De acordo com investigação, a produção de 'Call of the wildman' droga e machuca bichos para simular situações descritas no roteiro do programa.
Nos EUA, o canal Animal Planet exibe um programa chamado Call of the wildman. Nele, Turtleman, apelido para Ernie Lee Brown Jr., um sujeito que trabalha com o controle de animais selvagens em Kentucky, ‘salva’ bichos de serem exterminados, ao resgatá-los em áreas urbanas e encaminhá-los para centros de proteção ou clínicas. Ou, pelo menos, é essa a premissa do reality show - afinal, segundo denúncias levantadas pelo site Mother Jones, a realidade é bem diferente.
De acordo com a investigação, Turtleman e sua equipe não capturam animais em situação de risco: eles ‘encomendam’ bichos de determinadas espécies e os inserem em um script já ensaiado, que apenas simula uma ocorrência não-existente. E, para conseguirem o resultado esperado, animais são dopados e machucados - muitas vezes fatalmente.
Turtleman e sua equipe não capturam animais em situação de risco: eles ‘encomendam’ bichos de determinadas espécies e os inserem em um script já programado
O primeiro caso apresentado pela investigação é o de três filhotes de guaxinim ‘usados’ no programa, que foram encaminhados para uma clínica veterinária quase mortos. Karen Bailey, veterinária responsável pelos animais, afirmou que, apesar de ter cuidado de mais de 300 filhotes da espécie, nunca havia visto guaxinins naquele estado. Em uma corrida contra o tempo, ela conseguiu salvá-los.
Outros casos incluem o extermínio de morcegos por uma empresa especializada quando, no programa, o resgate dos animais foi mostrado e uma zebra drogada que mal podia andar durante as gravações. Os documentos que provam as denúncias estão disponíveis aqui.http://www.motherjones.com/environment/2014/01/animal-abuse-drugs-call-of-the-wildman-animal-planet?page=1
O quão real é esse reality show?
O Animal Planet e a Sharp, produtora responsável pelo reality, admitem que muitos resgates são ‘dirigidos’ - ou seja, são pura encenação, nada autênticos -, mas falam que a forma com que os animais são tratados pelo programa são motivo de orgulho. “Os bichos seriam mortos se capturados em outras circunstâncias. Mas quando são capturados por Call of the wildman são relocados. Essa é a parte importante do show para nós”, conta Dan Adler, presidente da produtora.
No entanto, as fontes da produção do programa entrevistadas pelo Mother Jones afirmam que os animais filmados não aparecem ‘ao acaso’ no jardim alheio - são encomendados de acordo com o script do show. Mais ou menos como ‘precisamos de um guaxinim adulto e três filhotes para a gravação’, e pessoas contratadas seriam responsáveis por encontrar os bichos. Eles, então, seriam presos por dias até a gravação. E, durante a filmagem, seriam soltos em um ambiente fechado para que Turtleman os capturasse.
Em uma entrevista dada em 2011, o apresentador negou ser uma farsa. “Capturo animais exatamente como a câmera mostra” - enquanto isso, produtores afirmam que não só a captura dos animais é roteirizada como 99% das falas de Turtleman estão no script. E nos próprios créditos de Call of the wildman há um disclaimer que afirma existirem ‘dramatizações’ no show.
Mas apesar de enganar telespectadores mais desatentos, o maior problema ainda é a forma com que os animais são tratados. A investigação do Mother Jones conversou com produtores que afirmam: ‘dizemos que resgatamos animais - mas a verdade é que eles não estão sofrendo ou estressados até chegarmos’.
A veterinária Bailey lembra que a missão do ‘antigo Animal Planet’ era de fazer as pessoas se importarem com os animais, estimular a preservação da natureza. As denúncias apresentadas pelo site ressoam, negativamente, com o objetivo do canal proclamado pela presidente Marjorie Kaplan em 2008: “Não queremos ser um canal de história natural. Queremos ser um destino de entretenimento”, afirmou em entrevista para o NY Times.
Vale lembrar que é contra a lei do estado de Kentucky não providenciar alimentação e tratamento adequado a animais em cativeiro.
Fonte:Luciana Galastrin/ Galileu
Nenhum comentário:
Postar um comentário