domingo, 31 de janeiro de 2016

# Porque a Alemanha é uma das economias mais sólidas do mundo!




Milagre do pós-guerra, a "economia social de mercado" alemã parece ser inabalável: superou as explosões nos preços do petróleo nos anos 1970 e 1980, o impacto da reunificação nos 1990, a recessão mundial de 2008-2009 e está passando firme pela atual crise que atinge a zona do euro.
Hoje, o país é um dos três maiores exportadores globais, tem o crescimento per capita mais alto do mundo desenvolvido e um índice de desemprego de 6,9%, bem inferior à média da eurozona, de 11,7%.

Segundo o professor Reint Gropp, presidente do Instituto Hall para a Investigação Econômica (IWH), da Alemanha, o modelo germânico se diferencia de forma muito clara do anglo-saxão dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Mas o que faz dele algo tão particular? Quais são os segredos de seu êxito?
"É um sistema baseado na cooperação e no consenso mais do que na competência, e que cobre toda a teia socioeconômica, desde o setor financeiro ao industrial e ao Estado", explicou Gropp à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Cooperação e capitalismo
A chamada "economia social de mercado" teve sua origem na Alemanha Ocidental do pós-guerra, que estava sob o governo democrata-cristão do chanceler Konrad Adenauer, e se manteve, desde então, como uma espécie de política de Estado.

Sebastian Dullien, economista do Conselho Europeu de Relações Exteriores, concorda que o consenso e cooperação estão presentes em todos as camadas da economia.
"No centro estão os sindicatos e os patrões, que coordenam salário e produtividade com o objetivo obter um aumento real dos rendimentos dos funcionários, além de manter os postos de trabalho. A integração é tal que, por lei, os sindicatos estão representados no conselho de administração, participam das decisões estratégicas nas empresas", afirmou.

No sistema financeiro, as cooperativas e os poderosos bancos públicos se encarregam de fazer com que o crédito alcance a todos, não importa o tamanho da empresa ou o quão distante ela fica de um centro econômico.

Essa filosofia permite superar uma das limitações do sistema anglo-saxão, no qual as pequenas e médias empresas, diferentemente das multinacionais, não têm acesso ao mercado de capitais e muitas vezes enfrentam dificuldades para se financiar.

"Os bancos públicos têm regras claras. Por exemplo: para favorecer o desenvolvimento local, podem emprestar para empresas de sua área, mas não para as de outras regiões. O governo tem representantes nestes bancos, e eles são fundamentais na tomada de decisões. Um princípio que rege sua política de crédito é a manutenção do emprego", afirma Gropp.

'Mittelstand'
Esse modelo está enraizado na história germânica.
A unificação nacional de 1871, sob Bismark, reuniu 27 territórios governados em sua maioria pela realeza e que haviam crescido rapidamente e de forma autônoma durante a Revolução Industrial.
Dessa semente histórica surgem as Mittelstand (pequenas e médias empresas), que, segundo os especialistas, formam 95% da economia alemã.



Diferentemente do modelo anglo-saxão, centrado na maximização da rentabilidade para os acionistas (objetivo de curto prazo), as Mittelstand são estruturas familiares com planos a longo prazo, forte investimento na capacitação do pessoal, alto sentimento de responsabilidade social e forte regionalismo.
"A Alemanha é especialmente forte em empresas que têm umas 100 ou 200 pessoas. Com uma característica adicional: apesar de seu tamanho, muitas dessas firmas competem no mercado internacional e são exportadoras", explica Dullien.

Exportações
Como consequência, a Alemanha tem figurado entre os três principais exportadores mundiais nas últimas décadas, uma prova da eficácia desse sistema para competir mundialmente com produtos tecnologicamente complexos, feitos por uma força de trabalho altamente qualificada e bem paga.

Enquanto o comércio mundial dominado por multinacionais que representam cerca de 60% de toda a movimentação global, na Alemanha as Mittelstand são responsáveis por 68% das exportações.
O setor automotivo, de maquinário, de eletrônicos e medicamentos estão entre seus pontos fortes.
Mas isso não se deve somente às Mittelstand.

Das 2.000 empresas com maior rendimento em todo o mundo, 53 são alemãs, entre elas marcas de grande tradição, como Bayer, Volkswagen e Siemens.

A recuperação do doente
Sob o peso da reunificação, a Alemanha ganhou nos anos 1990 o apelido nada simpático de "doente da Europa".
Era consenso que um sistema com altos salários e forte participação sindical não poderia sobreviver em um mundo governado por um conceito novo, a "deslocalização".

Aproveitando-se de um mundo mais liberal e do fato de que as novas tecnologias das grandes empresas poderiam mudar de um país para outro em busca de maior rentabilidade, obtida com custos salariais menores, as empresas alemãs começaram a migrar pra outros pontos do mundo.

No entanto, no início deste século um governo social-democrata implementou uma série de reformas, classificadas por seus concorrentes de "neoliberais", para reativar a economia nacional.
O remédio funcionou – a economia voltou a crescer. Mas teve um preço: aumento da pobreza, do subemprego e do "miniemprego".

"O lado positivo é que o sistema mostrou um alto grau de adaptabilidade. Porém, as reformas da seguridade social e do mercado de trabalho aumentaram a pobreza e a desigualdade", avalia Sebastian Dullien.

Futuro
Os desafios se acumulam. No curto prazo, os problemas na China afetam as exportações. No médio, a taxa de natalidade alemã não é suficiente para manter seu mercado de trabalho.
Mas não se trata unicamente de uma ameaça externa ou de uma bomba-relógio demográfica.

Um estudo do Instituto Hall mostra que, mesmo em uma economia social de mercado, a interdependência de bancos, empresas e governo pode possibilitar situações de interferência política.
De acordo com a pesquisa, os bancos do Estado emprestam consideravelmente mais durante os anos eleitorais.

"Isso requer um modelo de governo melhor, que impeça a interferência política. Acredito que o sistema precisa de mais liberalização, não é possível que um banco estatal de Frankfurt não possa emprestar para outra região", afirma Gropp, presidente do instituto.

"Estamos no meio de uma grande revolução tecnológica e a economia alemã não está respondendo como deveria porque tem uma estrutura rígida demais. O modelo foi excelente, mas é possível que seja anacrônico."

No entanto, pode ser que mais uma vez o sistema alemão lance mão de sua extraordinária flexibilidade para sustentar um modelo que procura aliar capitalismo, altos salários e plena participação da força de trabalho.





Fonte: Marcelo Justo/BBC




sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

# Dinamarca - Exemplo a ser seguido no combate a corrupção!


(Foto: Flávia Milhorance/BBC Brasil)

A Dinamarca colhe hoje os frutos de mais de 350 anos de empenho contra a corrupção no setor público e privado e, mais uma vez, figura no topo do ranking de 168 países da ONG Transparência Internacional, o principal indicador global de corrupção.

Desde que o índice foi criado, em 1995, o país está nas primeiras posições – em que estão as nações vistas como menos corruptas. Nos últimos cinco anos, só não esteve no primeiro lugar em 2011, que ficou com a Nova Zelândia. Esse é o segundo ano consecutivo em que está sozinha no topo.

O Brasil foi um dos países que registrou a maior queda no ranking neste ano: caiu sete posições, para o 76º lugar. A ONG liga a queda ao escândalo da Petrobras.
O Índice de Percepção de Corrupção é baseado em entrevistas com especialistas – em geral, membros de instituições internacionais como bancos e fóruns globais – que avaliam a corrupção no setor público de cada país.

Na raiz do bom desempenho dinamarquês estão iniciativas de meados do século 17, quando a Dinamarca perdia parte de seu reinado para a Suécia e via que era preciso ter uma administração mais eficiente para coletar impostos e financiar batalhas em curso.

Numa época em que a nobreza gozava de vários privilégios, o rei Frederik 3º proibiu que se recebessem ou oferecessem propinas e presentes, sob pena até de morte. E instituiu regras para contratar servidores públicos com base em mérito, não no título. A partir de então, novas medidas foram sendo instituídas período a período.

Peter Varga, coordenador regional da Transparência Internacional para Europa e Ásia Central, alerta, entretanto, que "países que estão no topo do ranking naturalmente não estão livres de corrupção", pondera.

Casos envolvendo empresas e políticos vez ou outra ganham destaque na Dinamarca. Há dois anos, a empresa dinamarquesa Maersk foi apontada na Operação Lava Jato como possível autora de pagamento de propinas a ex-executivos da Petrobras. E a falta de controle nos financiamentos de campanha é bastante criticada.

"Entretanto, neles isto é uma exceção, não a regra", complementa o representante da Transparência Internacional.
Embora não esteja imune ao problema, a Dinamarca traz alguns bons exemplos que podem servir de inspiração para se combater a corrupção em países como o Brasil. Confira:

1) Menos regalias para políticos
O político Peder Udengaard é membro reeleito do conselho municipal (o equivalente a um vereador) de Aarhus, segunda maior cidade da Dinamarca, com cerca de 300 mil habitantes. Vive numa zona de classe média no centro e não possui carro, por isso vai a pé ao trabalho. Recebe um salário de 10 mil coroas dinamarquesas (R$ 6 mil) para horário parcial, complementados com atividades na direção de uma orquestra.

