quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sem Tempo Para Chorar - Cap.8


Soldados Russos hasteando bandeira russa em uma Berlim em ruínas


A luz forte do quarto entrou de repente em seus olhos obrigando-a a fecha-los rapidamente!
Sua cabeça estava dolorida e sua garganta seca. Sentia-se totalmente tonta. Aos poucos foi abrindo os olhos para poder acostumar-se com a claridade. Observou que estava em um quarto de hospital e que em seu braço direito havia uma agulha, permitindo que uma bolsa talvez de remédio ou soro entrasse em sua corrente sanguínea. Olhou para o lado e viu pela janela que o sol brilhava lá fora. A porta abriu-se e uma moça ruiva entrou sorrindo para ela.

- Privet! - ( Olá! ) disse a moça em russo. Maggie apenas assentiu com a cabeça pois não entendia nada do idioma russo. A moça continuou sorridente ignorando que ela não havia entendido o cumprimento e começou trocar a bolsa de soro que estava quase vazia.
- . Menja zovut Natasha! ( Meu nome é Natasha ) Falou a moça para ela sempre com um belo sorriso no rosto.
- Desculpe, mas não estou compreendendo nada. Não falo seu idioma. Você fala inglês? perguntou Maggie para a enfermeira ruiva sorridente.
- Ah! Desculpe! Sinto muito.Sim, falo seu idioma. Meu nome é Natasha. Como se sente hoje?
- Acho que bem, apenas uma leve dor de cabeça. Mas onde estou?
- Você está em um hospital de Moscou.
- Moscou? Mas como vim parar aqui?

- Não sei ao certo mas você foi trazida por um oficial do exército.
- Mas  o que eu lembro é eu  estava na Alemanha.- disse Maggie.
- Mas isso foi há quinze dias. Você estava muito ferida. É um milagre você estar viva. Achamos que não conseguiria sobreviver. Você foi atingida por um tiro de fuzil. Perfurou um dos pulmões! Graças ao doutor Kerenski, que é um excelente cirurgião, você está viva.

- Oh! Obrigado. Mas poderia me dizer quem é este oficial que me trouxe para cá?
- Lamento, mas também não o conheço. Quando você deu entrada no hospital eu estava de folga - respondeu Natasha. Sem falar mais nada ela foi saindo levando uma bacia com bolsas de sangue e algumas seringas para fora do quarto.
Maggie ficou absorta em seus pensamentos, conjecturando quem será que a havia trazido para um lugar tão longe e por que tal preocupação com ela, uma simples moça judia. As recordações começaram a retornar à sua mente e a últimas lembranças que lhe vieram foram a de Helmuth sendo crivado de balas e depois o tiro que entrou pelas suas costas e saiu em seu peito próximo ao pescoço. Ela colocou a mão e viu que estava totalmente enfaixada. Depois não conseguia lembrar de mais nada...


Vladimir estava feliz! A guerra havia acabado e ele conseguira voltar para sua casa. Sua mãe havia sobrevivido à toda brutalidade da guerra e estava agora, embora idosa, preparando o almoço para ele. Vladimir sentia-se um homem de sorte por ter também passado por um imenso sofrimento e ainda assim ter vencido. Seu pai não estava mais com eles. Havia sido assassinado pelos soldados alemães quando invadiram seu país e sua irmã também havia caído nas mãos de estupradores sanguinários e não resistiu aos abusos. Mas eles ainda estavam ali. O seu irmão mais novo, agora adulto também estava ativamente envolvido com o partido comunista e estava cooperando para que o regime se estabelecesse ainda mais.

Almoçou com sua mãe e depois pegou seu casaco e chapéu e saiu para ir até o hospital para ver como estava a moça que ele havia encontrado quase morta na Alemanha. Sua fiel obediência aos seus superiores permitiu que eles dessem sua autorização para que os médicos russos dessem os primeiros socorros para àquela civil alemã e também a trouxesse com ele para a Rússia. Ele ia todos os dias ia vê-la no hospital preocupado porque ela já estava a um bom tempo em coma, apesar dos médicos dizerem que agora ela estava fora de perigo. Sim, ele estava apaixonado por aquela mulher de cabelos negros e feições sensíveis.
Não tinha como negar! Ele que sempre se preocupara com os deveres cívicos de seu país agora achava que estava mais do que na hora dele arrumar alguém para dividir suas alegrias e tristezas.

Entrando no hospital, foi até a recepção para saber se poderia subir para ver a moça.
- Boa tarde sr Vladimir. Temos boas notícias.. disse a recepcionista.
- Ela acordou? Perguntou Vladimir com ansiedade na voz.
- Sim. E até já conversou com a enfermeira e se alimentou.
 - Ok. Estou subindo - Vladimir subiu rápido pelas escadas, ansioso para ver a moça que ele fizera de tudo para salvar. Quando entrou no quarto e olhou para Maggie, seu coração quase que parou! Ficou por uns instantes boquiaberto, admirando a beleza daquela mulher.

 Por incrível que lhe parecia, ele ainda não a vira acordada, desde quando a encontrara de bruços naquela poça de sangue na Alemanha; agora que a via, percebeu que ela era mais bela do que imaginara. Ela fitou-o um pouco envergonhada, desviando os olhos dos dele, que estava fixos nela. Baixou a cabeça e falou baixinho: Olá!
Ele, voltando a si, ficou surpreso de ouvir ela falar em inglês. "Olá", disse ele em inglês também.
- Como se sente? Perguntou ele carinhosamente.
- Estou bem agora - respondeu Maggie, não conseguindo disfarçar seu constrangimento ao estar falando com um homem que nunca vira. Ele continuou a olhá-la sem perguntar mais nada, fazendo com que ela ficasse com a face vermelha.

- Ele interrompeu então o silêncio:
- Espero que a tenham tratado bem aqui.
- Sim. Obrigado. O pessoal aqui é muito solícito - Ele aproximou-se e pegou sua mão.
- Me chamo Vladimir.
- Margareth - respondeu ela olhando agora para ele e apertando sua mão.
- Margareth! Temos muito o que conversar.
Sim. Eles realmente tinham muito que conversar. Ela queria saber o que levou um oficial russo a levá-la para longe de sua terra? Que interesse ele tinha em uma moribunda, que o levou a preocupar-se com ela a ponto de gastar recursos médicos para salvar sua vida? E como ele esperava que ela retribuísse tamanha gratidão?

( Continua... )




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