O asteroide 2012 DA14 será o primeiro objeto de seu tamanho a passar tão perto da Terra. Ela não oferece perigo, mas serve para lembrar que a Terra está constantemente ameaçada. Conheça os planos dos cientistas para lidar com objetos maiores e mais destrutivos
Asteroide perto de atingir a Terra: impactos de corpos dessa magnitude são raríssimos, mas podem acabar com espécies inteiras, como já aconteceu com os dinossauros. Para a humanidade não ter o mesmo destino, cientistas financiados pela NASA buscam soluções a curto e a longo prazo. Vale até bomba nuclear para explodir os asteroides (Thinkstock)
No final da tarde desta sexta-feira, o asteroide 2012 DA14 vai passar raspando pela Terra. O corpo de 45 metros de diâmetro vai passar a apenas 27.700 quilômetros da superfície do planeta, chegando a invadir a órbita de alguns satélites. Desde que esse tipo de medição é realizada, é a primeira vez que um objeto desse tamanho passa tão perto. Por sorte, os cientistas já sabem que não há nenhum risco de colisão. Mesmo assim, uma passagem tão próxima pegou os astrônomos de surpresa — eles sabem do evento há cerca de apenas um ano — e serve para lembrar que a Terra está localizada em uma espécie de campo minado galáctico, cercada por todos os lados por asteroides e cometas imensos. Enquanto isso, a humanidade parece dar os primeiros passos para garantir um futuro diferente dos dinossauros — extintos após a queda de um meteorito há 66 milhões de anos.
O asteroide 2012 DA14 tem uma órbita de 368 dias em torno do sol, muito similar à da Terra, o que garante que os dois astros se encontrem pelo menos uma vez a cada ano. Desta vez, o momento de maior proximidade entre os dois corpos se dará às 17h24 desta sexta-feira, quando o asteroide sobrevoará o Oceano Índico, próximo da ilha de Sumatra. Nessa hora, ele estará mais baixo que os satélites em órbita geoestacionária, como os de televisão e geolocalização — mas ainda estará acima de todos os outros. Sua distância da Terra será apenas um décimo da que separa o planeta da Lua.
Mesmo com toda essa proximidade, ele foi descoberto somente no dia 23 de fevereiro do ano passado, por astrônomos do La Sagra Sky Survey, um observatório localizado no sul da Espanha. Como ele, existem muitos outros asteroides. Os astrônomos preveem que existam pelo menos 500.000 outros de mesmo tamanho com órbitas próximas à Terra, mas só foram capazes de localizar 1% deles.
A verdade é que a Terra está sendo bombardeada por rochas espaciais a todo o momento. Quando são muito pequenas, se desfazem na atmosfera — são as estrelas cadentes. "Blocos um pouco maiores também entram constantemente no planeta. Na grande maioria das vezes, caem em áreas desabitadas, como desertos, florestas e mares e passam despercebidos", diz Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo. O problema é quando o asteroide tem algumas dezenas de metros — o impacto seria devastador.
Meteorito russo – Os astrônomos já conhecem a rota do asteroide 2012 DA14 e sabem que ele não vai chegar a tocar o planeta. No entanto, se ele caísse na Terra, a destruição seria enorme. O impacto liberaria aproximadamente 2,5 megatons de energia na atmosfera, cerca de 200 vezes a energia liberada pela bomba de Hiroshima, causando devastação regional.
Os cientistas comparam as consequências desse impacto imaginário ao causado por um meteorito que caiu na Sibéria em 1908, no que ficou conhecido como Evento de Tunguska. Ele era um pouco menor que o 2012 DA14 — não passava dos 40 metros — mas destruiu cerca de 1.200 quilômetros quadrados de floresta. "O asteroide devastou completamente a região, que era inóspita. Ele não chegou a atingir o solo, se desintegrou no ar. Mas a desintegração foi tão violenta que a onda de choque e calor queimou as árvores em volta. Se caísse em uma região densamente povoada, a destruição iria ser brutal", diz Enos Picazzio.
Para calcular o impacto de um asteroide na Terra, os cientistas precisam levar uma série de variáveis em conta. Seu grau de ameaça pode variar conforme o tamanho, a área que atingir, sua composição e velocidade no espaço. “Toda a energia cinética do asteroide é transferida para o solo – é isso que causa o estrago. A energia dissipada por uma colisão dessas é maior do que qualquer coisa criada pelos homens. Para se ter uma ideia, um corpo desses pode colidir com a Terra a uma velocidade de 30 quilômetros por segundo. Se alguém visse um asteroide passando na altura de um avião, levaria menos de um segundo para ele bater contra a superfície”, diz Enos Picazzio.
Um estudo de 1994, publicado por cientistas da NASA na revista Nature, tentou levar essas variáveis em conta e fazer uma média dos danos causados pelo impacto de um meteorito. Segundo os cálculos, asteroides com mais de 50 metros caem na Terra com uma frequência de entre 250 e 500 anos, causando em média cinco mil mortes. Objetos com mais de um quilômetro, caem a cada um milhão de anos e podem causar um bilhão de mortes. Já os corpos com mais de seis quilômetros, capazes de causar extinções em massa como a que matou os dinossauros, caem a cada 100 milhões de anos. Mesmo raros, esses eventos são muito perigosos, e chamaram atenção da comunidade científica, que já começou a pensar em como se defender.
Fonte: Guilherme Rosa/Veja
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