O único benefício que recebe é um cartão para táxi, que só pode ser usado quando participa de eventos oficiais. A entrevista concedida à BBC Brasil na prefeitura, por exemplo, não estava nesta lista. Duas vezes ao ano, a prefeitura promove eventos fora da cidade e, aí sim, pode-se gastar com deslocamento e alimentação. Presentes precisam ser tornados públicos e repassados a entidades civis.
"Essas regras independem do cargo, pode ser do mais baixo ao mais alto", explica Udengaard. "Se eu tivesse filhos, iriam para a escola pública; encontro meu eleitorado no supermercado, na rua, no banco. Não tenho mais benefícios do que qualquer cidadão. Se quisesse enriquecer ou ter privilégios, não seria político", completa.

Nos últimos anos, o primeiro-ministro Lars Løkke Rasmussen foi acusado em algumas ocasiões de ter usado dinheiro público para pagar contas em restaurantes, táxis, aviões, hotéis e até roupas em cargos como prefeito, ministro e presidente da organização Global Green Growth Institute (GGGI), que recebe recursos do governo.
Confirmaram-se roupas pagas pelo seu partido, Venstre, e passagens pela GGGI, episódios duramente criticados.

2) Pouco espaço para indicar cargos
Tentar beneficiar-se do setor público não é tarefa fácil na Dinamarca. Um dos motivos é que, quando o político é eleito, a equipe que trabalhará com ele é a mesma da gestão anterior. Além disso, o profissional que não reportar um ato ilícito é demitido.
"Receber incentivos econômicos seria difícil, porque os funcionários não estão interessados em acobertá-los", afirma Peder Udengaard, garantindo nunca ter sido informado de algum caso ilícito na prefeitura de Aarhus.

"Regras claras sobre conflitos de interesse, códigos de ética e declaração patrimonial são muito importantes", comenta Peter Varga, destacando que elas geralmente são consideradas eficientes em países no topo dos rankings de corrupção, mas ressaltando que mesmo na Dinamarca a tentação de se aceitar propinas ou exercer influência indevida é geralmente mais forte quanto mais perto se está do centro tomador de decisões políticas.

3) Transparência ampla
A Dinamarca também é considerada a nação mais transparente no ranking "2016 Best Countries" ("Melhores países 2016"), da Universidade da Pensilvânia, dos Estados Unidos.
Os sites dos governos, de todas as instâncias, costumam ser bem munidos de dados sobre gastos de políticos, salários, investimentos por áreas etc. E qualquer cidadão pode requerer informações que não estejam lá.

No Brasil, especialistas concordam que a transparência vem avançando. Fernanda Odilla de Figueiredo, pesquisadora sobre corrupção do Brazil Institute no King's College, de Londres, elogia a Lei de Acesso à Informação e os portais de transparência, mas cobra acesso irrestrito:
"Em 2013, informações sobre viagens internacionais do presidente e do vice-presidente da República foram reclassificadas e só poderão ser acessadas depois que eles deixarem o poder, e no ano passado o governo de São Paulo decretou sigilo de determinados dados", critica.
Leia também: Por que o iPhone e a China preocupam a Apple

4) Polícia confiável e preparada
Raramente, casos de corrupção envolvem a polícia dinamarquesa. A confiança na instituição é considerada muito alta, segundo o relatório 2015-2016 de competitividade global do Fórum Econômico Mundial.

"A polícia goza de alto nível de confiança. Ser um policial geralmente é considerado uma posição relativamente de status. Isto faz jovens considerarem a carreira", acrescenta o especialista em segurança, Adam Diderichsen, professor da Universidade de Aalborg.

Diderichsen também explica que boas condições de trabalho agregam à qualidade do serviço. Após terminar o ensino médio, policiais recebem pelo menos dois anos de treinamento.
A cultura policial dinamarquesa dá ênfase a meios não coercitivos: eles usam armas, mas estão menos propensos a empregá-las do que em países fora da Escandinávia. Em geral, segundo o especialista, recebem um "bom salário de classe média, especialmente se for levado em conta a generosa aposentadoria".

5) Baixa impunidade
O código criminal da Dinamarca proíbe propina ativa ou passiva, abuso de poder público, peculato, fraude, lavagem de dinheiro e suborno.
Em 2013, o Parlamento adotou emendas para fortalecer a prevenção, investigação e indiciamento de crimes econômicos. As penas hoje vão de multa a prisão de seis anos. Elas não são consideradas tão rígidas. Mesmo assim, são aplicadas e cumpridas.

Para a Transparência Internacional, o motivo são as instituições fortes e independentes de Justiça. Já segundo o especialista em corrupção Gert Tinggaard Svendsen, professor da Universidade de Aarhus, há mais do que isso.

"As leis não são tão duras, o que é duro é o mecanismo de punição. A tolerância à ilegalidade na Dinamarca é baixíssima não só com relação às instituições, mas até com indivíduos do convívio que infringem normas das mais simples", diz.

6) Confiança social
Na Dinamarca, é comum alugar um livro da biblioteca sem o intermédio de um funcionário. Em alguns estabelecimentos, pode-se pegar o item, por exemplo uma fruta, e deixar o dinheiro.
Ou, mais surpreendente, famílias não hesitam em deixar seus filhos num carrinho de bebê do lado de fora de um restaurante. Esses pontos, segundo Gert Tinggaard Svendsen, também autor do livro Trust, têm algo em comum: a confiança.

"A confiança social traz regras informais ao jogo. São regras não escritas, entre pessoas. A confiança é a palavra-chave da autorregulação", explica Tinggaard, que pesquisou em 86 países se as pessoas confiavam umas das outras. Na Dinamarca, mais de 70% disseram que sim. No Brasil, apenas 10%.
Segundo ele, os dinamarqueses historicamente passaram a confiar nos indivíduos e, além disso, em suas instituições. Para a ONG, a confiança social ajuda a prevenir a corrupção, pois torna o desvio à norma um tabu. Por outro lado, quanto maior a corrupção, menor a confiança da população.

7) Ouvidoria forte
A Ouvidoria Parlamentar é um órgão que emprega cem funcionários e recebe por ano cinco mil reclamações contra o governo. Destas, pelo menos 50% resultam em críticas ou recomendações. Mais do que apenas notificações, a instituição tem poder de promover mudanças das mais diversas.
"Se outros países quisessem aprender com a Dinamarca, eles deveriam, por exemplo, ter um escritório parlamentar de ouvidoria com uma auditoria independente para ajudar a controlar o Legislativo e Executivo", pontua Peter Varga, da Transparência Internacional.

8) Empenho constante contra a corrupção.
O combate à corrupção na Dinamarca começou no século 17, mas sofreu um aumento no século 19, após uma crise econômica. Para controlar o problema, foi instaurada a tolerância zero na administração real. Segundo a professora da Universidade de Aarhus, Mette Frisk Jensen, pesquisadora do tema, os níveis de corrupção são baixos desde então.

Para Fernanda Odilla de Figueiredo, a experiência da Dinamarca nos ensina que o combate à corrupção não é resolvido de uma só vez. Trata-se de um processo longo, em que é preciso estar sempre vigilante.

"O maior mérito da Dinamarca não é ser o primeiro lugar do ranking, mas se manter no topo por tanto tempo. Isso significa que o Brasil precisa não apenas melhorar o combate à corrupção, como encontrar uma forma de fazer isso de forma estável e consistente."





Fonte: Flávia Milhorance/BBC






terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Preconceito e indiferença em Praia de Santa Catarina!



Jadson da Silva Pereira, invisível principalmente na morte


José Zeferino. Alagoas. Foram as últimas palavras ditas pelo jovem de 23 anos. A princípio os policiais que o socorreram acreditavam ser este seu nome.  Não era.  Ele se chamava Jadson da Silva Pereira, também alagoano, de Maceió.  A investigação suspeita que antes de morrer ele ainda teve forças para denunciar o seu algoz.

Os banhistas da Lagoinha do Norte, praia de Florianópolis, pertinho de Canasvieiras, o viram correr desesperado, perseguido por outros dois homens.

Foi alcançado em frente à guarita dos salva-vidas. Foram tantas facadas, que teve o rosto, as costas e o abdômen perfurados. Morreu na areia, domingo, às 14h. Seus assassinos fugiram. A Delegacia de Homicídios investiga o crime.

Nas praias floripanas sempre há nordestinos. Vendem cangas, redes, castanhas ou queijo coalho. Às vezes, agentes da Prefeitura recolhem suas mercadorias. No mais, trabalham sem folga, carregam cargas pesadas, alugam barracos e os dividem com os colegas de labuta.

São migrantes que vieram apenas para trabalhar. Os vendedores não são vistos em bares ou restaurantes. Também não vão à praia para apreciar um dia de sol, estirados nas cangas que vendem.  Na capital catarinense permanecem por cinco meses, de outubro a março. Depois voltam de ônibus para o Nordeste. Alguns assumem empreitadas em obras e ficam no Sul do Brasil, onde a cultura dos descendentes de europeus preza o trabalho braçal. Exceto se vier de nordestinos.

Em novembro de 2013, moradores de Brusque, no Vale do Itajaí, publicaram uma carta intitulada “Aviso aos Baianos”. De acordo com o texto eles estavam indignados porque os migrantes falavam alto, assim como ouviam músicas altas em casa e não respeitavam as regras de trânsito – por esses motivos deveriam ser mortos.

