Mais de 40 pessoas foram brutalmente assassinadas em uma aldeia da República Democrática do Congo chamada Maze. O massacre ocorreu em 1º de março, mas quem viu o terror naquela noite não consegue esquecer.
"Eles começaram a nos perseguir e quem não conseguia correr era pego e golpeado com facões”, conta um homem identificado como Jeremy, cuja filha, Rose Mapenzi, de quatro anos de idade, não escapou da fúria dos agressores. “Ela foi ferida, mas acabou sobrevivendo porque eles estavam com pressa e não terminaram de matá-la”
Uma linha atravessa o rosto da menina até o nariz. Ela é uma das vítimas e exibe as marcas da cicatriz também sob ataduras que cobrem o topo de sua cabeça.
A ferida foi profunda e o caso a deixou “distante”, segundo o pai. “É como se ela não ouvisse nem visse mais nada”.
Como muitas das crianças da aldeia localizada na província de Ituri, Rose estava amarrada às costas da mãe quando os assassinos atacaram.
A mulher preparava o jantar quando ouviu os gritos dos agressores. Pessoas com crianças e idosos foram alvos fáceis. Enquanto cambaleavam em pânico, eram cortados e retalhados.
Um homem identificado como Malobi Lika conseguiu escapar com a esposa grávida, mas viu a irmã ser assassinada. "Eu vi quando a cortaram com um facão", diz ele no vídeo.
O massacre em Maze foi promovido pelo grupo étnico Lendus contra um outro, chamado Hema. Sobreviventes afirmam que os assassinos eram procedentes de uma aldeia próxima.
'Cruel e selvagem'
Um alto funcionário da ONU que visitou a cena no dia seguinte disse: "Foi cruel, selvagem e feito para aterrorizar as pessoas".
Os corpos das mais de 40 pessoas assassinadas estão em duas valas comuns no centro de Maze. Todos os dias buganvílias frescas, flores roxas de tonalidade forte, são colocadas no local em memória dos mortos.
Um homem que se aproxima das valas, identificado como David, conta que 18 membros da sua família estão enterrados ali.
Ele se mostra irritado. “Você vem investigar, outras pessoas vêm investigar. Mas, me diga, quem será considerado responsável por isso?”, questionou ao editor da BBC África Fergal Keane, que esteve no local.
"As pessoas que estão mortas - quem vai ser responsável por isso? Quem vai ajudar? As pessoas vêm nos irritar com seus gravadores, mas ninguém traz uma solução. Qual é a solução? Estou desesperado", disse.
Terra de pobreza e conflitos
A República Democrática do Congo (também conhecida como RD Congo) é um país grande na África Central onde há bastante conflito.
A terra nessa área é repleta de recursos naturais como petróleo, minérios e metais preciosos.
Mas, apesar disso, milhões de pessoas são incrivelmente pobres e sofrem em decorrência de conflitos.
Ao longo de 2017, 1,7 milhão foram forçados a abandonar suas casas, de acordo com grupos de ajuda humanitária - que ressaltam que a República Democrática do Congo é um dos países mais afetados pelo chamado deslocamento em decorrência de conflitos (conflict displacement, na expressão em inglês).
Problemas
Disputas de terras, divisões políticas e muita violência entre diferentes grupos étnicos ajudam a explicar os conflitos nessa região.
Uma grande guerra civil entre 1997 e 2003 ceifou milhões de vidas como resultado dos combates, de doenças ou da fome.
Muitos outros países vizinhos foram atraídos para essa guerra civil, que ficou conhecida como a Grande Guerra da África.
Depois que terminou, os conflitos não pararam, com grupos armados ainda espalhando violência.
Em 2015, pessoas foram mortas em protestos contra mudanças na lei que opositores do governo afirmavam que serviriam para tornar mais fácil a permanência do Presidente Joseph Kabila no poder. A recusa dele em deixar o cargo após o fim do seu mandato também é apontada como ponto crucial para que as tensões e a violência permaneçam na área.
Quem está no poder?
Joseph Kabila assumiu o poder quando seu pai, Laurent, foi assassinado em 2001. Em 2006, acabou eleito presidente em uma votação aceita como legítima.
Ele então venceu a eleição seguinte, em 2011, mas a votação desta vez foi criticada por outros países, e pessoas que se opunham ao governo discordaram do resultado.
As regras do país dizem que um presidente só pode ser eleito duas vezes e ter dois mandatos no cargo.
A segunda gestão de Kabila – que seria, portanto, a gestão final – terminou oficialmente em dezembro de 2016, mas não foram realizadas eleições para decidir quem assumiria seu lugar.
Um acordo político foi alcançado, o que significava que Kabila permaneceria até o final do ano passado, contanto que trabalhasse em conjunto com outras pessoas.
Mas as eleições foram remarcadas para o final de 2018.
Adversários dizem que Kabila está se agarrando ao poder, quando as regras do país dizem que é hora de ele desistir, mas seus partidários discordam e dizem que ele não tem intenção de ficar para sempre, que está trabalhando para realizar as eleições.
Fonte: BBC
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