segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Ah...! Se Eduardo Cunha fosse deputado na Suécia...!

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As trevas que escurecem os céus às três e meia da tarde, neste nebulento outono sueco, são um convite a conversas e especulações tenebrosas. Lanço a pergunta aos meus convivas: e se o impoluto Presidente do Parlamento sueco, num delírio lancinante, abrisse quatro contas secretas na Suíça, mentisse para os nobres colegas da Câmara e se tornasse personagem de uma investigação das autoridades suíças sobre corrupção passiva e lavagem de dinheiro?

“Eu seria a primeira cidadã a entrar com uma ação judicial contra ele”, responde a nossa anfitriã da tarde, que durante seis anos foi a porta-voz do primeiro-ministro sueco. À volta da mesa, os demais comensais, incluindo um ex-deputado, balançam a cabeça em sinal afirmativo.

Sim: na Suécia, qualquer cidadão tem o direito de se dirigir à polícia, ou à Procuradoria Geral de Justiça, e apresentar uma denúncia criminal contra qualquer político.

“E pela lei, tanto a polícia como os promotores têm a obrigação de investigar uma denúncia pública, que poderá se converter assim em uma ação penal”, diz na roda da conversa um dos sócios do Mannheimer Swartling, o maior escritório de advocacia da região nórdica.

Nenhum político sueco tem direito a imunidade parlamentar, que na lógica sueca nada mais é do que um salvo-conduto para roubar, desviar e achacar. Políticos suecos também não têm direito a foro privilegiado – nem mesmo o Presidente do Parlamento sueco, que é o mais alto cargo político do país: na hierarquia do poder, ele está acima do primeiro-ministro, e abaixo apenas do rei, que tem a protocolar função de Chefe de Estado.

Vou em busca de informações junto ao Procurador-Chefe do Särskilda Åklagarkammaren, o órgão especial da Procuradoria Geral da Suécia que investiga denúncias contra políticos, policiais, magistrados, promotores e juízes da Suprema Corte.

“Suspeita de corrupção contra um presidente do Parlamento sueco? Nunca ouvi falar nisso. Preciso verificar os procedimentos. Volte a ligar amanhã”, diz o Procurador-Chefe, Mats Åhlund.

Enquanto isso, decido ir ao encontro de um deputado do Parlamento sueco com a pergunta: quanto tempo o presidente do Parlamento sueco permaneceria no exercício de suas funções, caso estivesse sob uma investigação criminal?

“Aqui na Suécia, os políticos têm que se afastar de suas funções até quando são flagrados numa blitz por beber e dirigir”, diz o deputado Kent Härstedt. “Porque um sistema político deve ser extremamente exigente com aqueles que violam a lei. Mesmo quando não se trata de um crime grave”.

Via de regra, um político sueco acusado ou suspeito de algum ato impróprio sempre se afastará temporariamente do cargo. É o que se chama informalmente, nos círculos políticos suecos, de fazer um “time-out”.

“Caso as acusações se provem infundadas, o presidente do Parlamento ou qualquer outro político suspeito poderá, aí sim, retomar suas funções”, prossegue Härstedt.

“Mas enquanto estiver sob suspeita, um político sueco se afastará de suas funções, e por iniciativa própria, a fim de evitar constrangimentos ao seu partido. Ninguém precisaria exigir ou pedir a ele, ´você deve sair´”, pontua o deputado.

Como quem recita o trecho de um romance policial no melhor estilo Stockholm noir, passo a narrar ao deputado sueco os palpitantes acontecimentos envolvendo o presidente do Congresso brasileiro.

“‘Oh my God!’ (´Oh meu Deus!’)”, exclama o deputado, ao ouvir as acusações feitas pelo Ministério Público da Suíça contra Eduardo Cunha.

“O presidente do Congresso nega todas as acusações”, ressalto. “Mas há evidências de que o deputado usou o nome da própria mãe, como contrassenha a ser usada em consultas ao banco suíço”, prossigo.

“‘Oh my God!’”, repete Kent Härstedt, deixando escapar risos nervosos.

Conto a ele, então, que o presidente do Congresso brasileiro nunca declarou a existência das contas às autoridades brasileiras, e que chegou a afirmar, diante de uma CPI do Congresso, que não possuía contas no exterior. Ele tenta se defender agora argumentando que não se trata de contas, e sim de trustes, e que ele é apenas “usufrutuário em vida” do dinheiro.

“‘Jesus!’”, exalta-se mais uma vez o deputado sueco.

Digo a ele que Jesus, na verdade, é o nome da empresa do evangélico deputado, a Jesus.com, em nome da qual Cunha e a mulher têm uma frota de carros de luxo avaliada em R$ 642 mil. E que, apesar de todas as evidências apresentadas e da seriedade das acusações que pesam contra ele, o presidente do Congresso brasileiro se recusa a afastar-se do cargo.

“Uma situação como essa só pode ocorrer em um país que ainda tem instituições frágeis”, diz Kent Härstedt, formulando, enfim, uma frase.

“Em sociedades onde há instituições fortes e independentes, uma imprensa livre e um Judiciário limpo, ninguém está acima da lei. Outro pilar determinante de uma sociedade justa é o grau de escolaridade de uma população, que estabelece sua capacidade de compreender o que ocorre nos poderes do país”, acrescenta o deputado sueco.

Volto a ligar para o Procurador-Chefe Mats Åhlund, que já se inteirou sobre os procedimentos na Suécia para o caso hipotético de uma denúncia criminal contra o presidente do Parlamento sueco: sim, o político poderia ser denunciado por qualquer cidadão, ser processado como qualquer cidadão – e ser julgado, como qualquer cidadão, por um juiz de primeira instância.

“Os cidadãos são livres para vir até mim, ou à polícia, e fazer uma denúncia contra o presidente do Parlamento sueco”, confirma Åhlund.

“A denúncia também pode partir diretamente dos serviços de inteligência da polícia, ou ser deflagrada por minha própria iniciativa, sem qualquer interferência do poder político”, ele acrescenta.

Dependendo da natureza das acusações, o caso pode ser investigado também – de forma individual ou conjunta – pelos promotores da Agência Nacional Anti-Corrupção da Suécia (Riksenheten mot Korruption) ou pela temida Ekobrottsmyndigheten, a Autoridade Sueca contra Crimes Financeiros.

“O que vale para o Presidente do Parlamento, assim como para todos os políticos, são os procedimentos judiciais de praxe, válidos para qualquer cidadão. Não há foro especial”, sublinha o procurador-chefe sueco.

A partir do recebimento de uma eventual denúncia de um cidadão contra o presidente do Parlamento sueco, seria feita uma investigação preliminar sobre o caso.

“Se as acusações mostrassem ter fundamento, meu próximo passo seria conduzir uma investigação mais abrangente. Estas investigações seriam realizadas, sob a minha condução, por uma unidade especial da polícia que trabalha com nossa força-tarefa”, explica o Procurador-Chefe da Särskilda Åklagarkammaren.

E se o Procurador-Chefe entrasse em um estado patológico semelhante à Síndrome de Estocolmo, desenvolvendo um sentimento súbito de simpatia pelo político acusado, e decidisse arquivar o caso?

Para esse tipo de eventualidade, o cidadão que deflagra um processo contra um político pode recorrer da decisão do procurador junto aos cães de guarda do sistema judiciário sueco: o Ombudsman da Justiça (JO, na sigla em sueco) e o Provedor de Justiça (JK). São as duas ouvidorias inventadas pelos suecos entre os séculos XVIII e XIX para – horror, horror – ouvir o povo.