“(…) Moro em Águas Claras há 26 anos, tenho filhos que moram em outros bairros, e também estão sofrendo. Não vamos nos mudar por causa desses desordeiros. Fizemos um levantamento nos bairros: Águas Claras, Azambuja e Santa Terezinha, Nova Brasília, 1° de Maio, Bateias e Steffen. Constatamos que é absurdo, inaceitável o que acontece nos bairros, além do barulho, até trafegam na contramão, com carros e motos em alta velocidade e alguns com a descarga aberta (sem o silencioso). Durante esses oito meses fizemos levantamentos, já temos as placas dos carros, que são 34, e motos são 22, temos também as fotos desses desordeiros.

Fiquei feliz em comentar com 2 policiais sobre essa carta (antes de ser publicada) para saber a opinião deles e os dois disseram assim: “Finalmente acordaram, é bom mesmo que alguém faça alguma coisa para acabar com esses alienígenas” porque 90% dos casos envolvem baianos. “Não diga a ninguém nosso nome” – eu disse tudo bem.

BAIANOS, vocês conseguiram deixar o povo revoltado, TOMEM CUIDADO e tratem de mudar de comportamento URGENTE. VAMOS ELIMINAR VOCÊS, ISSO MESMO, VAMOS MATAR OS RUINS e acabar com essas pragas.

Nosso grupo composto por 28 cidadãos, onde 11 estão ansiosos para começar a matança, nem queríamos publicar esse aviso, porém a maioria decidiu avisar antes.

Nossa Brusque será de novo uma cidade boa para viver. CUSTE O QUE CUSTAR.”

Jadson vendia queijo coalho. Apesar de inofensiva, sua atividade incomoda o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, Tarcísio Schmidt. Na semana passada, Schmidt culpou os nordestinos por uma virose que assola as praias do Norte, principalmente Canasvieiras. Ele acredita que a infecção seja gerada por queijo coalho, ignora a poluição das águas que contaminou trinta das 42 praias da Ilha.

Mas o preconceito não é restrito às ruas. Gilead Maurício, jornalista, natural de Natal, escreveu em seu blog uma crítica ao ex-governador de Santa Catarina Jorge Bornhausen, que dizia “preferir ser a vaca que o bezerro mamão” e foi enxovalhado de ofensas e ameaças:

“Santa Catarina enquanto só tinha moradores como Jorge Bornhausen, gente trabalhadora, destinta ,de sucesso, era uma beleza,haja visto a beleza das pessoas, não é a toa que o mundo hoje quer vir ver o verão de SC, penso que não é para ver cabeça chata, retirante que vem atrás de oportunidade,que não conseguiu se colocar no seu estado natal, então vem para ser a bosta da vaca, coitados destes nordestinos, feios, despreparados,acabam tendo que vender rede na praia, pois não tem capacidade para mais”.

“Voce é um recalcado!! Pobre coitado, despreparado. Olhe para o seu berço,de onde você veio?de gentalha!!quem é seu pai, sua mãe?? nada! não valem nada, eles e as fezes da vaca não tem diferença, o que fizeram nesta vida alem de colocar este verme no mundo!!vai embora nordestino desgraçado”.

“NÃO VENHA MENTIR, SEU MALDITO CABEÇA-CHATA, QUE ROUBA 75% DOS IMPOSTOS DO MEU ESTADO, DA MINHA REGIÃO. Eu quero ver esses nordestinos começaram a vir para cá em grande quantidade, eu vendo todas as empresas da minha família e crio organizações pra matar nordestinos”.

Quando morto, Jadson arrancou um pouco de piedade dos turistas e choro de crianças. Em seguida, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), o cobriu com manto celeste para esperar a chegada dos funcionários do IML (Instituto Médico Legal). Estirado na areia ficou por quase duas horas.

Mas azul também era o céu, a água cristalina. Os banhistas não resistiram. Voltaram ao lazer. Mergulhos, banhos de sol, água de coco. Jovens compravam cervejas dos ambulantes, meninos faziam um castelinho, um casal se lambuzava de bronzeador, matronas controlavam os filhos dentro d’água na tentativa de evitar afogamentos. Um vendedor de cangas se aproximou. Várias pessoas foram ansiosas conferir os produtos. O corpo ainda estava ali, ao lado, isolado com fitas.






Fonte: Aline Torres/DCM








domingo, 24 de janeiro de 2016

# Quem criou o Estado Islamico?



Estado Islâmico mata 56 soldados e captura base aérea na Síria


George W. Bush pariu o Estado Islâmico ao invadir o Iraque. Agora, uma Síria arrasada pela guerra civil se torna o porto seguro dos decapitadores.


"A América enfrentará um inimigo que não respeita regras de moralidade", disse George W. Bush em março de 2003, quando anunciava o novo passo na sua "guerra ao terror": derrubar Saddam Hussein.

O ditador caiu rapidinho, mas, em vez de um "país unido, estável e livre", como diziam os EUA, o que surgiu foi o autoproclamado Estado Islâmico - um grupo jihadista sanguinário, que não apenas desrespeita "regras de moralidade", como também planeja estabelecer um império islâmico global sob a liderança de seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi - que chegou a passar um ano preso no Iraque pelos americanos, em 2004, junto com outros futuros cabeças do IS. Ou seja: as prisões militares serviram como universidade jihadista.

Mas a raiz dos problemas do Iraque é bem mais antiga: remonta a 1916, quando a França e o Reino Unido esboçaram as fronteiras de Iraque, Síria, Jordânia, Líbano e Palestina - territórios artificiais onde conviveriam diferentes etnias, religiões e tribos. No caso iraquiano, uma maioria xiita no Sudeste, uma minoria sunita no centro e uma minoria curda no Nordeste.

Saddam, no fim do século 20, perseguia a minoria curda do seu país e, como bom sunita, marginalizava a maioria árabe xiita. Com o ditador destronado e a introdução de eleições livres, veio a vingança. Os xiitas, que formam mais de 60% da população, ganharam a perspectiva de permanecer eternamente no poder. Não era um grande problema para os curdos, que tinham conquistado sua região autônoma, mas tratava-se de um desastre para os sunitas, que ressentiam a perda de poder. Na insurgência contra a invasão americana, destacava-se um grupo jihadista sunita: o "Al-Qaeda no Iraque", apoiado por antigos oficiais e soldados de Saddam. Em 2006, reuniu-se com outros grupos e se proclamou "Estado Islâmico no Iraque" (ISI, na sigla em inglês). Quatro anos depois, Abu Bakr assumiria a liderança do grupo.



Enquanto os EUA estiveram no Iraque, o ISI foi apenas um grupo insurgente. Isso mudou em dezembro de 2011, quando Barack Obama cumpriu sua promessa de campanha: abandonar o país. "O que alcançamos foi um Iraque com governo próprio, inclusivo e com um potencial enorme", disse, hesitante, ao lado do primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki.

No dia seguinte à retirada americana, Maliki iniciou a marginalização política dos sunitas com um mandato de prisão do vice-presidente, sunita. Protestos foram crescendo até que, em abril de 2013, as forças de segurança de Maliki chacinaram os membros de uma manifestação pacífica.

Foi o ponto de virada para que sunitas apoiassem o ISI e comprassem o discurso de Abu Bakr: protestos pacíficos jamais acabariam com a perseguição; seria necessária a violência para devolver os territórios sunitas aos sunitas. Também em abril de 2013, o ISI anunciava sua entrada oficial na Síria, aproveitando os enormes vazios de poder deixados pela guerra entre o ditador Bashar al-Assad e os vários grupos rebeldes. Roubando para si parte dos militantes da Frente Nusra, afiliada à Al-Qaeda, Abu Bakr refundava seu grupo como Estado Islâmico do Iraque e da Síria - o ISIS.

E a mesopotâmia virou cenário de Mad Max. O ISIS invadiu o presídio de Abu Ghraib, na periferia de Bagdá, e libertou mais de 500 presos. Então seguiu capturando cidades ao longo dos rios Tigre e Eufrates até que, em junho de 2014, conquistou Mosul, segunda maior cidade do Iraque. Na Síria, expandiu-se pelo desértico leste do país e conquistou Raqqa, a sexta maior cidade de lá. No caminho, fez o que o ISIS faz: exterminou soldados iraquianos rendidos e roubou seu armamento, fornecido pelos EUA; saqueou comércio e bancos, incluindo US$ 425 milhões do Banco Central em Mosul; tomou poços de petróleo na Síria; estabeleceu "impostos" e taxas de extorsão em seus territórios, e saiu decapitando, executando, crucificando e escravizando sexualmente grupos não árabes ou não sunitas.



Em junho de 2014, Abu Bakr deu seu golpe mais ousado. Declarou-se "califa", título dos antigos chefes de Estado muçulmanos. Então mudou novamente o nome do grupo, agora para Estado Islâmico (IS). Desta vez, não se tratava mais de conquistar território sunita no Iraque e Síria, mas de eliminar a ideia de fronteiras nacionais e criar um mundo muçulmano, o que faz do IS inimigo de todos os Estados do planeta. Os EUA ficaram na deles, até que, em agosto de 2014, o IS ultrapassou a linha vermelha: o Curdistão iraquiano, lar de petroleiras americanas. Obama agiu com ataques aéreos, enquanto tropas curdas e iraquianas seguiram por terra. O IS reagiu divulgando no Twitter a decapitação de jornalistas americanos.

A ação dos EUA no Iraque enfraqueceu o IS ali. Mas recuar no Iraque significou avançar na Síria. Isso agravou a crise humanitária de uma guerra civil que, em cinco anos, já tinha matado 200 mil pessoas. E que força agora mesmo 4 milhões a buscar refúgio.

Na guerra civil síria, todos os atores envolvidos são adversários do IS. Mas nenhum deles o vê como inimigo número um. E isso fez do interior da Síria o porto seguro da organização. Bashar al-Assad está ocupado em controlar as regiões densamente povoadas em volta de Damasco e do litoral. Irã, Hizbollah e Rússia estão ocupados em manter Assad no poder. Países do Golfo estão ocupados em apoiar militantes contra Assad.

 A Turquia está preocupada em não fortalecer as milícias curdas no Norte - mesmo que sejam os únicos combatentes com vitórias importantes sobre o IS. E os EUA estão determinados a não sacrificar nenhuma vida americana. No máximo, fazem bombardeios aéreos em alvos estratégicos, o que é irrelevante, já que os homens do IS ficam misturados à população civil.

Conforme a guerra se prolonga, o IS se estabelece, e os refugiados presos em campos superlotados buscam saídas. Atravessar o mar em direção à Europa seria um caminho razoável. Ou pelo menos era o que acreditava a família de Aylan Kurdi, o garoto curdo que nasceu na cidade síria de Kobani, invadida pelo IS, e morreu afogado, tornand0-se mártir de uma crise com muitos culpados, e nenhuma solução à vista.






Fonte: Maurício Horta/SUPER





quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Donos da Globo ganham dinheiro da prefeitura para gerir museu!






Na quinta-feira (17), a cidade do Rio de Janeiro ganhou o Museu do Amanhã, construído na zona portuária onde havia um pier abandonado. O museu faz parte da operação urbana Porto Maravilha, de revitalização e desenvolvimento da região, realizada em parceria público-privada.

A prefeitura conduz o processo, as empreiteiras Carioca Engenharia e OAS constroem, parte dos recursos é de financiamentos do FGTS-FI, o fundo de investimento que faz aplicações dos recursos do Fundo de Garantia e, no caso do Museu, quem toma posse da operação depois de pronto é a Fundação Roberto Marinho, ONG ligada aos donos da TV Globo. A Fundação é duplamente beneficiada: ganha prestígio com mais um museu de grande porte em seu portfólio, e cobra da prefeitura o preço para manter o museu funcionando.

Até aí quase tudo bem, exceto o quase monopólio da Fundação Roberto Marinho na gestão de museus municipais do Rio. Além do Museu do Amanhã, a Fundação também ganhou da prefeitura a gestão do Museu de Arte do Rio, inaugurado em 2013, e o novo Museu da Imagem e do Som, em final de construção.

O maior problema é quando ficamos sabendo que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entrou nesse meio, mesmo fora de sua área de competência.

No âmbito da Operação Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República afirma ter provas de que Cunha recebeu outros R$ 52 milhões em propinas na Suíça e em Israel da empreiteira Carioca Engenharia para liberar financiamento do FGTS-FI para as obras do Porto Maravilha. Dois donos da empresa, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, delataram que o próprio Cunha acertou e cobrou a propina sem intermediários, para depositar no exterior nas contas indicadas pelo deputado.

Segundo a Procuradoria da República, o elo de Cunha com o FGTS-FI era Fábio Cleto, indicado por ele para o cargo de vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal (CEF). Cleto era o representante da Caixa no Conselho Curador do FGTS, posição-chave tanto para dificultar como para facilitar a aprovação do financiamento de R$ 3,5 bilhões para o Porto Maravilha.

Cleto foi demitido pela presidenta Dilma Rousseff na semana passada. Nesta semana sua residência sofreu busca e apreensão por policiais federais, dentro da operação Catilinárias, cujo foco maior foi Eduardo Cunha e outras lideranças do PMDB.

A Fundação Roberto Marinho não é acusada pela Procuradoria-Geral da República de participação nos malfeitos, mas os fatos incontestes são de que ela se torna uma espécie de herdeira na exploração dos museus construídos com possível corrupção de Eduardo Cunha.

O que chama atenção no caso da ONG da família Marinho são os vultosos pagamentos recebidos dos cofres públicos da prefeitura. Segundo o Portal da Transparência da prefeitura do Rio, R$ 56.003.994 já foram pagos à Fundação Roberto Marinho pelo “Programa Porto Maravilha” desde 2010, mais do que a propina atribuída a Eduardo Cunha. Quase todo o valor foi pago antes mesmo da inauguração dos museus.






Fonte:  RBA

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Porque a Petrobrás vale menos que o Whatsapp?





E agora a Petrobras já vale menos que o WhatsApp. Com a ação a R$ 4,45, o valor de mercado da empresa está em US$ 18 bilhões. O Facebook pagou US$ 19 bilhões pelo Whats em 2014.

O WhatsApp ainda não tem um modelo de negócio para produzir receita de verdade. A Petrobras tem, desde o governo Vargas. O problema é que a nossa petroleira tem outra coisa que o Whats não tem: uma dívida de US$ 128 bilhões. Isso dá 50% de todo o valor de mercado do Facebook (ou 100% da Volkswagen global, se você preferir um exemplo da velha economia). Pior: só os juros dessa dívida, a maior do mundo, comem tudo o que a empresa tira de lucro.

Se você fosse a Petrobras, estaria trabalhando só para pagar os juros do cartão de crédito, e precisaria ir tirando cartões novos para pagar as contas de casa. Por mais que você trabalhasse, sua conta continuaria vazia, igual o caixa da Petrobras.

Sim, toda empresa grande tem dívida. Mas Petrobras joga em outro campeonato, sozinha. A Shell, por exemplo, deve US$ 45 bilhões, mas produz o dobro da Petrobras, e também tem seus projetos caríssimos, e também sofre com a baixa recorde do petróleo. O buraco da Petrobras é único.

E fica mais embaixo. Dos quaquilhões que a nossa petroleira deve, US$ 24 bilhões são para agora – a empresa precisa quitar em dois anos, se não vira calote. US$ 24 bilhões é o valor de mercado do Carrefour (ou da Netflix, se você preferir algo da nova economia). Ou seja: a Petrobras precisa achar um Carrefour de dinheiro em dois anos para continuar viva.

Pense nisso quando alguém te aconselhar a comprar ações da Petro porque elas estão “baratas” demais. Diante da situação da empresa, nenhum valor é barato demais. O governo, principal acionista da coisa, provavelmente vai ter que arranjar os caminhões de dinheiro que a empresa precisa para quitar pelo menos uma parte desses US$ 24 bi que vencem até o final de 2017. Mas quem se complica aí são os outros acionistas. Se o governo fizer isso, será em troca de uma fatia ainda maior das ações da empresa – num processo cujo nome técnico é “capitalização”. Hoje o governo é dono de 8 bilhões de ações da Petrobras. Como existem 13 bilhões de ações da Petrobras, o Estado é dono de 60% da companhia. Isso dá 60% da empresa. Um sujeito que tenha um lote de 100 ações é dono de 7,7 bilionésimos.

Agora vem a sacanagem. Se o governo colocar, tipo, US$ 10 bilhões na Petrobras a título de “capitalização” a empresa vai “pagar o governo” emitindo ações novas e dando para ele. Isso cria uma “inflação acionária”. O total de ações cresce, mas sem que a empresa tenha aumentado de valor. Vamos dizer que cresça de 13 bilhões para 20 bilhões de papeis. O dono de todas as ações novas, como a gente viu, é o governo. Nisso, o Estado passaria a ter 15 bilhões de ações (8 bi das velhas + 7 das novas). Ou seja: passaria a ser dono de 75% da companhia.

E o coitado, filho de Deus, que colocou uma parte do FGTS em ações da Petrobrás, ou que confiou na ideia de virar sócio do governo? O que acontece com as ações dele? Passa a valer menos do que antes. Um lote de 100 deixa de equivaler a 8 bilionésimos da empresa. Se tornam 4 bilionésimos. No jargão financeiro, esse acionista acaba “diluído”. Isso não tem nada de alienígena: foi exatamente o que aconteceu na última capitalização da Petrobras, em 2010.

Pense nisso quando alguém aconselhar você a comprar ações da Petro porque elas estão “baratas” demais. Diante da situação da empresa, e com essa diluição no horizonte, valor nenhum é barato demais. Qualquer coisa acima de R$ 0,00 é pura aposta.









Fonte: Alexandre Versignassi/Super






domingo, 17 de janeiro de 2016

Operação Lava Jato - Porque não se pode confiar nela!

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A Lava Jato fracassou. Ponto. Exclamação.

Para que isso não ocorresse, ela teria que ser percebida, consensualmente, como uma operação apartidária, isenta politicamente e, numa palavra, justa.

Não é o que aconteceu.

A atuação da Lava Jato fez, não por acaso, o juiz Sérgio Moro se tornar ídolo de radicais que vão às ruas pedir o impeachment ou mesmo a intervenção militar.

É comum ver faixas pró-Moro nos protestos.

Também não por acaso, Moro ganhou instantaneamente o apoio empolgado da mídia. A direita protege os seus.

No campo oposto, os progressistas detestam Moro. Mais uma vez, como sempre, não por acaso – mas pelo conjunto de atitudes.

Num país dramaticamente polarizado, Moro é mais um fator de divisão e discórdia.

Entre os progressistas não estão apenas os petistas, é importante dizer. Boa parte dos advogados que nesta semana deram marretadas na Lava Jato – “neoinquisição” foi apenas uma delas – não tem vínculo com o PT.

Muitas coisas contribuíram para que Moro fosse visto como um juiz com lado. Jamais se soube de um só ato seu para investigar e punir vazamentos sempre enviesados, alguns dos quais simplesmente criminosos.

O pior vazamento veio na véspera das eleições, e contribuiu fortemente para a causa de Aécio. Segundo o vazamento, desmentido mais tarde pela realidade crua dos fatos, um delator disse que Lula e Dilma sabiam de tudo do Petrolão.

Isso foi para a capa da Veja, e serviu em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, como peça de propaganda para Aécio e, mais ainda, como um instrumento para tirar votos de Dilma.

O depoimento de Youssef, quando conhecido, mostrou que ele jamais dissera aquilo. Mas a eleição já passara, e esse crime, no qual se associaram vazadores da Lava Jato e a Veja, ficou impune.

Com o correr dos dias, Moro deixou de guardar até as aparências. Aceitou o inaceitável: um prêmio da mídia, especificamente da Globo.

Justiça e imprensa devem manter rigorosa distância para se autofiscalizar, mas Moro simplesmente ignorou isso.

Mais recentemente, aceitou outro convite inaceitável, este da Abril, para ser a estrela de um encontro das editoras de revistas.

Deu um passo além: compareceu a um evento organizado por João Dória, um dos líderes do PSDB em São Paulo. Posou sorridente, sem cerimônia, ao lado de Dória.

Do ponto de vista da simbologia, tudo isso não poderia ser pior. Moro se caracterizou como um soldado não apenas do PSDB mas, mais que isso, da plutocracia.

Em nenhuma sociedade avançada você vê cenas como estas, em que um juiz com tamanho poder confraterniza com a mídia e com um partido em situação tão dramática.

Moro, e com ele a Lava Jato, deixou também a sensação de que fala alto com aqueles que a mídia quer ver triturados e baixo com quem tem poder.

Eduardo Cunha é um caso. Nada aconteceu com ele e a mulher depois que a Suíça forneceu, já há meses, provas espetaculares contra o casal. (Cunha tem privilégios legais indecentes por ser deputado, mas ela não.)

A Lava Jato acabou se caracterizando não como uma operação universalmente contra a corrupção. Mas como uma ação específica contra determinado grupo.

Por isso fracassou. Agisse de forma imparcial, poderia ser respeitada e até admirada.

Mas não foi isso que aconteceu.








Fonte: Paulo Nogueira








sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A diferença de " O Estado de direito" e "o estado da direita" !





É curiosa a situação que vive hoje o Brasil. Afinal, no Estado de Direito, você tem o direito de ir e vir, de frequentar um bar ou um restaurante, ou desembarcar sem ser incomodado em um aeroporto, independente de sua opinião.

No estado de direita, você pode ser reconhecido, insultado e eventualmente agredido, por um bando de imbecis, na saída do estabelecimento ou do avião.

No Estado de Direito, você pode cumprimentar com educação o seu vizinho no elevador, desejando-lhe um feliz ano novo.

No estado de direita, você tem grande chance de ouvir como resposta: “Tomara que em 2016 essa vaca saia da Presidência da República, ou alguma coisa aconteça com essa cadela, em nome do Senhor.”

No Estado de Direito, você pode mandar “limpar” o seu computador com antivírus quando quiser.

No estado de direita, você pode ficar preso indefinidamente por isso, até que eventualmente confesse ou invente alguma coisa que atraia o interesse do inquisidor.

No Estado de Direito, você tem direito a ampla defesa, e o trabalho dos advogados não é cerceado.

No estado de direita, quebra-se o sigilo de advogados na relação com seus clientes.

No Estado de Direito, a Lei é feita e alterada por quem foi votado para fazer isto pela população.

No estado de direita, instituições do setor público se lançam a promover uma campanha claramente política – já imaginaram a Presidência da República colhendo assinaturas na rua para aumentar os seus próprios poderes? – voltada para a aprovação de um conjunto de leis que diminui – em um país em que 40% dos presos está encarcerado sem julgamento – ainda mais as prerrogativas de defesa dos cidadãos.

No Estado de Direito, você é protegido da prisão pela presunção de inocência.

No estado de direita, inexistem, na prática, os pressupostos da prisão legal e você pode ser detido com base no “disse me disse” de terceiros; em frágeis ilações; do que “poderá” ou “poderia”, teoricamente, fazer, caso continuasse em liberdade; ou subjetivas interpretações de qualquer coisa que diga ao telefone ou escreva em um pedaço de papel – tendo tudo isso amplamente vazado, sem restrição para a “imprensa”, como forma de manipulação da opinião pública e de chantagem e de pressão.

No Estado de Direito, você pode expressar, em público, sua opinião.

No estado de direita, você tem que se preocupar se alguém está ouvindo, para não ter que matar um energúmeno em legítima defesa, ou “sair na mão”.

No Estado de Direito, os advogados se organizam, e são a vanguarda da defesa da Lei e da Constituição.

No estado de direita, eles deixam agir livremente – sem sequer interpelar judicialmente – aqueles que ameaçam a Liberdade, a República e os cidadãos.

No Estado de Direito, membros do Ministério Público e da Magistratura investigam e julgam com recato, equilíbrio, isenção e discrição.

No estado de direita, eles buscam a luz dos holofotes, aceitam prêmios e homenagens de países estrangeiros ou de empresas particulares, e recebem salários que extrapolam o limite legal permitido, percebendo quase cem vezes o que ganha um cidadão comum.



No Estado de Direito, punem-se os corruptos, não empresas que geram riquezas, tecnologia, conhecimento e postos de trabalho para a Nação.

No estado de direita, “matam-se” as empresas, paralisam-se suas obras e projetos, estrangula-se indiretamente seu crédito, se corrói até o limite o seu valor, e milhares de trabalhadores vão para o olho da rua, porque a intenção não parece ser punir o crime, mas sabotar o governo e destruir a Nação.

No Estado de Direito, é possível fazer acordos de leniência, para que companhias possam continuar trabalhando, enquanto se encontram sob investigação.

No estado de direita, isso é considerado “imoral”.

Não se pode ser leniente com empresas que pagam bilhões em impostos e empregam milhares de pessoas, mas, sim, ser mais do que leniente com bandidos contumazes e notórios, com os quais se fecha “acordos” de “delação premiada”, mesmo que eles já tenham descumprido descaradamente compromissos semelhantes feitos no passado.

No Estado de Direito, existe liberdade e diversidade de opinião e de informação.

No estado de direita, as manchetes e as capas de revista são sempre as mesmas, os temas são sempre os mesmos, a abordagem é quase sempre a mesma, o lado é sempre o mesmo, os donos são sempre os mesmos, as informações e o discurso são sempre os mesmos, assim como é sempre a mesma a parcialidade e a manipulação.

No Estado de Direito você pode ensinar História na escola do jeito que a história ocorreu.

No estado de direita, você pode ser acusado de comunista e perder o seu emprego pela terceira ou quarta vez.

No Estado de Direito você pode comemorar o fato de seu país ter as oitavas maiores reservas internacionais do planeta, e uma dívida pública que é muito menor que a dos países mais desenvolvidos do mundo.

No estado de direita você tem que dizer que o seu país está quebrado para não ser chamado de bandido ou de ladrão.

No Estado de Direito, você pode se orgulhar de que empresas nacionais conquistem obras em todos os continentes e em alguns dos maiores países do mundo, graças ao seu know-how e capacidade de realização.

No estado de direita, você deve acreditar que é preciso quebrar e destruir todas as grandes empresas de engenharia nacionais, porque as empresas estrangeiras – mesmo quando multadas e processadas por tráfico de influência e pagamento de propinas em outros países – “não praticam corrupção.”

No Estado de Direito você pode defender que os recursos naturais de seu país fiquem em mãos nacionais para financiar e promover o desenvolvimento, a prosperidade e a dignidade da população.

No estado de direita você tem de dizer que tudo tem de ser privatizado e entregue aos gringos se não quiser arrumar confusão.

No Estado de Direito, você pode defender abertamente o desenvolvimento de novos armamentos e de tecnologia para a defesa da Nação.

No estado de direita, você vai ouvir que isso é um desperdício, que o país “não tem inimigos”, que as forças armadas são “bolivarianas”, que o Brasil nunca vai ter condições de enfrentar nenhum país poderoso, que os EUA, se quiserem, invadem e ocupam isso aqui em cinco minutos, que o governo tem de investir é em saúde e educação…

No Estado de Direito, é crime insultar ou ameaçar, ou acusar, sem provas, autoridades do Estado e o Presidente da República.

No estado de direita, quem está no poder aceita, mansamente, cotidianamente, os piores insultos, adjetivos, acusações, insinuações e mentiras, esquecendo-se que tem o dever de defender a Democracia, a liturgia do cargo, aqueles que o escolheram, a Nação que representam e, teoricamente, comandam, e a Lei e a Constituição.

