Quase meio milhão de adolescentes e jovens adultos que postaram conteúdo com termos como “xariá” (o código de leis islâmicas) ou “mujahideen” (combatentes islâmicos) começaram a ver, a partir de meados do ano passado, uma série de vídeos animados surgir no seu feed de notícias no Facebook.
Em um dos vídeos, personagens animados empunhando armas aparecem embaixo da bandeira do EI (Estado Islâmico). “Não fique confuso com o que os extremistas dizem, que você deve rejeitar o novo mundo. Você não precisa aderir”, diz o narrador. “Lembre-se, diga sim à paz e não ao extremismo.”
Os vídeos são parte de três experiências – financiadas pela Alphabet, controladora do Google, com a ajuda do Facebook e do Twitter – que exploram ferramentas da publicidade on-line para contrabalançar a onda crescente de propaganda extremista na internet, tanto de radicais islâmicos como de grupos de extrema direita.
O objetivo é observar que tipos de mensagens podem atingir potenciais extremistas antes de eles se radicalizarem – e, então, repassar o modelo para produtores de conteúdo por toda a internet.
O estudo, detalhado em relatório publicado pela organização Instituto para o Diálogo Estratégico, que atua no combate ao extremismo global, é uma tentativa de entender quais técnicas funcionam, diz Yasmin Green, líder das iniciativas de combate à radicalização da Jigsaw, unidade da Alphabet antes chamada de Google Ideas. “Ao final, é uma batalha de ideias”, diz Zahed Amanullah, diretor do programa de contranarrativas do instituto.
Uma série de ataques violentos cometidos por pessoas ou pequenos grupos radicais já matou centenas de pessoas na Europa, Ásia e nos EUA nos dois últimos meses. Em muitos casos, como os ataques em Nice, na França, e em Orlando, na Flórida, materiais de propaganda e de uso da violência divulgados na internet são um incentivo importante para os autores dos ataques, dizem as autoridades.
A resposta dos governos tem sido, principalmente, exigir que empresas de tecnologia acelerem a remoção de conteúdo extremista de seus serviços na internet. Mas o EI é ágil para abrir novas contas e expandir sua propaganda para novos aplicativos, levando a um jogo de gato e rato.
“É simplesmente impossível acabar com tudo”, diz Susan Benesch, professora do Centro Berkman Klein, da Universidade Harvard, nos EUA. “Mesmo se uma plataforma tiver sucesso em derrubar algo, geralmente esse conteúdo já está disponível em outro lugar.” Além disso, campanhas de convencimento lançadas por governos para combater a propaganda extremista geralmente fracassam. “Uma vez que a mensagem ganha o rótulo de ‘governo’, ela fica comprometida para muitos jovens”, diz uma autoridade francesa.
O Instituto para Diálogos Estratégicos começou a trabalhar, em 2014, com a Alphabet em maneiras de direcionar melhor suas mensagens. Naquele projeto, o Google mostrou alguns resultados de buscas e vídeos patrocinados para pessoas de grupos demográficos selecionados que buscavam informações sobre radicalismo islâmico. No estudo publicado recentemente, os organizadores expandiram aquele primeiro trabalho para conteúdos diferentes no Twitter, YouTube e Facebook exibidos a usuários nos EUA, Reino Unido e Paquistão.
A Alphabet contribuiu com uma soma não revelada para financiar os vídeos realizados por três grupos de divulgação. O Facebook, o Twitter e o YouTube, que também é da Alphabet, doaram créditos de publicidade avaliados em cerca de 30 mil dólares, quando as experiências foram realizadas, em outubro e novembro de 2015.
Fonte: AG e Folhapress
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