Da mesma forma, a eventual absolvição do presidente do Parlamento sueco em um hipotético julgamento, por um juiz de primeira instância, também poderia ser contestada nas instâncias superiores da Justiça pelo cidadão responsável pela denúncia criminal.

Sobre os termos de uma eventual punição de um presidente do Parlamento por corrupção passiva e evasão de divisas, o procurador sueco adota a cautela.

“Não faço especulações”, rechaça ele.

A lei sueca prevê pena de dois a seis anos de prisão para crimes de corrupção. Para contas bancárias não declaradas – o que na Suécia é considerado um crime severo -, a punição varia de seis meses a seis anos no xadrez.

Pergunto a Mats Åhlund se o presidente do Parlamento poderia permanecer no cargo, durante as investigações.

“Esta decisão caberia ao Parlamento”, diz o Procurador-Chefe. “Normalmente, os próprios políticos tomam voluntariamente a decisão de se afastar. Mas nunca passamos por tal situação com um presidente do Parlamento, então não há precedentes.”

O procurador recusou-se, elegantemente, a comentar o caso Eduardo Cunha.

Mas na animada roda de conversa dos meus convivas, naquela tarde escura de outono, travara-se um diálogo sueco em torno da novela policial que se desenrola no Congresso brasileiro:

“Parece que no Brasil os políticos têm imunidade parlamentar”, comentou o ex-deputado ao redor da mesa.

“Imunidade parlamentar? Isso é um absurdo incompreensível”, reagiu o marido da anfitriã entre goles de glögg, o tradicional vinho quente com especiarias que é apreciado nesta época do ano.

“Se o próprio Congresso não exige a renúncia do presidente da Câmara, então todo o sistema está podre”, decretou a ex-porta-voz do primeiro-ministro sueco.







Fonte: Claudia Wallin



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Franceses valem mais do que Quenianos?




Por que a vida de um queniano vale menos que a de um francês? A culpa é dos meios de comunicação do Brasil? Da mídia internacional? Dos governantes do ocidente? Nossa compaixão seletiva precisa ser discutida.

Imagine que, numa madrugada de quinta-feira, quatro radicais muçulmanos invadissem uma universidade dos Estados Unidos, da Alemanha ou da Inglaterra. Imagine que carregassem explosivos e armas automáticas. Imagine que seguissem para os dormitórios estudantis e perguntassem a religião de cada rapaz ou moça que encontrassem por lá. Imagine que, se o jovem respondesse “sou cristão”, os atiradores o matassem. Imagine que os insurgentes permanecessem no campus durante 16 horas e mantivessem centenas de reféns, entre alunos e professores. Imagine que, depois de a polícia e o Exército tomarem conta da situação, a horrorosa jornada terminasse com um saldo de 148 mortos.

Como o Ocidente — incluindo o Brasil, claro — enxergaria a carnificina? De que maneira nossos jornais, revistas, televisões, rádios e sites noticiosos relatariam o fato? Cobririam a tragédia em tempo real? Enviariam correspondentes para a cidade onde se deu a tenebrosa investida? Continuariam destacando o assunto por quanto tempo: dias, semanas, meses? O que os internautas comentariam nas redes sociais e com que frequência? O Facebook estimularia campanhas de apoio às vítimas? Os chefes de Estado se pronunciariam imediatamente? Em que tom? Falariam que o atentado maculou não apenas o campus, mas todas as sociedades que se proclamam civilizadas? O infortúnio viraria um marco, sempre mencionado por gerações futuras?

Infelizmente, o crime bárbaro aconteceu há sete meses em Garissa, no Quênia. A república africana — e negra — reúne 47,3 milhões de habitantes, mais ou menos a mesma população da Espanha. Como dispõe de praias, savanas, florestas, lagos, montanhas e desertos belíssimos, atrai um número considerável de visitantes (não à toa, converteu o turismo num dos pilares de sua economia, majoritariamente agrícola). Ocupa a 82ª posição no ranking do Fundo Monetário Internacional que compara o Produto Interno Bruto de 183 nações. Embora não se trate de um país miserável, está longe de figurar entre as potências e enfrenta dificuldades severas em diversas áreas: educação, saúde, infraestrutura, segurança. Mesmo assim, exibe uma classe média pujante, o que faz crescer os olhos de investidores estrangeiros. Politicamente, é uma democracia, mas disputas étnicas, corrupção e fraudes eleitorais costumam ameaçá-la.

Os terroristas que tomaram o campus, na fronteira com a Somália, integravam o Al-Shabaab, grupo somali ligado à Al-Qaeda e combatido pelo Quênia desde o fim de 2011. Consideravam a universidade “um território muçulmano”, que precisava se libertar “dos infiéis”. Daí a ação sanguinária. Os quatro extremistas acabaram assassinados durante o cerco policial. Entre os 148 mortos, contavam-se 142 estudantes.

Há 17 anos, o país da África Oriental sofre ataques jihadistas de imensas proporções. Por que, então, pouquíssimos de nós mencionam o Quênia quando esbravejam contra o terrorismo? Você tomou conhecimento do que se passou na universidade? Recordava-se do episódio? Eu tomei, mas só me lembrava vagamente daquele 2 de abril. E a descoberta de não o guardar vivo na memória me angustiou pela manhã, quando avistei uma fotografia dos alunos mortos em meio à enxurrada de informações que ando consumindo sobre os recentes e terríveis acontecimentos da França. “Como posso não lembrar?!”, indaguei-me, perplexo. O ato escabroso ocorreu no primeiro semestre de 2015 e dentro de uma universidade, território que sempre julguei sagrado, que sempre quis ver protegido da intolerância, da brutalidade e da desesperança.

Para o Ocidente, um campus não agrega simbolismos parecidos com os do Bataclan, casa de espetáculos parisiense onde o Estado Islâmico provocou dezenas de mortes? Não representa a liberdade, a promessa de diálogo e o apelo à convivência pacífica? Não abriga a alegria e o inconformismo juvenis? No entanto, apaguei da mente e do coração tudo o que se desenrolou em Garissa. Aliás, antes da matança, nunca ouvira falar da cidade e não retive o nome dela após a pavorosa quinta-feira. Assim que recebi as notícias do massacre, não me preocupei em aprender mais sobre o Quênia e não procurei os testemunhos de quenianos na internet (uma das línguas oficiais de lá é o inglês).

Tampouco vasculhei a mídia local atrás de análises, opiniões e histórias de solidariedade ou heroísmo. Não observei direito o rosto dos garotos e garotas que morreram antes de deixarem os próprios quartos. Não cogitei pintar meu retrato no Facebook com o vermelho, o preto e o verde que tingem a bandeira da república africana — até porque Mark Zuckerberg não me ofereceu nenhuma ferramenta capaz de efetivar a metamorfose nem minha curiosidade se prontificou a checar quais as cores nacionais do país.

Agora, à medida que faço essas pesquisas tardias, sinto-me como se desbravasse Marte. Percebo que o Quênia é, para mim, tão distante quanto o planeta alaranjado. Garimpo inúmeras reportagens e artigos sobre a terra das girafas, dos rinocerontes e das zebras, mas não consigo avaliá-los, tamanho meu gap de referências. Devo confiar no que leio? O que me afirmam as fontes britânicas, norte-americanas, espanholas, portuguesas e mesmo quenianas merecem crédito? Não tenho ideia, já que estou me aventurando por aquelas bandas pela primeira vez.

