Se o prazer sexual nunca existisse, provavelmente a única espécie afetada seria a humana.
O prazer é algo tão intrínseco ao sexo para os seres humanos que é difícil dissociar as duas coisas. Quem entende do assunto diz que o prazer sexual é tão importante para nós que se ele não existisse talvez não fôssemos uma espécie tão evoluída.
Se o prazer sexual não existisse, portanto, provavelmente a única espécie afetada seria a humana. Os indícios sugerem que essa é uma característica unicamente humana e que foi um dos fatores que nos diferenciou no processo evolutivo. “A cópula de um golfinho, por exemplo, dura um minuto, uma satisfação muito efêmera para sustentar sozinha a perpetuação dessa espécie”, afirma o etólogo César Ades, da Universidade de São Paulo. Nas espécies não-humanas, enfim, o que leva macho e fêmea a copular é uma programação biológica adaptada a cada bicho. Alguns sentem-se atraídos por cantos, outros por odores ou penas.
Já o ser humano é diferente. “Nossa sexualidade deixou de ser um instinto e se misturou com o psíquico”, diz o psicólogo Renato Mezan, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No processo evolutivo, isso ocorreu quando começamos a produzir cultura. A partir daí, passamos a escolher o parceiro não mais pela programação biológica. O sexo deixou de servir só para a procriação e cada vez mais é fonte de prazer. A mudança foi também biológica. Tanto que as mulheres, apesar do seu período fértil limitado, copulam o ano todo.
Se o prazer sexual fosse eliminado isso alteraria não só nosso corpo, que provavelmente teria algum gatilho sexual biológico (algo que chamasse a atenção do parceiro, como cheiros, sons e rituais explícitos), mas também nossas relações sociais. As mulheres, por exemplo, seriam procuradas apenas na época do acasalamento. Formar uma família seria mais difícil. Há várias hipóteses para o que aconteceria então. Uma das mais interessantes é a de que sem o sexo prazeroso seríamos uma espécie menos sociável. Isso traria grandes implicações.
Nosso cérebro, por exemplo, talvez não se desenvolvesse tanto. Os bebês nascem tão frágeis porque um cérebro adulto não passaria entre as pernas da mãe. A solução evolutiva foi nascermos com um cérebro pequeno, que cresce depois. Só aos 5 anos o ser humano consegue ter alguma independência. Sem o apoio social, teríamos que nascer mais acabados, o que acarretaria ter um cérebro menor na idade adulta.
Mas e se o prazer sexual desaparecesse hoje, de uma hora para outra? Pode parecer estranho para quem acha que o casamento é o túmulo da libido, mas o sexo é o alicerce da união estável. Sem as delícias da cópula, o casamento ruiria.
“O prazer é um cimento para relacionamentos duradouros”, diz César Ades. Se isso acabasse, os casamentos precisariam de outras compensações sociais ou simbólicas, como a valorização do marido dedicado à família. O homem ideal seria o pai de família, bem distante dos prazeres. Filhos, nesse caso, passariam a ser gerados só de maneira programada.
Com o passar dos anos, o casal que decidisse procriar leria um folheto explicativo sobre o assunto e repetiria os procedimentos enquanto assiste à novela.
Como não teria graça, mesmo, é provável que o sexo sofresse menos restrições. Não precisaria ser escondido, porque, afinal, ninguém sairia transando à toa. A nudez não ofenderia tanto. Ou seja, se não fosse tão bom, seria liberado!
Fonte: Rafael Kenski/Superinteressante
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