Nos Estados Unidos, dois médiuns foram a julgamento por acusação de fraude. Um deles havia prometido “reencarnar” a alma do filho morto de uma de suas vítimas, a um preço de US$ 17 milhões. No outro, a vigarista foi acusada de se apropriar de “dezenas de milhares de dólares” de duas mulheres, sob o pretexto de afastar maus espíritos.
Enquanto esses casos chegavam aos tribunais norte-americanos, aqui no Brasil, uma cartomante e seus associados eram detidos na chamada “Operação Orixás” da polícia civil do Paraná. Segundo o jornal Gazeta do Povo, a vidente em questão pode ter obtido mais de R$ 1 milhão de clientes que a haviam procurado em busca da solução de problemas “espirituais” – o que geralmente significa questões de família (como o envolvimento de um parente com drogas) ou afetivas.
No Brasil, especificamente, os anúncios de feiticeiros especializados em “trazer a pessoa amada de volta” já rivalizam com os de garotas de programa nos classificados de jornais e revistas.
O processo é bem genérico: o provedor do serviço estipula a necessidade de um “trabalho” para resolver o problema do cliente. Que, quase sempre, teria sido causado por um “trabalho” negativo, motivado por inveja. Mas desfazer o sortilégio tem um custo, não só espiritual como também físico, expresso em reais. Muitos reais.
Os golpistas costumam se apropriar da linguagem típica de crenças enraizadas na cultura popular, como a umbanda ou o espiritismo, mas o molde é universal: em seu livro How to Cheat At Anything (“Como Trapacear em Qualquer Coisa”, na tradução literal) o autor americano Simon Lovell menciona “o mundo lucrativo da remoção de maldições, onde o ‘médium’ pode cobrar até US$ 14 mil para tirar uma praga de uma pessoa”.
Alguém poderia imaginar que golpes assim não duram muito: afinal, quando você promete trazer a pessoa amada de volta, e ela não volta, o cliente certamente percebe que foi enganado. Certo?
Acontece que os bons golpistas profissionais – sejam vendedores de bilhete premiado ou de amor eterno – costumam incluir uma fase de “limpeza” em seus planos. Nesse estágio, tenta-se convencer a vítima de que ela, na verdade, não foi vitimada: se o trabalho parece não ter funcionado, foi porque faltou fé; talvez seja preciso mais dinheiro; talvez o destino tenha outros planos. E, é claro, em certos casos a reconciliação até acontece. Aí, o feiticeiro leva o crédito.
No livro Conned (“Engabelado”), os britânicos James Morton e Hilary Bateson oferecem os seguintes conselhos para quem quiser escapar de estelionatários: “se alguém lhe oferecer algo bom demais para ser verdade, provavelmente é um golpe”; “tenha medo da palavra grátis: quase nunca é”; e “cuidado na hora de entregar dinheiro a estranhos”. Uma última dica: só o que traz a pessoa amada de volta é amor. Se isso falhar, melhor partir para outra.
Fonte: CARLOS ORSI/Galileu.
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