domingo, 16 de setembro de 2012

Sem Tempo Para Chorar - Cap. 10



Típica família americana nos anos 50


O mundo estava passando por grandes transformações. A guerra havia despontado os Estados Unidos como uma grande potência mundial. Seu poderio econômico e militar crescia cada vez mais. Falava-se no modo americano de viver, no sonho americano. Os Estados Unidos era um país de grandes oportunidades, que cada vez mais era o sonho de muitas pessoas que viviam em nações do então chamado Terceiro Mundo.

Em contra partida, a União Soviética abocanhava mais países do leste europeu com suas ideologias comunistas. Para muitas nações tais ideologias foram postas à força, ou porque foram dominadas antes da guerra, ou porque foram ocupadas pelo exército vermelho e tiveram que engolir o regime contra a vontade do povo. E para outras, o comunismo foi realmente visto como solução contra a exploração daqueles que eram ricos e oprimiam aqueles de poucos meios. Enquanto os Estados Unidos pregavam a liberdade democrática, o direito de ir e vir, ao mesmo tempo só aqueles que tinham o poder econômico é que conseguiam se dar bem no mundo capitalista.

Edward via isso como uma grande oportunidade. Decidiu ir morar em Nova York onde na sua profissão havia grandes oportunidades de crescimento. Vendera sua parte na Empresa de Engenharia e Arquitetura, na qual havia se tornado sócio depois de ter se destacado como um excelente engenheiro civil e realizados grandes projetos para a reconstrução de Londres e começara um pequeno escritório de engenharia também na Big Apple, a meca do sonho americano. Seu tio decidira ficar em Londres cuidando da casa já que estava bem idoso e achava que este tipo de sonho era para homens jovens como Edward, que segundo ele estava no auge da sua carreira. Mas apesar de todas essas mudanças, uma coisa não havia mudado ainda na vida de Edward.


Os pais do comunismo.

 A sua busca por aquela menina que fora a sua paixão de infância. Para ele, enquanto não tivesse a confirmação de que ela realmente morrera na guerra, ele não desistiria de procurá-la.
- Ed, não adianta. Já se passaram mais de dez anos. Acha que se ela estivesse viva você já não teria recebido alguma informação sobre ela? Desista meu jovem. Você está perdendo tempo da sua juventude. Já poderia ter arrumado uma boa moça e já teria se casado – dizia-lhe o tio.
- Não meu querido tio. Quem disse que eu quero me casar? Sou um homem muito ocupado com os meus negócios e não tenho tempo para me preocupar com essas coisas agora. O dia que eu achar uma moça adequada para mim eu vou pensar no assunto.

Mas isso ele dizia só para agradar seu velho tio. Na realidade ele ainda sabia que a encontraria, nem que encontrasse apenas seus restos mortais para satisfazer sua busca incansável. Quando isso ocorresse, aí sim ele pensaria em arrumar um outro alguém para preencher o vazio que ele sentia em sua vida, apesar de todas as realizações profissionais que havia conseguido.
Em uma tarde de sexta-feira, no happy hour, Edward estava com alguns colegas em um pequeno bar no centro de Nova York, e entre conversas e algumas risadas, alguém fez uma piada sobre judeus. Todos deram altas gargalhadas, mas Edward não gostou nem um pouco do que ouvira e ficou com seu semblante bastante sério. Mais tarde na hora de ir embora um de seus colegas perguntou se podia pegar uma carona com ele até o posto onde havia deixado seu carro e Edward concordou.

- Posso lhe fazer uma pergunta Ed?
- Sim, porque não Aldrin?
- Você é descendente de judeus?
- Não – respondeu Ed enfaticamente.
- Desculpa a pergunta, mas é que observei que você não gostou da piada que Geofrey contou. Você mudou o semblante enquanto todos nós ríamos.
- É que na realidade não acho certo falar contra outras raças. Nem de judeus, nem de negros ou latinos. Na minha concepção, acho isso de péssimo gosto. E quando eu cresci em Londres eu vivia em um bairro que era praticamente só de judeus e vivia no meio deles de maneira pacífica. Inclusive havia uma menina que eu gostava muito. Seu pai tinha um comércio e ao contrário do que falam contra os judeus de que eles são sovinas, ele era extremamente generoso, não só comigo ao me dar balas ou doces, mas toda vizinhança comprava no seu pequeno mercado e pagavam sempre depois. E essa garotinha era igual ao pai. Até na escola, no horário do recreio ela dividia seu lanche comigo.

- Ah! Entendi. Uma paixão de infância por uma menina judia.
- Exatamente! Não vou negar isso...
Edward marejou os olhos enquanto falava sobre sua infância e sobre Maggie.
- Mas porque não vingou essa paixão? Perguntou Aldrin.
- Por que na realidade eu não sei se ela ainda está viva. Veio a guerra e os alemães eliminaram todos os judeus. Sei que seu pai e sua irmã morreram, porque eu vi os corpos. Mas ela, pelo que sei, foi levada para um campo de concentração em Berlim e depois fiquei sabendo que com a queda de Berlim nas mãos dos russos, ela foi levada para  Moscou por um oficial do exército vermelho. Mas tudo isso são apenas especulações. Nunca ninguém me deu uma informação concreta sobre isso.
- Sinto muito meu amigo – disse Aldrin; no que puder lhe ajudar, se eu souber alguma coisa prometo que vou lhe contar.

Chegaram ao seu destino e Aldrin agradeceu e desceu do carro. Edward sentiu-se melhor ao falar com alguém sobre Maggie. Era isso que ele andava precisando. Precisava desabafar suas angústias com alguém. Precisava tirar aquela dor da incerteza e da dúvida que por mais de uma década o consumiam por dentro.

Chegando em casa, Edward colocou o carro na garagem e subiu e escada que havia no
 interior que dava para a sua cozinha e pegou as chaves que estavam em seu bolso. Ao encontrar a chave e colocá-la na fechadura, observou que a porta não estava fechada. Não se preocupou, pois imaginou que a empregada havia esquecido aberta. Trancou normalmente a porta e seguiu pela cozinha. Ao chegar a sala de estar para subir para o seu quarto, notou que havia uma grande bagunça. Seu sofá fora rasgado, como que cortado por uma faca ou canivete, como se estivessem procurando algo no estofamento.
Seus livros e os papéis da estante estavam todos espalhados pelo chão. Seu aquário estava no chão e os peixinhos jaziam mortos! Um pavor tomou conta de Edward. Fora assaltado!

( Continua... )

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