A atriz e comediante britânica Dawn French, com seu corpo bem cheinho, disse certa vez que teria sido uma "supermodelo" se tivesse nascido no século 16. "Tenho certeza de que teria posado para (o pintor flamengo) Rubens e faria muito sucesso. Já a (magra modelo) Kate Moss teria sido usada como o pincel", declarou.
A piada de French não deixa de ter um fundo de verdade. Afinal, certos padrões de beleza mudam ao longo do tempo. Mas será que alguns aspectos da beleza seriam aceitos universalmente, em todas as culturas e através dos séculos?
Existem algumas razões evolutivas pelas quais a beleza deveria ser atemporal. Algumas características biológicas são um sinal de saúde, vitalidade e fertilidade – tudo o que é essencial para ser um bom parceiro para o acasalamento.
No entanto, quanto mais biólogos e psicólogos buscavam exemplos, mais difícil era encontrar uma base puramente biológica para a beleza.
Padrão de beleza no século 16
Simetria e hormônios reprodutivos
Pensemos na noção de que preferimos pessoas com feições simétricas e equilibradas. A explicação científica para isso parece sólida: doenças e estresse na infância poderiam sutilmente influenciar o desenvolvimento corporal, criando uma "instabilidade" que leva um lado do corpo a se desenvolver ligeiramente diferente do outro.
Um rosto mais assimétrico poderia ser um sinal de fraqueza física – menos atraente para efeitos de reprodução.
Mas, na realidade, a simetria facial pode não ter nada a ver com a saúde. Um estudo realizado em 2014 realizou tomografias em 3D de quase 5 mil adolescentes, além de avaliar sua saúde. Os cientistas descobriram que aqueles com rostos mais simétricos não eram necessariamente mais saudáveis que os demais.
Biólogos também levantaram a hipótese de que preferimos rostos que sintetizem a "masculinidade" ou a "feminilidade": o queixo largo do ator Jon Hamm para os homens; os traços delicados da modelo Miranda Kerr para as mulheres.
Dawn French disse certa vez que teria sido uma "supermodelo" se tivesse nascido no século 16...
Novamente, a explicação para isso parecia ser bem fundamentada: a estrutura óssea reflete a quantidade de hormônios sexuais circulando pelo organismo, provavelmente anunciando a taxa de fertilidade da mulher e a dominância dos homens – aspectos importantes ao se escolher um parceiro.
A maioria dos estudos, no entanto, só examinou as sociedades ocidentais.
Quando Isabel Scott e seus colegas da Universidade Brunel, na Grã-Bretanha, decidiram abrir o leque e incluir comunidades na Ásia, na África e na América do Sul, eles descobriram uma enorme variedade de preferências.
Na realidade, apenas nas regiões mais urbanizadas eles encontraram esse tipo de atração por homens mais masculinos e mulheres mais femininas. Nas comunidades mais remotas, muitas mulheres preferiam homens com aspecto mais "feminino".
O mesmo ocorre com o corpo. No Ocidente, podemos valorizar mulheres de pernas compridas e homens menos esguios, mas entre o povo nômade Himba, da Namíbia, o gosto é o oposto.
Até mesmo a preferência ocidental parece ter se transformado ao longo do tempo. A Vênus de Botticelli – antes considerada o ideal ocidental de beleza – tem pernas curtas em comparação ao seu corpo, muito mais do que o padrão exigido entre as modelos de hoje.
Gosto circunstancial
Talvez nossa busca por um parceiro tenha que ser flexível, para que possamos escolher o melhor deles com base em nossas circunstâncias naquele momento.
"Por exemplo, em culturas nas quais a fome é um risco real, é normal ver que a preferência é por parceiros mais corpulentos, já que eles seriam mais resistentes à falta de comida", afirma Anthony Little, da Universidade de Stirling, na Escócia.
Já em sociedades onde a dominância é valorizada, as mulheres podem preferir homens com queixos mais quadrados – e um nível mais alto de testosterona. "Descobrimos, por exemplo, que as mulheres tendem a se atrair por rostos mais masculinos se assistirem a demonstrações de competição entre machos, como uma luta, por exemplo", diz Little.
Portanto, apesar de nossos conceitos de beleza parecerem etéreos e atemporais, eles podem ser apenas o produto direto de nossas circunstâncias imediatas.
Efeito coletivo
Também é importante notar o efeito da concordância: vários estudos descobriram que se você ouve ou vê que alguém está atraído por uma determinada pessoa, terá mais chances de também se interessar pelo mesmo indivíduo.
Dessa maneira, o gosto por certos tipos de pessoas poderia se espalhar por uma população, dando forma à nossa noção de beleza.
Uma recente experiência realizada na Johns Hopkins Carey Business School, em Baltimore (EUA), usou um site de encontros que permitia que os usuários dessem notas uns aos outros.
Depois de terem se decidido, alguns voluntários eram informados sobre a nota média dada por outros usuários. Eles logo entenderam quais os tipos físicos mais populares e tentaram dar as mesmas notas a rostos de aspecto semelhante.
Pouco depois, o gosto de cada um tinha convergido – o conceito de beleza deles havia mudando apenas pelo uso do site.
Nossa atração também é formatada pela familiaridade: quanto mais as pessoas veem você com uma certa aparência, mais atraente ela parece ser.
Isso oferece uma importante lição nesses tempos da popularidade do bisturi. Em vez de mudar seu visual para se enquadrar nos padrões, você poderia usar sua aparência para mudar os padrões.
Fonte: David Robson/BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário