quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sem Tempo Para Chorar - Cap. 9




Pça Vermelha - 1957

Maggie estava bastante confusa. Enquanto aquele homem desconhecido para ela que estava ali em sua frente olhava-a com um ar de quem está ainda admirado, ela começou a fazer rapidamente um retrospecto nos acontecimentos que levaram-na e estar naquela situação. Havia perdido o pai e a irmã no inicio da guerra e fora levada para um campo de concentração na Alemanha, visto ser judia e fazer parte do alvo de destruição por um povo que julgava-se ser de uma raça superior comandado por um megalomaníaco que levou o mundo a uma guerra sem precedentes, onde o nível de destruição parecia-lhe até o momento,  maior do que a Grande Guerra em 1914.

 Depois fora levada pelo comandante do campo, outro maníaco psicopata que matava as pessoas por prazer, e que talvez por sorte, por ele ainda ter um resquício de sentimento, ele se apaixonara por ela e apesar de muitas vezes a ter maltratado, nunca a tocou, nem abusou dela, e muitas vezes até mesmo a protegeu de outros soldados mal intencionados. Por fim, já de volta a Londres, junto com este oficial alemão, passou a trabalhar na sua casa como uma espécie de governanta, onde tudo culminou com o avanço dos russos sobre Berlim e a morte de Helmuth e seu ferimento por um tiro de fuzil nas costas.

Agora, ali estava ela em frente de outro oficial, só que agora russo, que salvara sua vida e que a trouxera para um país tão longe como a Rússia. Será que este era mais um maníaco, que pelo visto havia se enamorado dela também igual a Helmuth? Não. Talvez a situação agora seria diferente, já que a guerra havia acabado e aquele oficial russo parecia ser bastante bondoso e educado. -
- Vou descer e aguardá-la lá embaixo - interrompeu Vladimir os seus pensamentos.
- Trouxe algumas roupas que talvez lhe sirvam, mas se não ficarem bem, depois fazemos os ajustes necessários - continuou ele.
- Muito agradecida - respondeu Maggie.

Vladimir tomou o rumo da porta e saiu do quarto sempre com um leve sorriso no rosto, enquanto Maggie levantava-se para examinar as roupas as quais ele havia lhe trazido.
Vladimir era um homem maduro. Estava agora com quarenta e cinco anos e aquela jovem, deveria estar na casa dos vinte e cinco ou vinte seis anos. Ele não iria perguntar a ela sua idade, seria muito deselegante fazer isso, ainda mais com uma moça que fora criada em Londres. Ele estava certo de que ela seria a mulher ideal para ele, mas restava saber quais seriam os reais sentimentos daquela jovem. Ele sabia que deveria agir com cuidado, pois ela deveria ter passado por muitos sofrimentos, e talvez quisesse voltar para seu país, ao seio talvez de sua família, se é que ela ainda tinha uma.

Exposição transporta visitantes à Moscou dos anos 50
 Praça Bolotnaia Foto: Aleksêi Góstev

 Talvez ela tivera sido uma jovem casada, talvez ainda tivesse um marido, o que era pouco provável, já que a grande maioria dos homens jovens foram enviados para o front e muitos deles não voltaram, mesmo assim ele teria que levar em consideração o seu luto, se ela fora realmente uma mulher casada. Mas, fosse o que fosse que tivesse que enfrentar, ele estava feliz, porque agora parecia que sua vida tinha um significado maior, além do seu envolvimento com o partido da União Soviética, seu país.

A chegada na casa de Vladimir ocorreu de maneira simples. Martina, mãe de Vladimir estava muito contente. Aproximou-se de Maggie e a beijou no rosto ternamente. Feodor, irmão de Vladimir também havia chegado e estava ansioso para conhecer aquela jovem que seu irmão falava tanto. Ele esticou sua mão para apertar a mão de Maggie e reparou que Vladimir não havia mentido. Ela era excepcionalmente bonita.
Dona Martina, apesar de não falar inglês, imediatamente pegou-a pela mão e levou-a para o andar de cima aonde havia um quarto preparado para ela. Maggie agradeceu e ficou a olhar as peculiaridades de um lar russso. Uma casa grande, mas decorada de maneira simples. O cheiro da comida que vinha da cozinha lembrou-a de que estava com fome. O cheiro de carne assada e das batatas. fez com que lembrasse de quando era criança em Londres. Sempre ao ir para a escola, ela passava com seu pai na casa de um menino que era muito seu amigo.

 Chamavam-no de pequeno - sim aquele garoto era seu companheiro na hora do recreio. Ele a protegia de outros meninos, ajudava nos deveres escolares e era muito querido pelos professores,  visto que tinha uma facilidade para aprender matemática e era muito bom em aprender idiomas. Como era mesmo seu nome? Esta fato lhe fugia a memória. Mas será que ele ainda existia? Sim, a guerra fez com que todos os jovens fossem recrutados e muitos deles pereceram nos campos de batalha, ou morreram nos bombardeios que Londres sofrera durante muitas vezes sob os aviões da força aérea alemã.
Ela lembra que para agradá-lo constantemente pegava algumas balas e guloseimas que seu pai vendia no pequeno comércio que eles tinham e levava para Ed como forma de agradecimento por ele sempre estar do seu lado e - espere! Sim, era Ed! Todos o chamavam de pequeno Ed! Este era seu nome. Agora lembrara. Edward! Como poderia ter esquecido?

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Londres - 1956

Fazia muito frio. A neve agora caia pesadamente sobre a cidade e andar de carro nas ruas cheias de gelo exigia muita perícia e cuidado dos motoristas. Apesar de poucos carros estarem circulando aquela hora da noite, ainda assim Edward dirigia cautelosamente. Chegando ao portão de sua casa, desceu e abriu o portão pesado da garagem e voltou novamente para o carro para colocá-lo para dentro. Entrando dentro de sua residência, tirou o sobretudo e o chapéu e atirou no sofá próximo a porta e foi para perto da lareira, que ainda mantinha algumas brasas incandescentes fazendo com que o ambiente se tornasse bastante aconchegante. Jogou-se sobre a poltrona e pegou um jornal que estava na mesa de centro, mas não conseguiu concentrar-se na leitura. Sua cabeça estava começando a doer, e os seus pensamentos o levaram a pensar nela. Sim, muitos anos haviam se passado. A guerra havia acabado a mais de uma década. Será que ela ainda estaria viva? Haveria se casado. Será que ela, se tivesse sobrevivido, ainda lembrava dele? Eram sempre as mesmas perguntas que ele não tinha resposta.




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