Kgb - Símbolo da Polícia Secreta soviética
Maggie acordou cedo. Ainda sentia dores no ferimento e uma leve dificuldade ao respirar, visto o projétil ter atingido seu pulmão. Foi até o banheiro, lavou-se e desceu as escadas. Todos da família Chernenko já estavam à mesa esperando-a para o café da manhã. Quando a avistaram todos disseram quase em uníssono:
- Zdravstvujtje ( algo como: Seja saudável, bom dia ) - Maggie apenas assentiu com a cabeça.
- Espero que tenha tido uma boa noite de sono senhorita Maggie - falou Feodor num inglês muito pobre, mas compreensível. Maggie disse que realmente tivera uma bela noite de sono, visto ter ficado bastante cansada durante os dias que esteve hospitalizada e sentia-se profundamente agradecida por tudo o que aquela família estava fazendo por ela. A matriarca da familia, a serviu sempre com um belo sorriso no rosto, falando coisas que Maggie não entendia, mas pela fisionomia da senhora eram coisas agradáveis.
Após o desejum, Vladimir a levou até a sala de estar para conversarem sobre qual seria seu futuro na Rússia dali pra frente.
- Senhorita Maggie, vou ser bem direto. Eu a trouxe para este país porque quando a encontrei em Berlim, você estava bastante ferida e vou confessar que ao ver seu rosto me apaixonei a primeira vista!
Esta declaração fez com que o rosto de Maggie avermelhasse de tal maneira que ela não teve como esconder e sentiu-se lisonjeada, mas ao mesmo tempo constrangida.
- Desculpa seu Vladimir, mas sinceramente não sei nem o que vou lhe dizer. Sinto-me profundamente grata por tudo, mas quanto a isso...Sinceramente não sei... Tudo aconteceu tão rápido na minha vida.
Sua voz começou a embargar e seus olhos começaram a umedecer tornando turva sua visão.
- Não precisa responder nada, senhorita Maggie. Eu sei que este é um assunto delicado, que não se resolve da noite para o dia e que estas questões de sentimento amoroso são muito complexas. Tenho consciência de que a senhorita não me conhece direito e que somos totalmente estranhos. Apenas quero ser sincero. Se você quiser voltar para Inglaterra providenciarei tudo, porque afinal de contas a guerra acabou e você não é nenhuma prisioneira aqui no meu país. Talvez você tenha parentes lá e queira vê-los.
Você é para nós aqui como uma hóspede. Tenha certeza de que nunca vou importuná-la e forçá-la a ter algum relacionamento comigo. Somos russos, mas somos pessoas de bem. O que alguns soldados fizeram em Berlim quando derrubamos a cidade, foi para eles como que uma vingança. Muitos daqueles homens tiveram suas esposas, filhas e mães também violentadas quando os alemães invadiram meu país e estavam sedentos de justiça!
- E o senhor acha que violentando mulheres alemãs resolveria alguma coisa?
- Não, certamente que não. Não estou aqui justificando as ações dos meus soldados ou dos alemães, mas tenha certeza que não tomei parte nessa barbárie e puni muitos dos meus homens, mas como você deve saber, eu não tinha condições de conter todos eles. Era uma coisa impossível. Mas como falei antes a hora que você quiser voltar, esteja à vontade. Não vou impedi-la! Se quiser ficar aqui, providenciarei também para você toda a documentação necessária para que se torne uma cidadã russa. Mas você terá todo o tempo do mundo para pensar sobre isso. Agora se me der licença vou ter que sair para o quartel.
Maggie concordou com um aceno de cabeça enquanto Vladimir caminhava até a porta principal para sair da residência. Ela sentou-se no grande sofá da sala e ficou a pensar sobre a sua situação.E agora? O que ela faria? Sabia que não tinha mais parentes vivos na Inglaterra. O comércio que seu pai tinha já não existia mais, nem mesmo o prédio estava mais de pé. Sentia-se completamente desolada! Agora estava em um país estrangeiro com um homem que dizia que lhe amava, com uma família estranha que nem mesmo compreendia direito, devido à dificuldade do idioma. Sim, ela estava em um beco sem saída. Teria que pensar muito sobre isso. Como amaria um homem bem mais velho que ela, um estranho que nunca vira?
Era certo que ele e sua família eram pessoas decentes, tal a atitude com que a trataram desde que ela havia chegado. E se voltasse para Inglaterra não tinha a quem recorrer. Os amigos que tivera lá antes da guerra a grande maioria deles estavam mortos ou desaparecidos. Sim, era isso. Por hora ela teria que ficar ali e depois mais tarde tentaria contato com com alguém do lado inglês. Como ela faria isso ela ainda não sabia...
Vladimir achou que tinha sido um tanto seco ao falar com Maggie. Agora talvez ela duvidasse do seu real sentimento por ela. Pensou que não deveria ter falado que estava apaixonado por ela. Teria sido melhor se tivesse dito que a salvara porque era um homem clemente, e que não fez mais do que sua obrigação. Deveria deixar que ela descobrisse seus reais sentimentos por ela mesma. Chegando ao destacamento notou que havia um grande alvoroço na entrada. Caminhões com carrocerias cobertas com panos chegavam a todo o momento. Soldados andavam de um lado para outro acatando ordens do seus superiores. O bairro todo estava em alvoroço. Subiu imediatamente para falar com seus superiores. Ao entrar e fazer continência ao seu superior ficou sabendo que tropas russas estava se movimentando para dar continuidade ao processo de expansão do Comunismo nos países fronteiriços com a União Soviética.
Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética - vencedores na 2 Guerra
Era algo que Vladimir não concordava. Sempre fora a favor do partido, cooperando ativamente em eliminar todos aqueles que eram contrários ao ideais de Stálin, mesmo às vezes não concordando com a política de deportação de pessoas para a Sibéria. Pare ele, as pessoas deveriam ter liberdade de escolher qual tipo de Governo atenderia melhor as sua expectativas, sem precisar que União Soviética impusesse seu modelo de governo à força como estava acontecendo mesmo antes da guerra. Mas ele executava as ordens sem mencionar seus reais sentimentos relacionados à politica de deportação, porque ele sabia que Stálin eliminara até mesmo aqueles generais que haviam sido leais a ele durante os primeiros anos do Comunismo. E ele sabia que falar alguma coisa ou apenas exprimir alguma opinião poderia ser o fim de toda uma carreira no exército vermelho e ser preso como sendo um traidor do partido.
Com o fim da Guerra e o breve período de aliança com os países ocidentais, os soviéticos se deram conta de duas coisas: A primeira: os antigos inimigos dos russos tinham perdido muito poder. A França e a Inglaterra não eram os mesmos impérios e a Alemanha saíra derrotada. A segunda: o inimigo que sobrou, os Estados Unidos, estava muito mais forte e determinado a combater o comunismo.E era nesta questão que o partido queria a sua participação. Agir como espião para não deixar que a potência anglo-americana enfraquecesse os ideais do Comunismo além das fronteiras da União Soviética, o lado ocidental. Vladimir estava deixando o exército vermelho para agir agora como um homem que agiria por debaixo dos panos, fora da Rússia. O alto comando do partido estava o designando para agir na Inglaterra!
( Continua... )
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