Lógico que Paris me soa infinitamente mais familiar. A questão, porém, não é conhecer melhor a França. O problema é não conhecer nada do Quênia nem nutrir uma empatia avassaladora pelos que moram ali. Afinal, no Brasil, negros e pardos ainda constituem a maioria da população. Dizem os historiadores que parte deles se origina de escravos “moçambiques”, assim designados porque vinham justamente de Moçambique e arredores, uma região que hoje engloba a Tanzânia, o Malauí, a Zâmbia, a África do Sul, o Zimbábue e… o Quênia! A França, em muitos sentidos, é aqui. Mas o Quênia também não é? Estima-se que, no século 19, entre 18% e 27% dos africanos que habitavam o Rio de Janeiro pertenciam à linhagem dos “moçambiques”.

Eu poderia culpar os meios de comunicação brasileiros, a opinião pública internacional e os governantes ocidentais pela apatia com que encarei a chacina de Garissa. Praticamente todos, de um modo ou de outro, abordaram a selvageria, mas sem persistência e sem aquilo que Aristóteles chamava de “a justa indignação”. Seria cômodo lhes atribuir o ônus da minha fraternidade seletiva. Ocorre que já possuo cabelos brancos suficientes para admitir o óbvio: a compaixão — a minha, a de você, a de Zuckerberg, a de Barack Obama, a do Papa — não deveria nascer somente do jeito como a mídia e a geopolítica descrevem o mundo. Eu soube do que aconteceu com a meninada do Quênia. Nós soubemos. A notícia nos chegou logo depois de o inferno baixar naquela universidade. Entretanto, conscientemente ou não, preferi esquecê-la. E tal escolha, à luz de como reagimos diante das atrocidades em Paris, se tornou inesquecível.








Fonte: Armando Antenore/ Revista Samuel



Como fica o meio ambiente depois do desastre em Mariana MG.



Quem chega em Gesteira, distrito rural no município de Barra Longa, MG, nunca vai imaginar que antes passava um córrego com água cristalina e havia um campo verde amplo na frente, onde bois e cavalos pastavam. Porque quem chegar hoje em Gesteira não verá um pasto, nem um animal ou um riacho. Verá apenas uma gigantesca lagoa de barro escuro onde antes era um vale. Os moradores descrevem para mim, entre o luto e a saudade, a paisagem onde cresceram e que, provavelmente, nunca mais verão na vida.

“Antes esta paisagem daqui era tudo verdinho com uma pastagem e tinha um rio com água clarinha. Acabou tudo.” — diz Claudiano da Costa, morador de Gesteira.
Mais de dez dias após a queda das barragens da mineradora Samarco, ainda se desconhece todas as extensões do impacto ecológico liberado na forma de 62 milhões de litros de lama residual da mineração. O barro de rejeitos saiu de Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana, em Minas, e ainda percorrerá mais de 850 km até chegar ao mar, deixando um rastro de destruição à fauna, à flora e às comunidades que estiverem em seu caminho. Só é preciso observar a área destruída — seja do leito do rio, seja do espaço — para compreender que é um dos maiores desastres ambientais na história do Brasil.

No entanto, ainda há muitas perguntas buscando entender como esta tsunami de lama afetou todo um ecossistema. Aqui está um panorama do que já sabemos.

Lama Tóxica?




Para ter compreensão do impacto é preciso primeiro entender qual é o conteúdo da enxurrada de lama que vêm das minas. Segundo a mineradora Samarco, as barragens apenas continham rejeitos de minério de ferro e manganês, misturados basicamente com água e areia. A empresa insiste que o material é inerte, não causando danos ao ambiente ou à saúde. No entanto, análises do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu, ES, mostram a presença de diversos metais pesados na água do Rio Doce, como arsênio, mercúrio e chumbo.

Estes elementos são extremamente tóxicos ao ambiente e à saúde humana, sendo absorvidos nos corpos dos diferentes organismos e dificilmente eliminados. Normalmente, eles acumulam nos tecidos de seres vivos e, com o tempo, na própria cadeia alimentar. Ao ingerir a carne ou folhas contaminadas, o metal pesado não é processado, envenenando o bicho ou pessoa que consumiu a comida intoxicada. Com o tempo, os metais pesados podem gerar problemas sérios à saúde, como câncer, úlceras e danos neurológicos.

Na tarde de sábado, 14/11, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, apresentou um laudo da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) negando a existência de metais pesados na água e contrariando os laudos de Baixo Guandu. Nesta quinta-feira, 12/11, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também foi coletar amostras da lama e da água no Rio Doce para apurar o grau da devastação e verificar, entre outros aspectos, a presença de metais pesados. Ainda resta esperar os resultados da investigação dos cientistas mineiros, que devem chegar no decorrer da semana.

O Fim da Vegetação



No entanto, mesmo sem arsênio e mercúrio e ao contrário do que a mineradora sugere, a lama está longe de ser inofensiva. Apesar da presença do ferro e manganês não significar um perigo à saúde, estes elementos causam consequências profundas à terra.

“O ferro (e o manganês) tem uma facilidade muito grande de reação, sendo um ligante por sua própria natureza. No caso, essa lama vai formar uma capa muito dura devido à presença do ferro. A tendência é fazer uma ligação muito forte e ficar sobre a superfície formando uma crosta” — diz a professora do Instituto de Geociências da UFMG e especialista em geologia ambiental, Leila Menegasse. Segundo ela, esta cobertura poderá impedir a infiltração da água e também cobrirá a própria vegetação, tornando o ambiente estéril.

“As raízes ficam soterradas, desaparece a possibilidade da fotossíntese porque a água fica muito turva e as folhas ficam todas fechadas pela deposição de materiais. As plantas que entrarem em contato com essa lama certamente irão morrer” acrescenta o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Francisco Barbosa.

Rio Doce Morto
Quem se aproximar do Rio Doce, seja em Minas seja no Espírito Santo, verá ele amarronzado, escuro e com diversos detritos boiando. Essa imagem não é apenas feia e desagradável, ela também é extremamente danosa à vida aquática. Esse barro, mesmo diluído, torna á água turva e barra a passagem de raios solares, escurecendo o rio e impedindo que algas façam fotossíntese. O baixo nível de oxigênio na água é insustentável para os animais, fazendo com que, em um ato de desespero, muitos peixes simplesmente pulem fora d’água.

Se em cima cadáveres boiam, embaixo o rio encolhe. “Toda essa área que recebeu uma carga de segmentos irá sofrer um processo de deposição de material no fundo do rio. Isto vai aumentar a altura da calha e, a grosso modo, vai entupir o rio” explica o coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. O processo é intensificado pela destruição da mata auxiliar, ainda existindo a possibilidade de a lama cobrir as nascentes, diminuindo consideravelmente o volume da água. Este perda não significa apenas menos água, mas compromete sua qualidade e a torna imprópria para o uso.

Os mananciais oriundos do Rio Doce são usados para abastecer diversas comunidades rurais, seja para o uso pessoal, seja para irrigação de plantações ou consumo pelo gado. Essas comunidades rurais serão profundamente afetadas e não poderão recorrer ao rio mais. Mesmo considerando apenas a população urbana, a enxurrada de lama passa por, no mínimo, 23 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, o que representa meio milhão de pessoas com a torneira seca.

Milhares de pessoas sem água
A cidade mais afetada pelos rejeitos da Samarco é também a maior da bacia do Rio Doce: Governador Valadares, MG, com 280 mil habitantes. Mesmo a 300 km de Mariana, sua SAAE, em laudo preliminar da água, encontrou um nível de turbidez oitenta vezes maior do que o tolerável, além de níveis de ferro que chegaram a superar treze mil vezes o tratável. Esta condição insalubre do rio fez com que o abastecimento de água fosse cortado no domingo, 08/11. Dois dias após a interrupção, a prefeita Elisa Costa declarou estado de calamidade pública.