No Estado de Direito, você pode interpelar judicialmente quem o ameaça pela internet de morte e de tortura ou faz apologia de massacre e genocídio ou da quebra da ordem institucional e da hierarquia e da desobediência à Constituição.

No estado de direita, muita gente acha que “não vale a pena ficar debatendo com fascistas” enquanto eles acreditam, fanaticamente, que representam a maioria e continuam, dia a dia, disseminando inverdades e hipocrisia e formando opinião.

No Estado de Direito você poderia estar lendo este texto como um jogo de palavras ou uma simples digressão.

No estado de direita, no lugar de estar aqui você deveria estar defendendo o futuro da Liberdade e dos seus filhos, enfrentando, com coragem e informação, pelo menos um canalha por dia no espaço de comentários – onde a Democracia está perdendo a batalha – do IG, do Terra, do MSN, do G1, do UOL…








Fonte: Mauro Satayana



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Facebook está acabando com o buscador Google?




O assunto é polêmico e tem pegado fogo entre pesquisadores de tecnologia: a chegada de 2016 pode significar o fim da ferramenta de busca do Google. Quem chegou a essa conclusão – um tanto quanto alarmista, talvez– é Rowland Manthorpe, editor associado de tecnologia da Wired. Em um especial de previsões para o ano, Manthorpe listou uma série de transformações esperadas em 2016; entre elas, está o possível adeus do buscador mais famoso do mundo. A causa mortis? Espantosamente, os celulares – e a grande transformação no comportamento dos usuários de internet mobile que se deu nos últimos anos.

Em outubro de 2015, o colunista de tecnologia do The Guardian Charles Arthur esteve em uma conferência do Google e fez uma compilação dos melhores momentos da palestra em seu site pessoal. Arthur percebeu algo curioso nos dados de acesso apresentados pela empresa: aparentemente, as proporções de buscas mobile eram curiosamente baixas.

 Esmiuçando os dados, a conclusão de Arthur foi, no mínimo, surpreendente: cerca de 50% dos usuários mobile não fazem uma busca sequer no Google durante o dia, contra 7% que acessam a web por desktop. No computador, 55% dos internautas fazem uma busca por dia e 15% fazem ao menos duas. Quando pensamos nos milhões de pessoas que acessam a internet todos os dias, esses números ficam anda mais impressionantes.


Outro dado importante é o que as pessoas buscam online atualmente. De acordo com Arthur, as buscas mais frequentes são justamente... os sites que as pessoas mais acessam. Sim: termos como "Facebook" ou "Gmail" são as palavras-chave mais usadas no buscador. Parece surreal, mas é um comportamento observável por especialistas – e é justamente esse comportamento que pode levar o Google pelos ares.

A conta ficou fácil. Se tanta gente usa o Google simplesmente para encontrar seus sites favoritos e, com o celular, você tem o app respectivo de cada um deles... por que usar o buscador? O app do Facebook, líder em downloads em todo o mundo, está a apenas um polegar de distância; não é preciso buscar o site no Google para encontrá-lo. A ferramenta se torna, gradualmente, obsoleta na nova internet.

Se essa mudança tão drástica vai realmente se concretizar em 2016, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o Google está preocupado com os números baixos – e mudar um comportamento digital tão arraigado é um grande desafio.








Fonte: Claudia Fusco/Galileu







segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Crianças morrendo de fome na Síria!



Um comboio de ajuda humanitária da ONU começa a entrar na cidade sitiada de Madaya, na Síria, com comida suficiente para alimentar 40 mil pessoas por um mês, assim como remédios e cobertores.

Moradores estão presos na cidade há seis meses por um bloqueio do governo e não recebem nenhum tipo de ajuda desde outubro.
Relatos de ativistas da oposição dizem que a população estaria comendo terra e até mesmo "cães e gatos" para sobreviver.
A ONU diz ter recebido relatos confiáveis de que pessoas teriam morrido de fome. Desde o dia 1º de dezembro, seriam pelo menos 28 mortos.

Um correspondente do serviço árabe da BBC afirma que os três primeiros veículos já entraram em Madaya, enquanto o resto do comboio aguarda permissão.
No total, mais de 60 caminhões operados pela ONU, pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, pelo Crescente Vermelho sírio e pelo Programa Alimentar Mundial deixaram Damasco em direção a Madaya no início desta segunda-feira.

Eles levaram itens básicos de alimentação – incluindo arroz, óleo vegetal, farinha, açúcar e sal –, assim como água, fórmula infantil, cobertores, remédios e material cirúrgico.
Os caminhões também entregarão itens de ajuda a dois vilarejos sitiados por forças rebeldes na província de Idlib, ao norte do país, após um acordo entre as partes em conflito.
A situação em Foah e em Kefraya também estaria muito crítica, com cerca de 20 mil pessoas presas no local desde março.

'Guerra de palavras'
Horas antes da chegada do comboio, a emissora de TV do grupo libanês Hezbollah, Al-Manar, mostrou pessoas, incluindo mulheres e crianças, esperando os veículos em uma das entradas de Madaya.

Brice de la Vigne, que faz parte da ONG Médicos Sem Fronteiras em Madaya, disse que mais de 250 pessoas na cidade sofrem de "desnutrição aguda".
Ele disse ainda que pelo menos 10 delas precisam ser evacuadas imediatamente do local ou podem morrer.

No entanto, o Hezbollah negou que tenha havido mortes na cidade e acusou líderes rebeldes de impedirem que as pessoas deixem a cidade.

O correspondente da BBC no Líbano, Jim Muir, diz que uma vez que as agências humanitárias tiverem acesso a Madaya pela primeira vez desde outubro a real situação da cidade será conhecida.
A ONU afirma que todos os lados envolvidos no conflito no país vêm lançando mão de táticas de guerra e isolando cidades, o que viola leis internacionais de direitos humanos.

O Programa Alimentar Mundial, agência da ONU para o combate à fome, e a Cruz Vermelha escreveram como "extremamente alarmantes" a situação em que se encontram determinadas localidades.

Madaya, que fica cerca de 25 km à nordeste de Damasco e a 11 km da fronteira com o Líbano, está sitiada desde julho por forças do governo e por combatentes do grupo militante islâmico libanês Hezbollah.



Cidade a 25 km de Damasco está sitiada desde julho por forças do governo e do Hezbollah; moradores estão desde outubro sem ajuda
Imagens das crianças esqueléticas de Madaya soaram alarmes em muitas capitais e criaram mais motivação para ajuda, mas também provocaram uma guerra de palavras, segundo a correspondente internacional da BBC Lyse Doucet.

Simpatizantes do governo sírio e do Hezbollah acusaram as forças rebeldes em Madaya de roubar comida para si (e deixar a população faminta). Alguns até zombaram dos relatos sobre pessoas morrendo de fome. A oposição, por outro lado, acusou as forças aliadas ao presidente sírio Bashar al-Assad de mais crimes de guerra.

"Hoje, Madaya é a face do sofrimento. Dois anos atrás era a cidade de Yarmouk", diz Doucet. "Momentos como esse mobilizam a simpatia das pessoas, mas no último ano, foram concedidos apenas 10% dos pedidos da ONU para levar ajuda a pessoas em locais sitiados e de difícil acesso."
A ONU estima que, das 4,5 milhões de pessoas vivendo em áreas "de difícil acesso" na Síria, cerca de 400 mil estejam sitiadas.





BBC








Só brancos que vencem?




“Você só precisa ser branca para vencer”. A frase, dita em um comercial de creme branqueador na Tailândia, gerou polêmica e reacendeu o debate sobre racismo no país.

A busca por uma pele branca é quase obsessiva na Tailândia.

Diversos cosméticos nas prateleiras de farmácias e perfumarias prometem clarear a pele. As mulheres tailandesas expostas ao sol diariamente tentam dissimular a cor da pele com maquiagem branca, evidenciando a diferença do tom entre o rosto e o corpo.

A busca por uma pele de porcelana e o racismo introjetado em mensagens deste tipo ganhou uma nova dimensão com o lançamento de mais um comercial que promete “embranquecer” os tailandeses.

“(A campanha) sugere que as pessoas de pele escura são perdedoras, é definitivamente racista”, escreveu um usuário da rede social tailandesa pantip.com, onde a campanha virou polêmica.

Na propaganda do creme clareador, uma famosa atriz local afirma: “Sabe de uma coisa? Para estar onde estou agora a competição foi muito alta. Não é fácil ficar aqui por um longo tempo. E uma vez que eu parar de tomar conta de mim mesma, tudo o que tenho dedicado, (ao) investimento da (minha) brancura, tudo se acabará”.







Fonte: BBC



sábado, 9 de janeiro de 2016

De onde vem a mão-de-obra barata para o tráfico de drogas?




Sempre que você encarece artificialmente o custo de um bem, a tendência é que a demanda legal por esse bem diminua acentuadamente.  Como consequência, esse bem será empregado em outras atividades até então pouco atrativas.

Em termos práticos, se o governo encarece artificialmente o custo da mão-de-obra menos produtiva — por meio de encargos sociais e trabalhistas elevados, salário mínimo oneroso e tributação pesada sobre as receitas e os lucros das empresas —, a tendência é que esta mão-de-obra pouco produtiva seja menos demandada por empreendimentos legais e, consequentemente, seja canalizada para mercados mais desregulados — e quase sempre ilegais.

