O caso do Mensalão realmente vai a julgamento no próximo dia 2 de agosto. Pelo menos isso para melhorar a imagem do Brasil no exterior, onde a famosa revista americana The Economist, publicou uma reportagem na qual disse que no nosso país há uma cultura de impunidade, mostrando exemplos como o ex-presidente Fernando Collor, que sofreu impeachment e hoje é senador pelo Estado de Alagoas e Paulo Maluf que é acusado de desviar somas bilionárias quando era prefeito de São Paulo, esteve até mesmo preso e hoje tem participação ativa na política brasileira.
O mensalão foi um esquema de compra de votos de
parlamentares na Câmara dos Deputados considerado a maior crise política do
governo do presidente Lula. Foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson do
PTB da base aliada ao governo no dia 06 de junho de 2005.
O mensalão existe muito antes de ser denunciado e
traduz uma série de palavras que o brasileiro não merecia conhecer: corrupção,
propina, maracutaia, pedágio, gorjeta, superfaturamento, lavagem de dinheiro,
caixa dois, dinheiro não contabilizado entre outras.
No final de 2005, logo após o caso do mensalão estourar, em uma entrevista Delúbio Soares avaliou a crise no PT e previu que o
julgamento do mensalão não iria para frente. "Nós seremos vitoriosos, não
só na Justiça, mas no processo político. É só ter calma. Em três ou quatro
anos, tudo será esclarecido e esquecido, e acabará virando piada de
salão", apostou.
Contrariando essa e outras previsões que colocavam em dúvida
o julgamento sobre a principal crise do governo Lula, a data foi marcada. Sete
anos após o caso vir à tona, os 38 réus do mensalão vão à Corte no dia 2 de
agosto de 2012.
A surpresa, no entanto, recai sobre o papel de Delúbio na
história. A cúpula petista decidiu, a um mês do desacreditado julgamento do
caso, que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares (o mesmo que não acreditou que o
caso iria ao tribunal) assumiria que partiu somente dele a iniciativa de formar
o caixa 2 para o financiamento de partidos e parlamentares que se coligaram com
os petistas nas eleições de 2002 e 2004.
E foi o que aconteceu. Em memorial sucinto enviado ao
Supremo Tribunal Federal (STF), Delúbio Soares assumiu sozinho a
responsabilidade pela distribuição de recursos ilegais a políticos e partidos
da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Mas negou que os
pagamentos tivessem relação com o "falacioso mensalão" e alegou ser
inocente das acusações de corrupção ativa e formação de quadrilha.
A iniciativa de colocar a conta do mensalão nos ombros de
Delúbio para livrar os demais réus foi combinada pelo "núcleo central da
quadrilha", definição usada pela Procuradoria-Geral da República na
denúncia entregue ao STF em 2007, como antecipou o Estado em 2 de julho. O
acerto teria sido articulado entre o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil),
apontado como "chefe da organização criminosa", o ex-presidente do PT
José Genoino e o próprio Delúbio.
A estratégia de confissão de Delúbio é a seguinte: ao
afirmar que foi atrás do dinheiro que resultou no caixa 2 sem pedir a
autorização a ninguém, Delúbio fará mais do que manter o silêncio sobre o escândalo.
E ainda abrirá o caminho para que José Dirceu possa reafirmar, no Supremo
Tribunal Federal (STF), que estava afastado do partido, não acompanhava as
finanças petistas e que não há no processo uma única testemunha ou ato que o
incrimine. Como sempre, articulando maracutaias para poderem se safar das responsabilidades.
Roberto Jefferson o pivô da história
Somados a investigação da PF e da CPI criada em 2005, o
inquérito do mensalão tem ao todo 77 volumes e mais de 13 mil páginas. Um total
de 38 pessoas figura na lista de réus. Entre eles estão o ex-ministro José
Dirceu (Casa Civil), apontado como cabeça do esquema, o ex-presidente do PT
José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o marqueteiro Duda Mendonça,
além do publicitário Marcos Valério, apontado como operador financeiro do
mensalão. Pela denúncia, apresentada e aceita pelo STF em agosto de 2007, tudo
teria sido arquitetado durante a eleição de 2002 e passou a ser executado em
2003.
Eles vão responder pelos crimes de corrupção, lavagem de
dinheiro, evasão de divisas, peculato e formação de quadrilha. Originalmente, o
MPF denunciou 40 réus, mas um morreu (o ex-deputado José Janene) e outro fez
acordo para cumprir pena alternativa (o ex-secretário-geral do PT Silvio
Pereira).
O atual procurador-geral, Roberto Gurgel, pediu a absolvição
de dois outros réus dos autos - um deles é o ex-ministro Luiz Gushiken
(Comunicação do Governo). Recentemente, pediu também a investigação de mais
dois deputados: Carlos Bezerra (PMDB-MT) e José Mentor (PT-SP), ambos por
suspeitas de terem favorecido o esquema de compra de apoio político.
Ministros. O julgamento da ação penal do mensalão começará
dia 2 de agosto e deverá ter a participação dos 11 ministros da atual
composição do tribunal. Para fechar o ano com o mensalão julgado, o STF arcou
com um custo elevado chegando a revelar algumas rusgas entre ministros. O
calendário corrido permitiu que Cezar Peluso, considerado como um dos mais
experientes, e Carlos Ayres Britto, atual presidente da Corte, participassem.
Fonte: O Estadão