“Todo o dia esse caos. Todo dia gente transportando água. Todo mundo carregando água como pode”, descreve de Marcos Renato, habitante da cidade. Em longas filas, a população gasta horas em pontos de distribuição de água, sofrendo, além da seca e da sede, das altas temperaturas. “Estamos atendendo normalmente nas unidades de saúde e nos preparando para possíveis doenças que venham a surgir pela falta de água e pelo uso da água contaminada.

 Enfim, a situação aqui não está nada fácil” comenta Flávia França, médica local e membro da Rede de Médicas e Médicos Populares.
Segundo a prefeitura do município, as companhias Samarco e Vale fizeram pouco ou mal esforços para ajudar a população. Na sexta-feira, 13/11, em nota ela comunicou que a mineradora só tinha aceitado pagar os caminhões pipa.

 Mais tarde do dia, a primeira remessa de água, com 280 mil litros, estava contaminada com querosene, não servindo para consumo. A situação só começou a melhorar no sábado, quando o governador de Minas, Fernando Pimentel, anunciou o uso de um coagulante que permitirá o tratamento da água. A substância facilita a separação da lama e da água, permitindo assim que ela seja filtrada e volte a ser potável. A expectativa é que o abastecimento na cidade retorne nesta segunda-feira, dia 16/11.

Um Oceano Inteiro Afetado



É importante lembrar que o rio não é só água em movimento, mas também funciona como transporte de nutrientes para o mar, que acabam sustentando diversos organismos. Coincidentemente, na foz do Rio Doce, ocorre também o encontro de correntes marinhas do Sul e do Norte, formando um “rodamoinho” de água de cerca de setenta quilômetros de diâmetro. Esta área é rica em nutrientes e também reúne espécies marinhas de todo o mundo. Por isso, segundo o diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, o biólogo e ecólogo André Ruschi, a foz do Rio Doce se torna uma dos maiores pontos de desova de peixes marinhos do mundo.

“É o maior criadouro do Oceano Atlântico. Todos os grandes peixes do Oceano, do hemisfério sul e norte, vêm para lá se reproduzir, sendo um fenômeno impar. É uma das regiões marinhas mais importantes do planeta e, da costa brasileira, é a mais sensível de todas”. A chegada de diversos rejeitos da mineração significa um risco para todo o ecossistema do oceano. Como ainda resta a chance da presença de metais pesados na lama, há a possibilidade de contaminação da imensa biodiversidade do local. Todos os seres vivos, desde o minúsculo plâncton ao gigante marlim, podem acabar envenenados por estes elementos.

Recuperação?
Restam ainda muitas dúvidas em relação a como e quanto o ambiente será afetado pela lama da Samarco. Mas uma merece destaque: é possível recuperar o estrago? Ainda é muito cedo para afirmar com certeza, porém se estipula que o volume de água do rio talvez será o primeiro a normalizar.
“A natureza é muito mais forte do que podemos imaginar. Com o passar do tempo e muito lentamente os rios vão se recuperando. A vida dos tributários vai voltar a ocupar o rio e ele, em uma ou duas décadas, vai se recuperar. O que é muito tempo.” afirma o coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. No entanto, para que isto ocorra é necessário que a lama se dilua e escorra para outras áreas, o que só é possível com a ação da chuva. A estiagem que a região sudeste enfrenta é um agravador deste cenário, atrasando muito uma possível revitalização do Rio Doce.

Obviamente, a biodiversidade animal e vegetal da região não pode esperar décadas para ver o rio novamente. “O conjunto de seres vivos vai estar todo ameaçado e vários desses organismos vão desaparecer, ainda que, vamos esperar, seja localmente. Eventualmente alguns desses organismos podem ter a chance de voltarem a colonizar essas áreas. Para que isso aconteça, vai precisar de tempo. No entanto, outros organismos não vão ter a chance de colonizar porque requer um tempo muito mais longo para que as cadeias alimentares se restabeleçam”explica o professor do ICB da UFMG, Francisco Barbosa.

 Ele estima que o começo dessa recuperação só irá acontecer em um futuro distante, precisando de 20 a 30 anos para a maioria dos diversos processos se sucederem.
Mas, se este prazo já é muito grande no continente, no oceano, ele é ainda maior. O especialista em biologia e ecologia marinha, André Ruschi lembra que a chegada de nutrientes ao oceano depende dos ciclos da maré, definidos pelos movimentos dos astros, como a lua e o sol: “A cada onze anos, com as enchentes, as cheias carregam grandes quantidades do material do rio para o mar”.
Como a região também é onde ocorre a confluência de espécies e correntes de todo o Oceano Atlântico, sendo uma das áreas de maior biodiversidade no mundo, o impacto, segundo o cientista, representará um atraso de séculos ao ecossistema.





Fonte: Pragmatismo


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Jim Jones - O pastor que levou 900 pessoas ao suicídio!



Até os ataques de 11 de setembro, a maior tragédia envolvendo ações deliberadas contra civis americanos teve lugar em meio à floresta amazônica, no território da Guiana. Há exatamente 37 anos.

Em 18 de novembro de 1979, 918 pessoas morreram em um misto de suicídio coletivo e assassinatos em Jonestown, uma comuna fundada por Jim Jones, pastor e fundador do Templo Popular, uma seita pentecostal cristã de orientação socialista.
Embora algumas pessoas tenham sido mortas a tiros e facadas, a grande maioria pereceu ao beber, sob as ordens do pastor, veneno misturado a um ponche de frutas.

Foi um fim trágico para um projeto utópico iniciado em 1956, no estado americano de Indiana. Apesar de promover curas "milagrosas" fraudulentas, Jones promoveu ideais igualitários, como impor vestuário modesto para os frequentadores de cultos, distribuição de comida gratuita e mesmo o fornecimento de carvão para famílias mais pobres no inverno, o que atraiu um imenso contingente de fiéis de perfis raciais mais diversos.

'Messiânico'
Em meados dos anos 60, o Templo Popular se mudou para a Califórnia, um local mais apropriado para os ideais esquerdistas do pastor. Nos anos seguintes, o movimento ganhou popularidade suficiente para que Jones circulasse entre os poderosos - a primeira-dama Rosalynn Carter, por exemplo, encontrou-se várias vezes com ele.

Mas a seita também despertou suspeitas e investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor. O escrutínio levou Jones a buscar refúgio na Guiana, onde conseguiu permissão das autoridades locais em 1974 para arrendar um terreno em meio à selva e criar uma comuna longe de olhos mais curiosos.

Jonestown, como o assentamento foi batizado, tinha uma escola, bangalôs e um pavilhão central, além de espaço para que os habitantes plantassem verduras e legumes. O pastor e centenas de seguidores se mudaram para lá em meados de 1977. A única forma de contato com o mundo era um rádio de ondas curtas. Houve relatos de que Jones promovia um regime ditatorial, marcado por punições severas e pela presença de guardas armados para tentar evitar fugas.


Reportagem da revista Newsweek

O pastor também avisava aos seguidores que os serviços de segurança americanos estavam "conspirando contra Jonestown", e que uma das soluções seria um "suicídio revolucionário". Algo que, por sinal, teria sido ensaiado algumas vezes em assembleias.

Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas para visitar Jonestown, Depois de negociar entrada no local, a visita ocorreu em 17 de novembro. No dia seguinte, Ryan e mais quatro pessoas morreram a tiros em uma pista de pouso próxima ao assentamento. Poucas horas depois ocorreu o suicídio coletivo.

Os relatos de sobreviventes falam em um "estado de transe coletivo", mas uma sinistra gravação dos procedimentos, que inclui discursos de Jones, contém gritos de agonia das pessoas envenenadas. Quem tentou fugir foi morto.



