terça-feira, 10 de junho de 2014

Favela Para Impressionar Ingleses!



Jogadores da seleção inglesa de futebol, baseada no Rio de Janeiro, foram visitar a comunidade da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio, na segunda-feira.
Esse poderia bem ser o título de um artigo jornalístico da cobertura do evento. Mas, sem dúvida alguma, não faria justiça ao que aconteceu de fato.

Na verdade, no evento destinado a "integrar os ingleses com a comunidade", alguns jogadores e o técnico Roy Hodgson não chegaram a presenciar cara a cara as condições precárias que os habitantes da Rocinha têm que suportar no dia a dia.

Eles foram levados ao Complexo Esportivo da Rocinha, localizado do outro lado da via expressa que separa o começo da favela dos condomínios de classe média alta do bairro de São Conrado.
Lá chegaram, ficaram protegidos pela cerca que circunda o campinho do centro esportivo e de lá só saíram para voltar ao luxuoso hotel onde estão hospedados a poucas dezenas de metros do local. No complexo esportivo, assistiram à exibição de um grupo de capoeiristas e alguns jogadores ingleses ensaiaram passos de samba.

Os craques também distribuíram autógrafos, bolas, camisas e deram outros brindes a crianças da Rocinha.
De lá só puderam ver a favela de longe. O bastante para impressionar o meio-campista Jack Wilshere. "É uma realidade muito diferente do que a gente está acostumado em casa, chama a atenção mesmo".

Mas, o estudante Wallace Brito, de 20 anos, morador da comunidade, lamentou que os craques ingleses tenham saído sem ver a real Rocinha. "Ué, como eles podem dizer que visitaram a favela? Ali nem é a Rocinha, é só a quadra e o centro esportivo. A favela é aqui, do outro lado da rua".

Mas Wilshere e seus colegas de seleção, Welbeck, Sturridge, Lallana e o técnico Hodgson, não foram porém poupados de experimentar os odores com que Wallace e todos os outros moradores da Rocinha convivem diariamente. Afinal, o centro esportivo fica ao lado da estação de tratamento do esgoto que desce o morro a céu aberto, vindo diretamente da comunidade.


Cheiro desagradável.
O mau cheiro brutal e o lixo acumulado na UTR (Unidade de Tratamento de Rio) existente nos fundos do centro pareciam emitir um recado simbólico do quanto é difícil empurrar a sujeira para debaixo do tapete.
Ao final do encontro, a cônsul britânica, Paula Walsh, diretores da federação inglesa de futebol e representantes do governo do Estado do Rio de Janeiro fizeram uma avaliação positiva do evento.

Joseli de Oliveira, de 35 anos e moradora da Rocinha, é uma das muitas que vê com ceticismo a iniciativa e acredita que nem a Copa do Mundo nem a visita dos ingleses, têm sido capaz de levar à comunidade benefícios reais.
"Na verdade ainda não tem nada de bom para a gente. Não deram nada para os moradores aqui. Mais tarde pode ser que o transporte funcione, as estradas melhorem. Mas desde que começou essa história de Copa, nada foi mudado para a gente".

Juntamente com outro título do Brasil, muitos na Rocinha continuam a torcer para que as jogadas dos craques não se limitem apenas ao marketing publicitário.




Fonte:Jefferson Puff/ BBC Brasil



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