O mesmo ocorre quando o estado dificulta o empreendedorismo dos mais pobres, que não têm como arcar com a burocracia, com as licenças, com as regulamentações e com as inúmeras outras exigências impostas pelo estado que obstaculizam qualquer ato empreendedorial.  Tais pessoas são atraídas para aqueles mercados em que as imposições estatais são menores — para não dizer nulas — e a possibilidade de lucros, mais altas.

Dado que o governo bloqueou todos os métodos legais para o indivíduo sair da pobreza, recorrer a uma atividade ilícita torna-se uma opção viável para aqueles que não sofrem de restrições morais.

Um setor que atrai a imensa fatia desta mão-de-obra pouco produtiva e destas pessoas de espírito empreendedorial, mas que não têm dinheiro, é o mercado das drogas.  Se você mora nos subúrbios e não há opções legais para ascender socialmente — porque o governo criou várias imposições —, uma das maneiras mais fáceis e rápidas de enriquecer é se tornando um traficante.

Por quê?

Porque as regulamentações, as burocracias e os impostos do governo não se aplicam ao mercado das drogas.  Não há leis de salário mínimo, não há exigências burocráticas, não há taxas de licenciamento, não há um Ministério do Trabalho dando batidas e impondo requerimentos.  Principalmente, não há imposto de renda.

Por se tratar de um mercado criminalizado pelo governo, as margens de lucro são enormes, pois elas embutem todo o risco empreendedorial — o risco de ter sua carga confiscada pelo governo e ter sua mão-de-obra encarcerada.  Essas altas margens de lucro, que possibilitam altos salários, são um atrativo irresistível para aquelas pessoas desiludidas que não conseguiram trabalhar nem empreender legalmente por causa das restrições estatais.

 Nos subúrbios, é difícil resistir a essa tentação do enriquecimento fácil.  Jovens sem perspectivas e que não conseguem empregos legais são facilmente contratados pelos barões do tráfico, pois a burocracia exigida para se contratar esse tipo de mão-de-obra é nula.  Adicionalmente, o fato de o salário neste mercado ser integral, sem deduções previdenciárias e sem imposto retido na fonte, garante uma oferta contínua e crescente de mão-de-obra para o setor.

Da mesma maneira, pessoas de espírito empreendedorial também se aventurarão no mercado das drogas porque poderão reter para si todos os lucros auferidos, que não estão sujeitos a imposto de renda.  Além disso, um chefão do tráfico não tem de se preocupar com greves e outras exigências trabalhistas.  Também não há o risco de ele ser levado à Justiça do Trabalho por ter pedido hora extra.

Este é o tipo de empreendedorismo que floresce naqueles subúrbios em que não há perspectivas econômicas e não há possibilidades de ascender na vida por meios legais, pois o governo bloqueou todas as avenidas legítimas que retiram as pessoas da pobreza.  O empreendimento criminal voltado para o mercado de drogas é atraente porque opera como se estivesse em um paraíso fiscal.



Sim, trata-se de um mercado violento.  Como não há leis e os tribunais estatais não reconhecem os contratos verbais feitos no submundo, os indivíduos deste mercado sempre recorrem à justiça com as próprias mãos.  Não há outra maneira de impor o cumprimento de contratos.  Os gastos com segurança pessoal também são altos.  Os custos marginais de se eliminar fisicamente um concorrente são baixos e os benefícios, extremamente altos.  Você assume o mercado do seu concorrente eliminado e, como consequência, seus lucros se tornam ainda mais elevados.

Mas tudo isso também é consequência direta da proibição das drogas.  O governo, ao tornar ilegal tal mercado, faz com que seus integrantes não possam recorrer aos meios legais para fazer cumprir seus contratos.  E como empresas de arbitramento também estão proibidas de fazer tal serviço, a única opção que resta é recorrer à violência.  Todas essas proibições servem apenas para elevar os lucros de quem opera neste mercado e, consequentemente, a atratividade deste mercado para a mão-de-obra mais despreparada e menos produtiva.

Se não houvesse uma guerra às drogas, se as drogas não fossem criminalizadas, se elas fossem legais, não haveria todas essas oportunidades irresistíveis.  E sem essas oportunidades artificialmente criadas pela proibição estatal, e, principalmente, sem os impedimentos burocráticos, trabalhistas e tributários criados pelo governo no mercado legal, estes empreendedores dos subúrbios canalizariam sua criatividade, seu trabalho duro, sua iniciativa e seu empreendedorismo para outras atividades mais benéficas para a sociedade; vidas e recursos não seriam direcionados para esta atividade contraproducente que é o mercado de drogas.

Foi o governo quem criou este mercado paralelo, foi o governo quem dificultou ao máximo que as pessoas dos subúrbios ascendessem por meios legais, e é o governo a fonte desta criminalidade específica do mercado das drogas; e mais governo não será a solução.  Mais intervenção governamental poderá apenas perpetuar a pobreza e a fonte de mão-de-obra para o tráfico de drogas.

Por fim, para agravar a situação, o governo atua em outra ponta que faz com que a mão-de-obra para o mercado das drogas se torne crescentemente especializada: o sistema penitenciário.

Como consequência de toda esta criminalidade criada pelo governo, vários integrantes do tráfico de drogas — mais especificamente, os "peixes pequenos" — são capturados e enviados para penitenciárias.  Deixando de lado toda a questão dos custos de se gerir estas enormes excrescências burocráticas que são as penitenciárias federais e estaduais, vamos nos concentrar nos resultados.  O que são as prisões atuais se não genuínas universidades do crime?

Um garoto pobre que vendia drogas e que foi capturado pela polícia e enviado a uma penitenciária, o que acontecerá a ele?  Entrará em contato com todos os tipos de criminosos, todos eles mais experientes.  Esse convívio prolongado fará com que o garoto adquira malícia, aperfeiçoe suas habilidades criminais e ganha mais intimidade com o mundo do crime.

Ao sair da cadeia, após anos de imersão com os especialistas, ele será um pós-graduado em criminalidade.  Ele agora estará a par de todos os truques das ruas; conhecerá todas as "manhas" da criminalidade.

Traficantes jovens que cumprem pena não são reabilitados.  Também não são necessariamente punidos.  Ao saírem da cadeia, eles são vistos como heróis por seus pares; eles se tornam um modelo para seus amigos.  Eles cumpriram pena, saíram ilesos e, por isso, adquirem mais respeito.  Estarão prontos e ainda mais preparados para ascender na carreira criminosa.  Graças ao governo e a todas as suas proibições






Fonte:  Peter Schiff, 




Zika vírus nos Estados Unidos?



Após se espalhar pelo Brasil e ser associado a milhares de casos de microcefalia em bebês, o zika vírus agora chama atenção nos Estados Unidos, por conta do registro de um caso em Porto Rico que gerou apreensão na imprensa americana.

Em 31 de dezembro, um primeiro caso da doença foi registrado em Porto Rico. Autoridades da ilha – que integra o território americano – afirmaram que o paciente não viajou recentemente, o que descartaria a possibilidade de que tenha contraído a doença no exterior.

O caso fez epidemiologistas especularem se o vírus não poderia seguir a mesma trajetória da dengue, que chegou aos EUA por Porto Rico e depois se espalhou pela Flórida e por Estados do Golfo do México. O Havaí, no Pacífico, também estaria na zona de risco.

"O zika vírus está se espalhando fora do Brasil e pode ameaçar os EUA", diz o título de uma reportagem no site da Newsweek, uma das principais revistas americanas. O governo americano, por enquanto, apenas sugere cautela a viajantes que tenham o Brasil como destino.

A revista diz que, além de picadas de mosquito, é possível que o vírus também seja transmitido sexualmente. Existe até o momento apenas um caso documentado com essa possibilidade, envolvendo um cientista americano que voltou do Senegal e suspeita-se que ele possa ter infectado sua mulher por intermédio de relações sexuais.
Até o momento, porém, a única forma confirmada de transmissão do vírus é pelo mosquito.

Em entrevista ao site noticioso Vox, o diretor do Instituto de Infecções Humanas da Universidade do Texas em Galveston, Scott Weaver, afirma que o vírus pode chegar ao sul dos Estados Unidos a partir do início da primavera no hemisfério Norte (20 de março). "Ele está se espalhando muito rápido."

A reportagem cita a possibilidade de que o zika também é associado à ocorrência da síndrome de Guillain-Barré, que ataca os músculos e pode levar à paralisia.
O New York Times também tratou do tema. Uma reportagem no jornal diz que "doenças tropicais – algumas nunca vistas nos Estados Unidos – estão marchando para o norte, conforme a mudança climática permite a mosquitos e carrapatos expandir seu alcance".

O jornal afirma que o número de doenças causadas por insetos tem crescido no país ano após ano, citando casos de dengue, chikungunya, Chagas, doenças de Lyme e do vírus do oeste do Nilo.
A publicação diz que, até maio, o zika ainda não havia chegado ao hemisfério ocidental, mas hoje causa "pânico" no Brasil e circula por outros 13 países latino-americanos

Brasil encontrou correlação entre casos de microcefalia e infecção pelo zika vírus
Segundo a Organização PanAmericana de Saúde, apenas o Brasil encontrou uma correlação entre o zika e a microcefalia (bebês com cabeças bem menores que a média).