Quando autoridades da Guiana chegaram a Jonestown, o pastor foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em uma posição que sugeriu suicídio. Dos habitantes que estavam em Jonestown naquele dia, apenas 35 sobreviveram. Mas também são considerados sobreviventes pessoas como Laura Johnston Kohl, que naquele dia estava na capital guianesa, Georgetown, comprando mantimentos para a comuna.

"Nós éramos visionários que deixaram para trás os confortos da vida urbana e se mudaram para o meio da floresta para criar um modelo de comunidade para o resto do mundo. Jim Jones era articulado para mascarar as partes dele que eram corruptas ou doentes", explica Kohl, autora de um livro em que relatou suas experiências no culto.

Mais de três décadas depois da tragédia, Jonestown ainda provoca polêmica na Guiana. O terreno da comuna foi "reconquistado" pela floresta, mas há no país quem queira ver o local explorado como ponto turístico, assim como acontece nos antigos campos de concentração nazistas na Europa, por exemplo. Mas o governo do país tem se recusado a considerar a possibilidade.






Fonte: BBC


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Terrorismo é uma guerra estúpida como qualquer outra!




Atentados como o de sexta têm que provocar reflexões muito amplas. Onde  nos perdemos? Em algum momento não estivemos perdidos? Em algum momento vamos nos encontrar?

Há registros de ataques terroristas desde a Grécia Antiga, com a diferença que, de modo geral, os terroristas procuravam evitar vítimas colaterais, isto é, inocentes que não tinham nada a ver com a picuinha. No Império Russo, por exemplo, quando tentaram depor o Czar Alexandre II, houve diversos cancelamentos de ataques para evitar ferir inocentes.

 Até mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, o terrorismo ainda era aceito como parte de um contexto revolucionário. A ONU considerava legítimas as lutas pela “autodeterminação” dos povos que se utilizavam de atos terroristas.

Foi só nos anos 70 que o terrorismo começou a ser discutido em âmbito global, obviamente com os países ocidentais liderados pelos EUA defendendo a repressão, enquanto a parte dos orientais e dos comunistas, defendiam a identificação e eliminação das causas. Mas você sabe qual visão se tornou padrão.

Qualquer que seja a “visão oficial” da ONU ou dos EUA, no entanto, o fato é que o terrorismo tem causa. Um bom começo para entender estas causas é assistir a uma das mais brilhante palestras já produzida pelo TED, com o sociólogo americano Sam Richards.


O terrorismo não advém de uma guerra do bem contra o mau. Nada, nunca, é uma guerra do bem contra o mau. Guerras vêm simplesmente de necessidades e crenças conflitantes. Vários conflitos poderiam ser resolvidos com o uso da razão, mas no fim das contas, nossa emoção é muito mais forte.

O problema quase sempre está em subjugar o amiguinho. Quando a Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial, foi subjugada no tratado de Versalhes. A raiva gerada no povo alemão pelo tratado deu força ao movimento nacionalista de Hitler, que por fim se tornaria o movimento fascista de um dos maiores criminosos da história.

 Se considerarmos que sem o tratado de Versalhes provavelmente não haveria Hitler, de quantas outras burradas históricas poderíamos nos ter livrado com atitudes mais delicadas?

Eu sempre penso que o padrão ético de guerra é determinado pelo mais forte. É muito fácil, quando você tem acesso às melhores tecnologias, dizer o que é justo e o que não é na guerra.

Deixar uma bomba no metrô e utilizar mísseis teleguiados em combates contra exércitos que usam pistolas são atitudes igualmente covardes. A diferença é que o míssil visa um alvo militar.

Mas vou contar uma coisa: a guerra, pelo caráter de longo prazo, mata mais civis colaterais do que atentados terroristas. O Iraq Body Count Project afirma que mais de 70.000 civis foram mortos como vítimas colaterais de ataques militares pela guerra do Iraque. Para comparar, nós falamos de algo entre 100 e 150 em Paris.

 The Lancet, a mais tradicional revista da área médica no Reino Unido, conduziu uma pesquisa no Iraque para saber quantas vítimas fatais indiretas houve em razão da guerra. Mortes provocadas pela falta de segurança, pela degradação da infra-estrutura, pela dificuldade em conseguir comida, medicamentos e, tudo o que poderia levar à piora na saúde-pública. O número gira em torno de 600.000.


Fica claro, então, que a guerra não é mais ética ou moralmente defensável do que o terrorismo. Por isso, em momentos como este, nada que não seja compreensão e diálogo podem resolver. A não ser que se dizime uma cultura inteira, sempre haverá uma resposta mais agressiva a qualquer repressão.

O terrorismo é a resposta possível do cara que não tem acesso a drones, mísseis teleguiados, aviões ultra-sônicos e a tecnologia mais avançada. É uma resposta que eu não apoio, fique claro. Ao menos não desta forma.

Da minha parte, desejo todo o amor aos amigos e familiares das vítimas deste atentado em Paris. Assim como das vítimas de todas as guerras e injustiças que motivaram os executores do ataque. Mas antes que comecem a planejar uma nova guerra ao terror, me adianto: a guerra contra o terrorismo não é mais nobre ou mais justa que o terrorismo contra a guerra.





Fonte: Emir Ruivo


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Por que 3x5 não é igual a 5x3?




Mesmo para os adultos que ainda sofrem com tabuada, 5x3 não traz grandes dificuldades.

Então por que essa simples conta está causando uma polêmica tão acalorada na internet?
Tudo começou quando uma foto da resposta dada a essa questão em um exame de um aluno americano foi compartilhada na rede social Reddit.

Na prova, o aluno responde que 5x3 era igual a 15 seguindo o raciocínio de que a soma de 5+5+5 tem o mesmo resultado. Mesmo assim, o professor corrigiu a questão dizendo que a resposta do aluno estava errada.

O professor faz a correção dizendo que a solução correta era "3+3+3+3+3".
A foto do exame deu a volta ao mundo, dividindo internautas entre partidários e detratores da professora e do aluno.

Diante da polêmica, o professor deixou claro que o exame pedia que fosse usada a 'estratégia de adição repetida', e que 5x3 significa que a ideia era somar 5 vezes o número 3, ou seja, 3+3+3+3+3.

A polêmica foi tamanha que o Conselho Nacional de Professores de Matemática dos EUA (NCTM, na sigla em ingles) resolveu se posicionar, dando razão ao professor.

"Parte do que ensinamos às crianças está baseado no fato de que queremos que elas sejam pensadoras e capazes de solucionar problemas. Queremos que os alunos entendam o que estão fazendo, e não apenas dar a resposta certa", disse Diane Briars, presidente da organização.

Para os defensores do método, ele ajuda os estudantes na hora de lidar com problemas mais complexos.

Já os críticos desse método afirmam que ele pode ser muito confuso para as crianças. E que seria por demasiado estrito considerar a resposta no exame errada, já que a resposta final à equação colocada está correta.

Essa não é a primeira vez que um problema matemático acaba virando um fenômeno de compartilhamento nas redes sociais. Em abril, um enigma de lógica proposto a alunos de uma escola secundária em Cingapura se tornou viral.
A tarefa colocada aos alunos era a de descobrir a data do aniversário de 'Cheryl', partindo de informações sobre ela e outros dois amigos.




Fonte: BBC



domingo, 15 de novembro de 2015

O que funcionaria contra a barbárie do terrorismo?



A ideologia do Estado Islãmico é simples: extinguir todas as nações, transformando o planeta num império regido por leis tribais (travestidas como crença religiosa). Essa até era a ideia original do islamismo, no século 7. Não só do islamismo: essa também foi a bandeira que fundou o judaísmo – e mesmo a cristandade, que surgiu no século 1 como uma reação pacifista ao domínio romano na Palestina, serviu de justificativa para absurdos. Foi o "cristianismo" da Inquisição, das Cruzadas, das caças às bruxas.

Mas tudo isso foi virando passado com a consolidação dos Estados laicos, movimento no qual a própria França foi pioneira. Cada indivíduo passou a poder acreditar no que bem entendesse, contanto que a prática religiosa do sujeito não infringisse o bem comum. Bom, o que os extremistas fizeram em Paris obviamente infringe. Mas também temos os nossos extremistas religiosos, muitos deles no papel de legisladores.

 E o que eles têm fazem aqui também infringe o bem comum, porque criar leis contra mulheres e gays baseando-se em crendices, por exemplo, é, sim, uma forma de barbárie. Obrigar por lei uma mulher estuprada a ter o filho do estuprador só porque intérpretes do texto bíblico decidiram ditar quando a vida começa é barbárie.

  Tudo isso é usar religião para tirar direitos do próximo – coisa que vai contra os princípios básicos da própria religião usada como bandeira.

O problema, no fim, nem está nas religiões. Está nas justificativas torpes. O próprio Estado Islãmico só é muçulmano por uma questão geográfica. Se o movimento desses asnos tivesse nascido em Salt Lake City ou na Baixada Fluminense, eles usariam Cristo como justificativa.

 Se fosse na Escandinávia, que tem 80% de ateus, usariam Eisntein para justificar assassinatos. Essa afirmação não é tão absurda quanto parece: o próprio Hitler, que não tinha religião nenhuma, usou Darwin para validar seu genocídio, ainda que o nazismo ignorasse completamente qualquer ideia de princípio científico. No fundo, o nazismi era uma nova religião, criada com o propósito de defender um crime – o maior crime de todos os tempos.      

O erro, então, não está nas religiões, mas nas barbáries impetradas em nome delas. E, apesar de os acontecimentos de Paris serem exponencialmente mais trágicos que qualquer projeto de lei da nossa bancada evangélica, vale usar o momento para lembrar que, sim, aqui também existe extremismo, e para entrar de vez em guerra contra ele. Porque para combater a barbárie não existe diálogo.







Fonte: Superinteressante







sábado, 14 de novembro de 2015

Atentados em Paris - De quem é a culpa?


Tiroteio em Paris deixa ao menos 18 mortos

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.

A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.

A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.

Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.

É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.

Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.

Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.

A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?

Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.

O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.

Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.

Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.

O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.

O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.

Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120 000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.

Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?

Ninguém.

Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.

Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.

Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.

No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.

Brutalidade gera brutalidade.

Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra para dentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.

O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.

Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.

O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.

Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.

Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.

Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.








Fonte: Paulo Nogueira





sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Câncer proviniente de um verme mata um homem!


Em caso inédito, uma espécie de tênia espalhou células do próprio câncer pelo corpo de um homem, que morreu 72 horas depois do diagnóstico.

Um novo estudo explicou o caso que intrigou médicos do mundo todo. Um homem colombiano, de 41 anos, foi parar no hospital depois de muita tosse, febre e perda de peso. Ele era HIV positivo, o que deixava seu sistema imunológico mais debilitado. Ao realizar uma tomografia, o médico encontrou tumores no pulmão e linfonodos e exigiu a realização de uma biópsia nos tecidos pulmonares.

A equipe do hospital não estava preparada para o que veio a seguir: as células analisadas eram claramente cancerosas: se multiplicavam em alta velocidade, eram desordenadas, invasivas e todas iguais. Mas nem de longe pareciam células humanas. Confusos, cientistas realizaram diversos testes até descobrirem que as células tinham DNA do verme H. nana, uma espécie de tênia que afeta mais de 75 milhões de pessoas no mundo.

O H. nana é um verme que mede de 15 a 40 milímetros e fica no intestino humano. A hipótese mais provável é que, como o homem possuía o vírus do HIV, o verme conseguiu crescer cada vez mais, sem ser ameaçado pelo sistema imunológico. Quando alguma divisão celular deu errado, a tênia desenvolveu câncer e as células doentes foram depositadas pelo corpo do paciente, já debilitado. Um dos pesquisadores do caso, Atis Muehlenbachs, diz: "Ficamos impressionados quando descobrimos esse novo tipo de doença - vermes crescendo dentro de uma pessoa, contraindo um câncer que se espalha pelo corpo humano e criando tumores".

Por ser uma situação tão inesperada, os resultados do estudo da doença só foram publicados agora, apesar de o homem ter morrido em 2013. É provável que esse não seja um caso isolado, mas os outros ainda são desconhecidos. O tratamento para o problema ainda é uma incógnita: drogas que matam o verme provavelmente não liquidariam o câncer, mas um tratamento quimioterápico para humanos pode ser efetivo.






Fonte: Ana Luísa Fernandes/Super





quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Estudantes universitários racistas - Vergonha para o país!



Após dizer que não concordava com uma publicação discriminatória, estudante grávida de três meses é vítima de agressões racistas e machistas na comunidade “Graduação da Depressão”. A jovem de 21 anos viu sua vida pessoal ser invadida por desconhecidos que iniciaram uma perseguição virtual sob uma aparente calma de quem acredita na impunidade.


Uma mulher negra, grávida de três meses, foi vítima de ofensas racistas, machistas e gordofóbicas depois de entrar no grupo “Graduação da Depressão”, no Facebook, para interagir com outros universitários.

Carla Gomes, de 21 anos, de Porciúncula, no Norte do Rio, decidiu comentar em uma postagem que a indignou, com conteúdo discriminatório. Foi o pretexto para uma enxurrada de ofensas a ela, que, de uma hora para outra, viu sua vida pessoal ser invadida por desconhecidos que iniciaram uma perseguição virtual, xingando-a e expondo sua imagem pela rede.

O cardápio de preconceitos foi extenso: racismo, machismo e gordofobia apareceram nas mensagens. Sob uma aparente calma de quem acredita na impunidade, dezenas de jovens — todos membros do grupo — partiram para o ataque contra ela, que se manifestou para alertar que muitas das piadas compartilhadas naquela rede eram discriminatórias.

Um dos integrantes do grupo, que se diz estudante de Direito, chega a comentar que sabe que as ofensas na internet não resultam em nenhuma punição para os agressores. As informações são do jornal Extra.

“Eu curtia a página deles, mas não postavam nada demais. Vi que, naquelas sugestões do Facebook, tinha o grupo da mesma página. Como eu estou começando a estudar, pensei que seria legal estar lá, dividindo experiências com outros estudantes. Mas entrei no grupo e vi umas postagens racistas e comentei embaixo de uma delas que achava aquilo errado, que somos todos iguais.

 Foi então que começaram a me agredir e falar coisas horríveis para mim” conta Carla, que, assustada, desabafou em um vídeo em seu perfil no Facebook, publicação que também foi invadida pelos agressores.

O vídeo acabou sendo excluído pelo Facebook após uma série de denúncias, que partiram das mesmas pessoas que ofenderam a estudante.

No “Graduação da Depressão”, a maioria das ofensas era relacionada à cor e ao tipo físico de Carla. O desabafo da estudante viralizou pela internet, mobilizando pessoas que foram até a página defendê-la, mas também não escaparam das agressões. É comum encontrar na página postagens machistas.

Muitas meninas que comentavam em defesa de Carla recebiam em troca mensagens como “vai lavar uma louça” ou “feminista fedorenta”. No caso da estudante, o nível dos xingamentos foi ainda pior.
“Me falaram que preto de cabelo ruim não tinha vez naquele grupo, que preto sangue ruim não tinha o direito de estar ali, que eu não valia nada e era apenas uma gorda preta de cabelo duro que tinha que fazer um regime. Foram no meu perfil e fizeram montagem minha.

