futebol passaria por rever o conúbio entre Globo e CBF. O resto é silêncio.







Fonte: Kiko Nogueira