quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Afinidade.




A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.
 É o mais independente. Não importa o tempo, a ausência,
 os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
 Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
 o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido
. Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
 É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
 Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro.
 Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
 Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece
 depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
 O que você tem dificuldade de expressar a um não afim,
 sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
 Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito
 dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
 É ficar conversando sem trocar palavras.
 É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
 Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
 nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
 Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado
. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
 Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
 É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou,
 quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar.
 Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por,
 confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com,
 avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro.
 Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade,
 questiona por não aceitar. Afinidade é ter perdas
 semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio,
 tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidade vividas.
 Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou
 sem lamentar o tempo de separação. 
Porque tempo e separação nunca existiram.
 Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
 para que a maturação comum pudesse se dar.
 E para que cada pessoa pudesse e possa ser, 
cada vez mais a expressão do outro sob
 a forma ampliada do eu individual aprimorado.


Artur da Távola


Nenhum comentário:

Postar um comentário