 Fizeram piadinha até com a minha gravidez. Me senti ofendida não só pelos ataques a mim, mas senti a dor de muita gente. Eles fazem isso com muita gente, são covardes. Já fui vítima de racismo muitas vezes, mas passaram dos limites. Eu digo que atrás do portão qualquer Chihuahua late. Na minha cara, ninguém fala isso”, desabafa a estudante.

Alguns dos responsáveis por controlar a comunidade usam perfis disfarçados. Depois do caso, o grupo “Graduação da Depressão” passou a ser secreto no Facebook. Só pessoas que já estão nele podem vê-lo ou convidar novos membros.

Um dos administradores do grupo se valeu mais uma vez de comentários preconceituosos para falar sobre a mudança: “A partir de agora, só os administradores postam até eu limpar essa corja de feminista imunda e esquerdista vitimista do cabelo ruim”.

Frustração
Decidida a lutar contra o racismo que a atingiu, Carla decidiu procurar a polícia para denunciar o grupo. Foi quando viveu outra frustração. A jovem conta que ao chegar à 139ª DP, em Porciúncula, foi aconselhada por um funcionário da delegacia a não registrar ocorrência.

“Fui à polícia, mas um cara lá de dentro, que eu não sei qual é o cargo, me aconselhou a não fazer queixa. Disse que não ia dar em nada, que eu era um grão de areia e fazendo isso ia correr riscos, que ia demorar muito. Ele falou um monte de coisa e eu não fiz o boletim de ocorrência. Ele me disse: ‘Ih, isso vai demorar muito, ainda mais você que tá grávida… Não pode passar por isso. Às vezes tem que achar IP do computador das pessoas, demora muito'”.

Resignada, Carla diz que deixou a unidade policial e registrou a denúncia no portal da Polícia Federal, que recebe ocorrências de crimes cibernéticos.

Denúncias
A Polícia Federal tem um canal online para receber denúncias de internautas para quatro tipos de crimes na rede: pornografia infantil, crimes de ódio e genocídio, tráfico de pessoas. Interessados em denunciar casos desse tipo devem entrar no site denuncia.pf.gov.br e preencher um pequeno formulário, com o link da página onde é cometido o crime e um comentário, explicando o caso.

Há dez anos, a organização civil sem fins lucrativos SaferNet Brasil também recebe denúncias de crimes cibernéticos e as encaminha para órgãos públicos competentes, como o Ministério Público Federal. As denúncias podem ser feitas no site new.safernet.org.br/denuncie, classificada pelos temas: pornografia infantil, racismo, apologia e incitação a crimes contra a vida, xenofobia, neo nazismo, maus tratos contra animais, intolerância religiosa, homofobia e tráfico de pessoas.






Fonte: Pragmatismo



Rede Globo e Wolkswagen - Apoio aos militares na época da ditadura?




Um dos dirigentes da montadora alemã Volkswagen se reuniu recentemente com o Ministério Público Federal em São Paulo para negociar uma reparação judicial ao país e ao povo brasileiro pelo fato da empresa ter participado ativamente no golpe de Estado que culminou em mais de 20 anos de ditadura militar no Brasil e as milhares de torturas e mortes de perseguidos políticos que decorreram desse ato.

As acusações são frutos do relatório da CNV – Comissão Nacional da Verdade, tendo como base os inúmeros depoimentos e documentos reunidos através das Centrais Sindicais, Associações, pesquisadores e por próprios ex-funcionários da matriz brasileira que foram vítimas das atrocidades cometidas pelo regime militar. Segundo informações, existem fortes indícios de que a fábrica da Volkswagen foi utilizada para a prática de interrogatórios e torturas pelos militares.

Trata-se da primeira empresa que teve estreitos vínculos com o regime ditatorial a assumir a sua participação e buscar de forma concreta, se não quitar sua dívida histórica, pelo menos tentar contribuir para que algo dessa natureza jamais volte a acontecer no país. Uma das propostas que estão em análise seria construir um memorial em conjunto com outras instituições para que aquele período não seja esquecido pelas gerações futuras. Outra proposta seria uma cobrança financeira a ser depositado no Fundo de Interesses Difusos.

É um passo extremamente importante para a responsabilização das corporações que de uma forma ou de outra contribuíram para a época mais obscura dessa nação. Com essa atitude a Volkswagen, que já se encontra às voltas com mais um escândalo internacional, tenta demonstrar um mínimo de dignidade para com os cidadãos brasileiros e para com a democracia, que entre tantos percalços, ainda estamos tentando fortalecer e consolidar não só no Brasil, mas como em toda a América Latina.

O problema é que ainda é pouco, muito pouco. Várias foram as empresas nacionais e multinacionais dos mais variados ramos de atividade que apoiaram o regime ditatorial brasileiro e que em troca de seu apoio, conseguiram fazer fortuna às custas de vidas de milhares de inocentes, da dor de seus familiares e da suspensão dos direitos civis de toda uma nação. É imprescindível que cada uma delas também seja responsabilizada e pague, da melhor forma possível, pelo terrível mal que fizeram motivados pela mais pura ganância.

A Rede Globo de Comunicações é um caso à parte em toda essa história e uma das mais notórias empresas da velha mídia nacional a alavancar os seus negócios e a tirar bastante proveito da interrupção na democracia brasileira. É bem verdade que não foi a única do ramo jornalístico. Os barões da mídia familiar nacional, sem exceção, se viram diante de uma grande oportunidade de negócio para os seus empreendimentos. Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, todos tiraram a sua parcela no acordo preestabelecido.

Mas nada foi tão escandaloso quanto a nossa velha conhecida Rede Globo. O absurdo de sua atuação na ditadura militar foi tão gritante que a própria empresa resolveu fazer, em 2013, uma meia culpa, muito aquém do necessário, pelo seu apoio aos generais. No documento intitulado “Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”, as organizações Globo afirmaram, entre outras coisas que, “à luz da história, o apoio se constituiu um equívoco”.

Não. Definitivamente não estamos tratando de um simples “equívoco”. Nem mesmo de um “erro” despropositado. Se tinha uma coisa que Roberto Marinho, o então presidente das Organizações Globo, não era, é ser uma pessoa “equivocada”. Mal-intencionada com certeza, mas nunca equivocada. Até hoje a poderosa Rede Globo e todo o seu império construído em muita parte sobre o sangue de brasileiros tombados na ditadura militar, mede meticulasamente os seus passos para conseguirem tudo o que lhes convém. Os custos que os seus interesses podem ter para o Brasil não é e nunca foi exatamente a sua principal preocupação. Não foi na Ditadura e não é agora.

É incrível que uma empresa com tamanho histórico de desserviços ao país, inclusive com práticas criminosas de sonegação fiscal, jamais tenha sido cobrada pela sua postura anti-ética e anti-democrática. Pelo contrário, continua livremente fazendo uso das mais escancaradas formas de manipular a opinião pública para que a democracia brasileira mais uma vez esteja subjugada aos seus interesses econômicos e financeiros, tal qual fizeram ao estampar nas páginas de O Globo, em 02 de Abril de 1964, um dia após a instalação do golpe, o seu nefasto editorial onde proclamava cinicamente o “ressurgimento da democracia”. Segue um trecho:

“Vive a nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opiniões sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.”.

Sabemos os “dias gloriosos” que se seguiram a partir daí. O mais incrível é que novamente a Rede Globo tenta desestabilizar um governo democraticamente eleito para que seus interesses particulares sejam mais uma vez atendidos. Sob o mesmo discurso de “Governo irresponsável”, os Marinhos, eles sim, tentam arrastar o país para o que consideram sua “vocação e tradições”, ou seja, a subserviência ao capital internacional, a desigualdade social em níveis alarmantes e a concentração de toda a renda nacional nas mãos de uns poucos privilegiados.

