Olhando ao redor, Edward apenas ficava contemplando o que restara de tudo aquilo que um dia fora seu bairro. Nada mais estava de pé, apenas escombros e entulhos. O cheiro forte de fumaça e corpos apodrecendo enchia o ar. Não havia mais água potável, não havia eletricidade, não havia mais nada, a não ser simplesmente o vazio, e a tristeza de saber que o ser humano era capaz de cometer tamanha atrocidade contra seus semelhantes. Ainda ao longe era possível ouvir o matraquear de metralhadoras e armas automáticas seguido de gritos de horror e gritos de soldados gritando palavras de ordem. Mas uma coisa ainda ele sabia. Estava vivo! Não sabia se estar vivo era melhor ou pior. Porque aqueles que ali jaziam inertes com os corpos dilacerados por balas, ou por estilhaços devido aos bombardeios estavam agora alheios ao que restara. Sim, eles já não estavam mais sofrendo. Mas ele estava! E quão doloroso era ter sobrevivido e saber que aqueles que um dia você amara, já não faziam mais parte do seu mundo.
Com cuidado, ele se levanta por detrás de uma carroceria queimada de um carro, para poder olhar mais adiante e ver e ter certeza de que por hora o perigo havia passado. Já fazia dois dias que ele estava escondido no subsolo de um prédio que havia caído devido ao pesado bombardeio. Durante o bombardeio ele achou que era seu fim. Não sabia se teria como sair debaixo de uma montanha de entulhos do que se tornara o prédio o qual ele havia procurado como abrigo quando os aviões começaram a largar toneladas de bombas sobre sua cidade. Mas agora tudo já havia passado. Conseguindo empurrar algumas pedras e restos de parede que estavam do lado daquele carro destruído, Edward conseguiu ficar ereto e aí sim percebeu que ele não estava só! Havia algumas outras pessoas que começavam a sair dos esconderijos. Pessoas feridas, mas que não emitiam som algum. Apenas olhavam como que apavoradas com o que acabara de acontecer. Outras olhavam para o nada.
. Parecia que estavam completamente desligadas do mundo cruel que as cercava. Quando começou a caminhar, aí sim percebeu que estava fraco e desidratado, já que fazia 48 horas que não comia e nem bebia nada. O ferimento do tiro de raspão que havia sofrido no ombro esquerdo agora já estava melhor. O sangue coagulou e parece que dava sinais de que não haveria nenhuma infecção. Continuando a caminhar devagar, Edward começou a ter consciência do que ele teria que fazer dali pra frente. Nada seria como antes. Apesar de ser um jovem ainda, ele sabia que agora teria que agir como uma pessoa realmente adulta. Aquela guerra tinha conseguido tirar toda sua inocência de uma maneira feroz e sem piedade! Já não pensava mais em sua família. Tinha quase certeza de que ele era o único sobrevivente. Mas ele sabia que mesmo com esta certeza ele tinha que procurar alguém. Talvez algum membro da sua família tivesse tido igual sorte e estar ainda vivo para sofrer ainda mais com a perda daqueles que se foram.
E ele seguiu adiante. Sua cabeça agora começava a doer. Seu estômago estava embrulhado, mesmo estando completamente vazio. De repente veio à sua lembrança Maggie. Aquela menina morena de cabelos longos caindo sobre os ombros que ele conhecera há dois anos, quando era ainda um garoto de apenas 16 anos, e ela então com seus 14 anos. Parece que aquela lembrança fez com que ele esquecesse que estava em meio a uma guerra sangrenta onde ele não sabia onde ia terminar. Repentinamente, suas memórias foram tiradas de sua cabeça pela voz de um homem que o chamou pelo nome:
- Ed! Hei Ed!
Virando-se ele viu ao longe um senhor mancando em uma das pernas, se aproximando dele. O rosto cheio das marcas do tempo e do sofrimento causado pela guerra dava a ele um aspecto sombrio e tristonho.
- Ed! Que bom que você está vivo!
O homem abraçou Edward com força. Como alguém que precisa de um abraço para esquecer todo o sofrimento que a vida havia lhe imputado sem pedir licença.
Edward também abraçou aquele homem, embora ainda não o houvesse reconhecido, sentindo naquele abraço uma segurança que nunca antes havia sentido, desconsiderando o mau cheiro daquele pobre senhor que lhe dava conforto ao abraçá-lo! Olhando agora bem o rosto do homem, ele reconheceu. Era seu tio Matt! Ele não conseguia dizer nada... Sua voz embargou de uma maneira que ele não pôde controlar e então se entregou ao choro, esquecendo que agora ele era um homem feito, com seus dezoito anos de idade. Sim, chorou com veemência, já que seu tio fazia o mesmo.
- Tio Matt! O que está acontecendo? Porque tudo isso?
- Calma filho! Está perto de acabar agora! Tenha calma...
E ali ficaram alguns minutos um nos braços do outro, até as emoções terem amainado e a voz voltado ao normal e os olhos pararem de lacrimejar...
Tio Matt cortou o silêncio:
- Vi Daniel e uma de suas filhas!
- Maggie?
- Não sei. Sei que ele estava com uma delas a dois quarteirões daqui! Mas isso foi antes das tropas do exército alemão passarem. Vamos voltar até lá para vermos se os encontramos.
Edward sentiu um ponta de esperança. Sim Maggie poderia estar viva!
( Continua...)
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