Muitas instituições, incluindo a ONU e o FMI, reconhecem que a desigualdade de renda é alta e vem aumentando no mundo. O tema ganhou especial atenção com o sucesso do novo livro do francês Thomas Piketty - O Capital no Século XXI. Alguns economistas apontam, porém, que a concentração de renda é ainda maior do que os dados oficiais revelam.
Segundo James S. Henry, professor do Centro de Investimento Internacional Sustentável na Universidade de Columbia, tantos os cálculos de Piketty como os dos organismos internacionais subestimam a verdadeira desigualdade mundial, pois não levam em conta o dinheiro oculto em paraísos fiscais.
"Há cerca US$ 21 trilhões escondidos em paraísos fiscais. Esta riqueza está nas mãos de uma pequena parte da elite e não entra nas medições", disse Henry à BBC Mundo.
Medindo a desigualdade
As estimativas de desigualdade são feitas fundamentalmente a partir de pesquisas domiciliares em que as pessoas informam livremente sua renda ou, no melhor dos casos, das declarações de impostos de renda.
Em 2006, a ONU constatou que o 1% mais rico do planeta possuía 39,9% da riqueza global. Em 2011, o instituto de pesquisa do banco Credit Suisse calculou que os 10% mais ricos tinham 84% tinham da renda global, enquanto a metade mais pobre apenas 1% .
O estudo de Henry sobre a riqueza oculta (The Price off shore revisited) mostra as limitações desta comparação, quando somente os dados visíveis são levados em conta.
O economista estima que um terço de riqueza financeira privada e metade do dinheiro em paraísos fiscais está na mão de 91 mil pessoas, o que representa apenas 0,001% da população mundial.
"Isso nos permite calcular também que cerca de 8,4 milhões de pessoas, ou seja, 0,14% da população, têm 51% da riqueza global", disse à BBC Mundo.
América Latina é região mais desigual do mundo, calcula Henry
O estudo de Henry se baseia em fontes oficias nacionais, como os bancos centrais, além de dados de FMI e Banco Mundial, para analisar 139 países. América Latina é a região com maior desigualdade do mundo, estima ele.
Os dez com maior fuga de capitais são China, Rússia, México, Arábia Saudita, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Venezuela, Catar e Nigéria.
Queda neutralizada
O impacto concreto no cálculo da desigualdade é claramente visível em um estudo específico sobre a Argentina, que analisou a fuga de capitais entre 2002 e 2012. Ele aponta uma elevação do coeficiente de Gini de 0,42 para 0,49 uma vez que são registrados no cálculo do índice os recursos enviados para paraísos. O coeficiente de Gini é uma fora de medir a desigualdade – quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda.
A estimativa dos autores é de que haja US$ 400 bilhões de argentinos em paraísos fiscais, o equivalente a 15 vezes as reservas internacionais do Banco Central.
Um dos autores da pesquisa, o economista Jorge Gaggero, explicou à BBC o impacto econômico e social desse processo:
"Mas, mesmo se tomarmos um número mais conservador, de cerca de US$ 200 bilhões, vemos que a desigualdade salta de 0,42 para 0,48 no país. Esse aumento neutraliza todos os avanços de melhora da distribuição de renda devido ao crescimento econômico.
Fonte: Marcelo Justo/BBC
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