Já está mais do que na hora das Organizações Globo pagarem pelos crimes de lesa-pátria que cometeram e continuam a cometer no Brasil. É simplesmente inadmissível que uma empresa que se ancora numa concessão pública, atente contra os interesses nacionais, contra a soberania de uma nação e contra a vontade declarada e irrestrita da maioria dos brasileiros sem sequer ser incomodada. Já está mais do que na hora do Governo brasileiro e principalmente os cidadãos brasileiros dizerem em alto e bom som às Organizações Globo, que não iremos mais admitir as suas interferências no processo democrático e no futuro da nação.

E a primeira coisa a fazer é cobrar-lhes um alto preço pelo seu apoio à ditadura militar.







Fonte: Carlos Fernandes/DCM



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Rokhshana - Aos 19 anos foi morta!





Rokhshana fugiu duas vezes ao casamento forcado. Aos 19 anos foi morta!

A afegã foi morta à pedrada acusada de adultério. Estava casada por obrigação com um homem mais velho. As imagens do apedrejamento começaram a circular e a culpa foi atribuída aos Talibãs, mas os ativistas acreditam que possam ser obra de líderes de tribos locais

Rokhshana tinha 19 anos. Foi obrigada a casar-se com um homem mais velho do que ela. Em outubro, tentou fugir do Afeganistão com a pessoa que amava. Rokhshana foi apanhada e há uma semana foi apedrejada até à morte em frente a dezenas de espectadores. Agora o vídeo começou a ser divulgado e, entretanto, as autoridades já confirmaram a veracidade das imagens.

Tudo aconteceu em Ghalmeen, uma vila na província de Ghor, no passado dia 25 de outubro. As imagens do vídeo duram cerca de 30 segundos. Rokhshana está enfiada dentro de um buraco, apenas com a cabeça de fora. Em seu redor, um grupo de homens atira pedras.Por cada pedra lançada ouve-se o barulho do embate na cabeça, enquanto um grupo de pessoas observa sem reagir.

As imagens não mostram, mas Rokhshana foi morta. Foi acusada de adultério e de tentar fugir do marido mais velho com que foi obrigada a casar. Segundo avança a governadora daquela província, citada pelo jornal britânico “The Guardian”, a jovem afegã já tinha tentado fugir há uns anos, quando os pais forçaram o noivado com um homem mais velho. Rokhshana fugiu para o Irão.

Quando os pais a encontraram, levaram-na de volta para o Afeganistão e arranjaram-lhe um casamento com um outro homem (igualmente mais velho). Rokhshana fugiu outra vez. Por já ser casada e ter planeado a fuga com um outro homem (na casa dos 20 anos) foi condenada ao apedrejamento em praça pública.

Seema Joyenda, a governadora de Ghor, já lamentou o ato e justificou que aquela é uma zona do país a que as autoridades não conseguem chegar. “O governo não tem acesso àquela área. É uma área totalmente controlada por Talibãs”, disse a governadora, citada pela RFE/RL's Radio Free.

A versão do Governo é que a condenação de Rokhshana teria sido tomada dentro das quatro paredes de um tribunal Talibã. Já os ativistas em Cabul acreditam que os homens na imagem não são membros do grupo extremista, mas líderes de tribos locais radicais.

“Normalmente, eles [autoridades locais] culpam os Talibãs para proteger os seus. Claro que os Talibãs fazem este tipo de coisas, mas não podemos negar que os líderes das tribos fazem o mesmo”, sublinhou Wazhma Frogh, cofundadora do Instituto de Investigação para as Mulheres, Paz e Segurança, citada pelo “The Guardian”.

No Afeganistão, o apedrejamento foi oficialmente banido, embora em 2013 tivesse sido proposta a reintrodução desta pena, mas perante a indignação internacional, a proposta acabou por não avançar.

Não há certezas de quem são os autores do apedrejamento, mas uma coisa é certa: Rokhshana foi morta.






Fonte: MARTA GONÇALVES/Expresso.



Pobres pagam dez vezes mais pela água!



(BBC Mundo)

Um dos mais cruéis paradoxos da desigualdade social em Lima, capital do Peru, se materializa no custo de um bem precioso: os pobres chegam a pagar dez vezes mais do que os ricos pela água.

Um simples passeio pelo bairro de Nueva Rinconada reflete tal abismo. Trata-se de um subúrbio pobre, localizado em uma das colinas da cidade.
Ali, Lydia Sevillano e seus vizinhos pagam o equivalente a cerca de US$ 25 (R$ 96) por mês pela água que consomem.

O assunto ganhou destaque por causa das reuniões anuais do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, realizadas recentemente na capital peruana.
Coincidentemente, um dos temas principais desses encontros é a desigualdade.
Em Lima, ela se evidencia pelo custo que as famílias de diferentes estratos sociais têm de pagar para ter acesso à água.
A água que a família de Lydia usa, por exemplo, não vem da bica.
Ela é trazida por um caminhão-pipa diariamente e abastece cisternas de plástico do lado de fora da pequena casa que abriga a família.

Lydia admite deixar de comprar outros produtos essenciais para poder pagar pela água.
"Temos que economizar tudo o que podemos", diz ela. "Mesmo que precisemos cortar a comida de meus filhos, porque não podemos viver sem água".
A poucos metros rua acima, as casas também abrigam famílias numerosas, mas usam materiais de construção ainda mais frágeis.
Ali a mesma água custa três vezes mais do que Lydia paga na base da ladeira.

O custo extra é fruto da falta de infraestrutura. Como o caminhão de água demora mais tempo para subir a ladeira ─ que não é asfaltada -, o preço da água sobe.
Para evitar ter de pagar mais pelo mesmo bem, a peruana Flor Quinteros, assim como seus vizinhos, carrega rua acima os próprios galões de água.

ONG britânica calcula que uma pessoa pobre em Lima paga dez vezes mais pela água do que quem vive em zona abastada
Mas não se trata apenas de uma questão financeira.
Além de pagar mais caro pela água, os moradores têm de carregá-la elas próprias e vertê-la nas cisternas, que devem estar sempre limpas para evitar contaminação.
Por fim, há o tempo gasto esperando a chegada dos caminhões-pipa - tempo este que poderia ser usado para buscar trabalho, por exemplo.

O custo também se reflete nos problemas de saúde resultantes da água contaminada, armazenada às vezes em recipientes mal higienizados.
As doenças são rotineiras em Nueva Rinconada. Ali os moradores também estão acostumados com deslizamentos de terra causados por terremotos ou tempestades severas.
Nesses casos, paradoxalmente, a água em excesso transforma o bairro em um imenso lamaçal.

'Muro da vergonha'
Na parte superior da colina, ergue-se o símbolo máximo da desigualdade social de Lima: um muro de três metros de altura com cerca de arame farpado.
A estrutura foi construída de propósito ─ evitar que Lydia, Flor e suas famílias passem para o bairro do outro lado da pequena montanha.
Por causa disso, foi apelidado de "muro da vergonha".

Casuarianas, o bairro do outro lado do muro, é naturalmente um lugar muito diferente.
Ali não há pobreza, mas casas bem construídas com água corrente e vista para o mar.
E a água que sai da bica? É barata e suficientemente abundante para encher centenas de piscinas do bairro.
Mais abaixo, no centro da cidade, os participantes dos encontros anuais do FMI e do Banco Mundial permanecem reunidos.
Nos últimos anos, ambas as organizações vêm destacando o efeito negativo da desigualdade de renda para as economias nacionais.
E a prova irrefutável disso está logo acima, nas colinas que cercam a cidade






Fonte: John Mervin/BBC