Passam-se os dias e a matança de crianças e civis na guerra
civil na Síria continua. O ditador Bashar Al-Assad reprime violentamente a
oposição há mais de um ano e o número de mortos já chega próximo aos 10 mil.
Contudo, nenhuma intervenção externa para cessar a violência no país árabe
ocorreu. Se compararmos com o contexto da guerra civil na Líbia, que começou
apenas algumas semanas antes da síria, a não-intervenção soa ainda mais
absurda, já que no país da África houve menos mortes e durante um período de
tempo muito menor.
Discute-se muito a questão do Conselho de Segurança estar
bloqueado pela Rússia, que veta qualquer autorização da ONU para intervenção na
Síria. Mas existiriam outras maneiras de essa intervenção ocorrer. Pode-se
dividir intervenções externas de três maneiras, no que tange sobre o
interventor: a primeira é uma intervenção autorizada pela ONU, realizada com
soldados de países colaboradores, em geral sob bandeira da instituição. A
segunda é de maneira independente e realizada por uma grande potência, com
capital suficiente para realizar tal empreitada. E por fim, realizada por algum
vizinho que se interesse ou esteja sofrendo com a situação de calamidade
próxima.
.
Ao problematizarmos estes três tipos de interventores,
pode-se dizer que Assad deve estar bem tranquilo na cadeira de presidente.
Apesar de ser difícil Assad sobreviver no poder até o fim dos conflitos, é
ainda mais improvável que, no curto prazo, alguma potência ou vizinho resolva
intervir para acabar com a violência e talvez retirá-lo do poder. Para isso
basta analisar como prováveis interventores lidam com a situação síria.
Começando pela ONU e
as grandes potências:
ONU: O Conselho
de Segurança, órgão que poderia emitir uma resolução que autorizasse
intervenção na Síria, é impedido de fazer isso pelo poder de veto exercido pela
Rússia, que tem muitos negócios com a Síria e o governo Assad.
Estados Unidos:
Após a invasão do Iraque e do Afeganistão terem se mostrado um verdadeiro
atoleiro e feito um rombo nos cofres públicos, os norte-americanos não parecem
querer gastar mais homens e dólares em outra invasão militar na Ásia. Não
quiseram liderar a missão na Líbia e não o farão agora.
Europa: No
contexto da crise econômica é pouco provável que algum país europeu inicie os
trabalhos na Síria. Na Líbia, a França liderou, mas a invasão se deu através da
OTAN e o país tinha negócios com os líbios envolvendo petróleo.
Rússia: Grande
aliada do regime de Bashar Al-Assad. Além de não intervir, ainda veta as
resoluções do Conselho de Segurança que possam atrapalhar Damasco. Cabe
comentar um pouco esta controversa posição russa: a não ser que o governo
Putin/Medvedev realmente acredite que Assad ganhará a guerra civil e se manterá
no poder, não há justificativa para manter o veto no Conselho de Segurança.
Seria muito mais interessante autorizar a intervenção na Síria e começar a
renegociar os acordos bilaterais entre os dois países com os grupos rebeldes,
para tentar manter a influência russa na região.
China: Não tem
muitos negócios na região. Não parece se importar muito com o desfecho do
conflito árabe e, portanto, não gastará recursos numa intervenção. Além disso,
historicamente, a China costuma priorizar fortemente a soberania interna de um
país, ao invés da intervenção.
Como pode-se perceber os que tem vontade política para
intervir (ONU, EUA e Europa) não tem condições de conduzir o processo. Em
parte, isto é reflexo da crise econômica mundial que afetou os países tradicionalmente
ricos. Em contra-partida, quem tem a capacidade para intervir não reúne a
vontade política necessária para alocar tropas no país árabe. Verá-se adiante
que as condições dos vizinhos da Síria seguem o mesmo parâmetro:
Arábia Saudita:
Interviu com o envio de alguns poucos soldados e recursos para os rebeldes. É
contra Assad, mas está mais interessada na estabilidade de seu próprio regime e
em continuar vendendo petróleo para o ocidente.
Iraque: Desde a
invasão americana, o país está completamente bagunçado. Não tem condição alguma
de iniciar um processo de retirada do governo Assad. Numa hipótese em que
Saddam Hussein ainda comandasse o país, seria o país mais reuniria condições de
intervir regionalmente na Síria.
Irã: Maior aliado
de Assad na região. Não tem interesse em destituir o governo sírio.
Israel: Israel é
uma situação interessante e que ilustra muito bem a desconfiança que o Ocidente
tem na Primavera Árabe. O país judeu é um rival histórico e inimigo declarado
do governo Assad. Além disso tem uma das maiores forças armadas da região, o
suficiente para intervir em assuntos de vizinhos, o que inclusive já foi feito
no passado. Contudo, tirar o ditador neste momento significa colocar quem no
poder? É por causa desta incerteza que o país resolve não invadir. Por mais que
o atual governo de Damasco seja inimigo, Israel já o conhece de longa data e
conhece sua lógica de atuação.
Jordânia: Fraca
demais para tentar qualquer intervenção. Enfrentou algumas manifestações
durante a Primavera Árabe.
Líbano: Ainda
mais fraco que a Jordânia, por mais incrível que possa parecer.
Turquia: Enfrenta
o problema da minoria curda, comum aos sírios. Evita mexer num vespeiro em que
pode sair machucada. Além disso, está em processo para entrada na União
Européia, devendo assim manter-se afastada de invasões por conta própria, o que
é mal-visto pelos sistemas de Direitos Humanos do bloco.
Internacionalmente, o momento político é bastante propício
para que o governo sírio reprima a oposição política quase que livremente. A
exceção dos aliados sírios, nenhum país reúne condições ou tem vontade de agir
no país árabe. É importante ressaltar também que estes aliados se provaram de
grande valor para Assad e mantém-se ao lado do ditador desde o princípio.
Comparando novamente com a intervenção na Líbia, os “amigos” de Kaddafi – em
especial, a França – não se comportaram da mesma maneira, autorizando a
intervenção no Conselho de Segurança assim que tiveram oportunidade.
Assad e Putin. A
Rússia tem negócios no país árabe e usa seu poder de veto no Conselho de
Segurança da ONU para impedir intervenções na Síria.
O regime ditatorial não sobreviverá politicamente ao fim a
guerra civil, pois enfrenta uma enorme pressão interna, difícil de ser
aliviada. Resta saber se a queda se dará pela oposição interna ou se algum dos
países analisados mudará sua postura em relação a Síria. Se for apostar, aposte
na Rússia. De todas as posições políticas tomadas em relação ao país árabe, o
veto russo é a mais controversa e que pode ser menos explicada pela lógica,
portanto deve ser a mais facilmente cambiável. A pergunta agora não é se Assad
fica ou não, mas quando Assad cai. E pode ser que demore. Isto significa mais
derramamento de sangue de crianças e de civis inocentes!
Morte virou rotina no país árabe.
Para que serve então a
ONU?
Em fevereiro de 1994, o diplomata americano John Bolton
disse que, “se a ONU perdesse dez andares hoje, não faria a menor diferença”,
porque “é a mais ineficiente organização intergovernamental que existe”. A
declaração casou previsível revolta no mundo diplomático, mas a ONU tem dado provas de que talvez Bolton tenha razão.
O Conselho de Segurança rejeitou uma resolução que apoiava o
plano da Liga Árabe para negociar o fim dos conflitos na Síria. O texto, que
teve apoio de 13 dos 15 integrantes do Conselho, não passou por causa da
oposição de China e Rússia – dois dos cinco membros permanentes, que têm poder
de veto. Ambos alegaram que a resolução feria a “soberania” síria, isto é,
impediria que o ditador Bashar Assad continuasse a matar os sírios a uma média
de 100 por dia.
O plano árabe demandava a saída de Assad e a realização de
eleições. Para a Rússia, a resolução era inaceitável porque não
responsabilizava a oposição pela violência e significava “tomar partido em um
dos lados da guerra civil” – no caso, o lado que está sendo massacrado.
Para o embaixador da Alemanha na ONU, Peter Wittig, “o
Conselho de Segurança deixou de cumprir sua responsabilidade” e “o povo sírio
foi abandonado de novo”. “É um triste dia para este Conselho, para a Síria e
para todos os amigos da democracia”, disse o embaixador da França, Gerard
Araud.
De fato, parece mesmo urgente a reforma do Conselho de
Segurança da ONU, não apenas para fazer frente aos EUA, como está implícito na
campanha dos países “emergentes” por vagas permanentes, mas também para impedir
que Rússia e China continuem a proteger ditadores criminosos!
Fonte: Marcos Guterman/ Estadão.com.br
è muito triste que exista ainda tanta violência no Mundo.
ResponderExcluirE pelo jeito vai continuar ainda morrendo muita gente nesta guerra estúpida! Morre uma média de cem pessoas por dia nesta guerra civil.
ResponderExcluirNesta guerra, só tem aparecido a ponta do Ice-berg, a real história esta escondida como sempre a sete chaves.
ResponderExcluirE a matança em todo mundo vai continuar...
sai fora desse pais, deserta vai morar no EUA, é ruim hem, fico nada.
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