sábado, 14 de fevereiro de 2015

Lava-Jato - Dá pra confiar nas delaçôes premiadas?


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Lava-Jato: Precisamos tomar cuidado para não ser enredados pelo excesso de narrativas; é bom lembrar que delatores premiados seguem tendo interesses a resguardar e contas a acertar

Acompanhar as lambanças do submundo não é fácil, especialmente porque temos de lidar com vazamentos de depoimentos. E quem vaza isso ou aquilo sempre tem lá os seus motivos, não é?

 Que uma safadeza das grandes, de muitos bilhões, foi perpetrada na Petrobras (e onde mais?), isso é fato. Vamos ver. O doleiro Alberto Youssef afirma que José Dirceu recebeu propina do empresário Júlio Camargo, na Toyo Setal. A exemplo do doleiro, Camargo também fez acordo de delação premiada. E, até onde se sabe, não citou Dirceu. Ainda segundo Youssef, Camargo era íntimo do ex-ministro da Casa Civil e também de Antonio Palocci. Os petistas costumavam usar, afirmou, um avião Citation Excel, de propriedade de Camargo, que ficava num hangar da TAM, em São Paulo.

O nome de Dirceu já havia aparecido no escândalo do petrolão. A sua consultoria recebeu, ao todo, R$ 4,6 milhões das empreiteiras UTC, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e OAS. Segundo o chefão petista, o pagamento decorre de serviços efetivamente prestados. Youssef diz ainda que Camargo tinha um testa de ferro chamado Franco Clemente Pinto, encarregado de distribuir os pagamentos. Na lista de Franco, Dirceu era identificado como “Bob”.

Em reportagem de 2005, no início do escândalo do mensalão, VEJA revelou que entre as pessoas autorizadas a sacar dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, no Banco Rural, estava um dos principais ajudantes de Dirceu, Roberto Marques, conhecido justamente como… “Bob”. Era ele quem cuidava da agenda do então ministro.

Então tá. A menos que estejamos perdendo alguma coisa, ou Youssef fantasia — e por que o faria? —, ou Júlio Camargo não contou toda a verdade, a não ser que já tenha implicado Dirceu em seu depoimento, e a gente não saiba. O que estou dizendo é que duas delações premiadas, que trarão benefícios a seus respetivos autores, não podem ser verdadeiras com versões tão distintas. Ou por outra: precisamos ficar atentos para não ser enredados pelo cipoal de interesses, que permanecem e remanescem, mesmo no curso das investigações.

Querem outra história estranha? Paulo Roberto Costa diz ter recebido US$ 31,5 milhões da Odebrecht no exterior, o que a empresa nega. Ninguém esperaria que confirmasse, claro! Mas aí Costa diz que esse dinheiro não teria nenhuma relação com aquele que alimentava, digamos, normalmente o esquema, irrigando o bolso dos políticos. Cabe à Polícia e ao Ministério Público investigar. Mas fico cá me perguntando por que a Odebrecht daria uma bolada dessa — e não é pouco dinheiro — “por fora” a Paulo Roberto.

Segundo ele disse, não se tratava nem de comissão, mas apenas de uma política de bom relacionamento. A rigor, se o depoimento foi mesmo esse, não seria crime ainda que a empresa admitisse. Mas vocês imaginam uma gigante como a Odebrecht a premiar com mais de US$ 30 milhões um diretor da Petrobras — que não decidia nada sozinho — só como política de bom relacionamento? Se é para comprar alguém a esse preço, não seria o caso na subir na escala?

Acho que é chegada a hora de começar a divulgar, oficialmente e de forma ordenada, os depoimentos. Já sobram versões e começa a faltar sentido em toda essa sem-vergonhice.







Por Reinaldo Azevedo

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