Agora sem a toga, mas preservando o ar sisudo, o magistrado aposentado Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou, durante evento promovido por investidores do mercado financeiro e de capitais, a postura do Congresso Nacional em sua relação com o Executivo. Sem especificar projetos, Barbosa disse que o Legislativo “se acomodou” com o chamado presidencialismo de coalizão e usa poderes e prerrogativas adquiridos após a Constituição muito mais para “a chantagem”, se preocupação com a discussão de conteúdo de políticas públicas. ” Parece que o grande esporte do Legislativo é derrubar o Executivo nessa ou naquela proposta”, ironizou. “O Legislativo não foi feito para isso.”
Em palestra proferida no encerramento do 8º Congresso Anbima de Fundos de Investimentos, em São Paulo, o ex-presidente do STF, que se tornou celebridade depois de relatar a Ação Penal 470, do mensalão, falou durante 35 minutos, em pé, para então sentar-se e responder a perguntas do público, não identificadas, exibidas em um telão. Criticou, em menor escala, o governo, e também lamentou a corrupção no meio empresarial, em sua opinião menos discutida do que a corrupção na esfera pública. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também iria participar, mas cancelou sua presença de última hora.
A última pergunta endereçada a Barbosa – “O senhor vai nos dar o privilégio de se tornar candidato à Presidência da República em 2018?” – foi recebida com risos e aplausos pelas aproximadamente 600 pessoas presentes no encerramento do congresso da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Foi também um raro momento de sorriso do ex-magistrado. “Tornar-se presidente do Brasil é a honra suprema para qualquer pessoa. Mas é preciso ter vontade. E até hoje essa vontade eu não tive não”, respondeu Barbosa.
O ex-presidente do STF fez uma única referência, sem citar o nome, à presidenta Dilma Rousseff, criticando a chefe do Executivo por não ter vetado projeto que aumentou os recursos do Fundo Partidário. “Um gesto absolutamente insensato”, segundo Barbosa. “Ela simplesmente deixou passar. Um erro político imperdoável.”
Ele atribui a corrupção no setor público, em boa parte, ao modelo de organização política, com um “sistema partidário fragmentado” e partidos “destituídos de qualquer ideário”. Para Barbosa, a atividade política “tornou-se um meio para atingir outros objetivos que não aqueles de atender aos interesses da comunidade, e de maneira impune”.
Sobre o tema corrupção, o ex-magistrado afirmou que se fala muito sobre o que acontece na esfera pública, mas pouco no que ocorre internamente nas empresas privadas – de certa forma endossando críticas recentes de setores do Ministério Público que veem desinteresse da imprensa e do próprio Judiciário pelos desdobramentos de fatos como a Operação Zelotes e a CPI do HSBC, cujas investigações têm como alvo suspeitas de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro envolvendo grandes empresas, com menos impactos nas guerras políticas.
Fonte: DCM
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