A publicação afirma que expansão do vírus nos EUA depende da capacidade do mosquito Aedes albopictus em transmiti-lo de forma tão eficiente quanto o Aedes aegypti.
O Aedes aegypti só habita as áreas ao sul da capital americana, Washington, enquanto o Aedes albopictus sobrevive até as regiões de Nova York e Chicago, no norte do país.

Cautela
Por ora, o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças do governo americano adota um tom cauteloso sobre a doença.
Em seu site, o órgão divulgou um comunicado em que reconhece os relatos de crescimento nos casos de microcefalia no Brasil, mas diz que a doença pode ter várias causas, como infecções ou exposição a substâncias tóxicas durante a gravidez.




A organização recomenda, no entanto, que todas as pessoas, especialmente grávidas, em viagem para o Brasil e outras partes da América Latina tomem precauções para evitar picadas de mosquitos e reduzir o risco de contaminação pelo zika ou outros vírus.

O zika foi identificado pela primeira vez em 1947, em Uganda.
O primeiro caso no Brasil foi registrado em maio de 2015. Desde então, segundo o Ministério da Saúde, foram identificados 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionados ao vírus, a maioria no Nordeste.
A doença provoca sintomas parecidos com os da dengue, como febre, dor de cabeça e manchas avermelhadas pelo corpo. Alguns pacientes, porém, não apresentam qualquer sinal da infecção.







Fonte: João Fellet/BBC


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Bomba H coreana!





Após o registro de um abalo sísmico no território norte-coreano, ditadura asiática solta um comunicado bizarro na TV estatal afirmando que detonou uma bomba de hidrogênio e se declarando um "país amante da paz".

Após um abalo sísmico de magnitude 5,1 ser detectado esta madrugada, com epicentro próximo à área de testes nucleares de Punggye-ri, na Coreia do Norte, a TV estatal norte-coreana transmitiu um bizarro comunicado oficial. No texto, além de afirmar que o tremor foi causado pela detonação de uma bomba de hidrogênio, o governo de Kim Jong Un deu mais uma demonstração de seu peculiar estilo literário. Autoelogiou-se diversas vezes, chamou os EUA de lobos ferozes, tirou onda desse papo-furado de "direitos humanos" e terminou garantindo que, com a nova bomba, o país seria "próspero para sempre".

Estilo a parte, a comunidade internacional se mostrou cética quanto a bomba ser mesmo de hidrogênio. Bombas desse tipo, detonadas por fusão nuclear, são pelo menos 1.000 vezes mais potentes do que bombas atômicas tradicionais, de fissão, como a de Hiroshima. Até onde se sabe, a Coreia do Norte está bem longe de dominar a fusão, uma tecnologia bem mais complexa. Especula-se que a bomba que provavelmente explodiu esta madrugada seja uma bomba híbrida, na qual uma pequena fusão nuclear serve para amplificar a reação em cadeia da fissão. Bombas híbridas são mais destrutivas que bombas de fissão, mas muito menos do que bombas-H.

Mas, na falta de informações mais confiáveis, restou ao mundo divertir-se com as provocações norte-coreanas. Uma empolgada apresentadora de quimono cor-de-rosa elogiou os "milagres" que o regime do partido único tem realizado e afirmou que eles anteciparão a "vitória definitiva da causa revolucionária". Disse que o teste nuclear foi realizado com "engenhosa sabedoria" e de "maneira perfeita e segura". Daí para frente, foram só críticas aos EUA, os "chefões da agressão", enquanto que a Coreia do Norte seria um "genuíno país amante da paz". "Nada é mais tolo do que soltar sua arma de caça diante de hordas de lobos ferozes", afirmou, no trecho que mais repercutiu.

Para além dos floreios, acredita-se que detonações como essa são uma mistura de chantagem internacional com marketing interno. Por um lado, a Coreia do Norte tem acreditado que é útil se mostrar perigosa e imprevisível, como forma de receber agrados da comunidade internacional. Essa estratégia é discutível - o país se mostra cada vez mais isolado, e até mesmo os aliados chineses têm se mostrado cada vez mais distantes e tratado a ditadura de Kim Jong Un com condescendência. Mas é possível que a demonstração de força pegue bem internamente, embora a falta de eleições e de pesquisas confiáveis dificultem que se verifique essa hipótese.



Se confirmada, esta terá sido a quarta detonação nuclear norte-coreana. Das três anteriores, duas coincidiram com a posse do presidente americano (nos dois mandatos de Obama). As outras três detonações foram todas de bombas de fissão. Bombas de hidrogênio não são exatamente tecnologias novas - os EUA testaram sua primeira em 1952. Mas ninguém quer ver um brinquedinho desses nas mãos do gorducho Kim Jong Un.






Fonte: Denis Russo Burgierman 




terça-feira, 5 de janeiro de 2016

India - Crianças fazem jornal!





Em uma casa da capital indiana, Nova Déli, um grupo de crianças de rua está concentrado em uma incomum reunião editorial.

Elas estão ligadas pela paixão ao Balaknama (Voz das Crianças), um jornal de oito páginas dedicado às crianças que vivem e trabalham nas ruas.
A publicação orgulhosamente se autointitula "o único jornal do mundo para e feito por crianças de rua que trabalham".

Chandni, de 18 anos, a editora, se junta à animada discussão sobre o conteúdo da próxima edição do jornal, cuja circulação aumentou de 4 mil para 5,5 mil cópias desde que ela assumiu o comando, um ano atrás.

Os repórteres são crianças de rua ou que trabalhavam em Nova Déli ou localidades vizinhas. Elas foram resgatadas pela Chetna, uma ONG que atua na reabilitação de pessoas nessas condições.
Segundo estimativas, mais de 10 milhões de crianças vivem nas ruas e são forçadas a trabalhar na Índia.

'Catártico'
A vida de Chandni tem sido permeada pela extrema pobreza. Além de ter já ter trabalhado como artista de rua ao lado do pai, ela teve de atuar como catadora para sustentar a família.

Um programa de extensão da ONG a estimulou entrar para a escola e deu uma pequena remuneração para fazer com que ela não voltasse a catar lixo nas ruas. Além disso, a treinou para ser repórter.

"Eu estou muito orgulhosa de editar esse jornal porque ele é único na Índia. Crianças cuja infância foi roubada, que passaram fome, mendigaram, foram abusadas e forçadas a trabalhar escrevem sobre outras crianças que estão passando por situações semelhantes", conta Chandni.
"Não é só catártico, mas também dá a cada um de nós um propósito. Só podemos nos tornar melhores a partir disso."

Chandni administra uma Redação de 14 repórteres que cobrem Déli e as regiões vizinhas de Haryana, Uttar Pradesh e Madhya Pradesh.
A maioria deles narra seus trabalhos aos colegas no escritório de Déli, pois frequentemente não têm acesso a e-mail.

Para ficar de olho no conteúdo que é produzido, Chandni conduz duas reuniões editoriais por mês.
O tabloide é vendido por 2 rúpias (R$ 0,12) e é financiado e publicado pela Chetna. Além de ter dificuldade em encontrar anunciantes, a publicação não recebe nenhuma ajuda do governo.

Recursos limitados
Shanno, de 19 anos, abandonou a escola após a 5ª série. Sua história de vida inclui, entre outros dramas, trabalhar horas a fio e lidar com um "pai bêbado".
Hoje, ela estuda em busca de um diploma de Serviços Sociais e espera ter uma carreira como ativista. Ela também treina outros repórteres do jornal.

"Fizemos uma pesquisa por amostragem em Déli em novembro e rastreamos 1.320 crianças vivendo nas ruas e trabalhando", ela conta.
"Queríamos mostrar à polícia e ao governo que era possível fazer uma contagem correta do número de crianças de rua. Se nós conseguimos fazer isso com recursos limitados, então eles podem fazer o mesmo com todo o pessoal e recursos que têm."
"Tem-se falado de uma pesquisa sobre crianças de rua conduzida pelo governo de Déli e pela polícia, mas nada saiu até agora."

Shambhu, que também trabalha no jornal, afirma que enfrentou muita resistência e sofreu ameaças enquanto atuava na pesquisa.
"Tivemos que encarar muita oposição e até mesmo ameaças quando fomos conversar com crianças que trabalham em restaurantes e hotéis. Seus empregadores eram agressivos. Mas nós firmemente dissemos a eles que nós ligaríamos para o serviço de assistência a crianças se eles não nos deixassem conversar com elas", conta ele.

Chegar até crianças trabalhando em residências particulares, restaurantes e fábricas deu um propósito a outra Chandni, esta uma jovem de 16 anos.
Ela ecoa a dor e o horror de muitas crianças sem nome nas histórias que produz para o jornal – e, inclusive, se prepara para ser a próxima editora da publicação.

"Eu quero aumentar o alcance do jornal e fazê-lo dar lucro. Ele é a voz de todos nós que sobrevivemos às dificuldades nas ruas, nas casas de outras pessoas e em oficinas, e que agora podemos falar por vários outros que continuam a lutar. O silêncio deles deve ser ouvido", conclui ela.




Fonte: P Sivaramakrishnan/BBC