Parece que as autoridades brasileiras vem perdendo a guerra contra as drogas de uma maneira geral, principalmente contra o crack.
Esse problema de saúde que surgiu nos maiores centros urbanos brasileiros passou a ser um desafio para as autoridades de todo o país. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, o consumo de crack já tem registros em nove de cada dez cidades.
Os cachimbos improvisados e largos, geralmente feitos com tubos de PVC, facilitam a aspiração de uma grande quantidade de fumaça de uma vez só. Sem filtro e sem volta, o consumo . É assim, de forma amadora e desmedida, que ocorre o consumo do crack.
A droga, que é uma mistura de pasta-base de cocaína refinada com bicarbonato de sódio e água, nem sempre é fornecida aos usuários na composição original. Cimento, cal, querosene e até acetona podem ser acrescentadas.
A pedra mantém os princípios ativos da cocaína. A mistura (pasta-base, bicarbonato e água), quando aquecida, separa as substâncias líquidas (descartadas) e sólidas (a pedra de crack). Uma bomba-relógio para o organismo humano. Tudo é consumido em quase 100% pelo corpo
No cérebro o crack tem efeito quase imediato e basta apenas de 8 a 15 segundos para fazer efeito, enquanto a cocaína demora cerca de 15 minutos para chegar ao sistema nervoso central. Assim que chegam ao cérebro, as substâncias aspiradas agem por até 10 minutos, gerando uma diversidade de reações, como agitação, prazer, euforia e irritação. Esse tempo é suficiente para iniciar um vício.
"E a droga age de forma sistêmica. É uma doença do pulmão, da nutrição, do tubo digestivo, do coração. É generelisada. E se for associada ao álcool, você aumenta o risco de câncer, não só na boca e no pulmão. É uma complicação geral", explica o médico especialista em dependência química João Chequer.
O crack queima o tempo, o dinheiro e a saúde física e mental dos viciados. Isso já é conhecido. O que nem sempre se vê é que essa droga também causa uma devastação na vida de pais e mães dos dependentes. Como um tsunami silencioso, a epidemia de crack tem avançado de forma arrasadora sobre um número cada vez maior de famílias brasileiras. Uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz indica que há hoje bem mais de 1 milhão de viciados nessa droga no Brasil.
Vinte anos atrás restrita a São Paulo, hoje faz vítimas em nada menos que 98% dos municípios brasileiros. A horda de zumbis que o crack produz deixou de ser formada apenas por mendigos e moradores de rua. Lentamente, o crack subiu a escala social. As clínicas e os psiquiatras cuidam de estudantes universitários, empresários, advogados e até médicos. Nenhuma droga danifica o cérebro com tanta rapidez. O viciado perde completamente o senso de julgamento e a responsabilidade.
Fica agressivo. Para comprar as pedras, é capaz de roubar o dinheiro dos pais e objetos da própria casa. Muitos, sem nenhum antecedente de delinquência, passam a assaltar. Os traficantes, aproveitando-se do desespero do dependente, dão cinco ou seis pedras em troca, por exemplo, de um aparelho de televisão. Para ficar mais perto das pedras, o viciado não se importa em passar dias ou semanas morando na rua. Diz Wagner Giudice, delegado do Departamento de Investigações sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo: "A história mais comum é a do adolescente que sai bem-vestido, com dinheiro no bolso, e só volta para casa cinco dias depois, sujo, magro e desidratado, vestindo só uma bermuda. Trocou tudo por crack e não fez nada nesses dias, além de fumar. Ele só volta para casa quando está exaurido".
Um filho viciado em crack desestabiliza toda a família As tentativas de impedi-lo de sair de casa não funcionam. Se as portas são trancadas, ele pula as janelas.
A probabilidade de um iniciante se viciar em crack é o dobro da de se viciar em cocaína. Isso porque no vapor da pedra de crack há concentração mais elevada de cloridrato de cocaína do que no pó que se aspira. Além disso, os pulmões têm uma área maior que a do septo nasal para a droga ser absorvida pelo organismo.
A "brisa" do crack, como dizem os viciados, surge em dez segundos e se esvai em dez minutos. O efeito da cocaína leva alguns minutos para começar e se prolonga por até uma hora. Normalmente, basta uma semana para que a pessoa já não consiga ficar sem o crack. Com a cocaína, o vício leva meses para se estabelecer. Tanto o crack quanto a cocaína entram no Brasil em forma de pasta-base de coca, produzida na Colômbia, na Bolívia e no Peru. Os traficantes montam laboratórios caseiros perto dos pontos de venda para transformar a pasta-base em cocaína ou crack, conforme a demanda. Este problema não é só típico do Brasil, mas da grande maioria das nações. Não é por menos que é chamado de o mal do milênio.
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