terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sem Tempo Para Chorar - Cap. 11


A revolução de 1917


Aos poucos Maggie foi se acostumando com a rotina da casa de Vladimir. Logo já estava ajudando a senhora Chernenko nos afazeres domésticos da casa, na preparação de refeições e gradativamente estava se habituando ao novo idioma. Ela aprendia rápido. Já estava num nível intermediário do russo e já compreendia muita coisa em ucraniano.

 O modo de vida era completamente diferente do que ela estava acostumada. Tudo o que eles precisavam comprar para o dia a dia eram obrigados sempre a entrarem em filas. Nas grandes cidades era comum ver a polícia nas ruas juntamente com homens do exército. O partido parece que vigiava os cidadãos comuns de perto. Não era incomum ouvir relatos de pessoas que simplesmente desapareciam e o motivo era quase sempre o mesmo. Falaram o que não deviam sobre o partido

.Quando Jose Stálin, filho de um sapateiro e de uma costureira chegou ao poder de um grande país, seria sensato imaginar um governo digno para a população em geral, em especial as camadas mais pobres, já que ele havia passado por todos os problemas típicos de uma classe proletária oprimida pelos burgueses. Entretanto, não foi assim que aconteceu. Quando ele se tornou-se o  líder em 1929, imediatamente teve início o domínio mais sanguinário e aterrorizante que já fora construído na Rússia.

Sob a bandeira do patriotismo e sob o pretexto de modernizar a URSS para assim torná-la segura e competitiva economicamente e militarmente, Stálin expôs seus planos qüinqüenais aos soviéticos, adquirindo para si em nome do Estado o controle de todas as indústrias, incluindo a agricultura. Em 1946 Stalin implantou mais um plano quinquenal no qual cidadãos da Rússia eram enviados para um campo de trabalhos forçados, e nestes eram obrigados a cumprir metas praticamente impossíveis sob as circunstâncias que se encontravam tanto física quanto psicológica. Mesmo com a tortura nesses campos de trabalhos forçados os cidadãos eram obrigados a agradecer Stalin com slogans do tipo “Obrigado, camarada Stalin!” Ninguém questionava sua autoridade. Mas não foi esse controle que marcou os anos stalinistas, foram os expurgos e as eliminações coletivas de dissidentes ante a sua paranoia.

 A desconfiança o levou a mandar matar mais de um milhão de membros do Partido Comunista – os mesmos que o colocaram no poder. Sem falar da coletivização agrícola que causou a morte de 14 milhões de pessoas, além de tantos outros, como a grande maioria dos líderes militares, aos quais julgava serem incompetentes ou despreparados. Sua agressiva campanha de protecionismo o levou a tornar o cotidiano de muitos um pesadelo sem fim...

 Mas por incrível que pareça Josef Stálin, o chefe supremo do partido e da nação era quase como que adorado, ao mesmo tempo em que era também odiado, mas ninguém ousava em falar isso. Aqueles que se atreviam a falar alguma coisa logo eram deportados para a Sibéria ou simplesmente nunca mais se ouvia falar neles. O país era dirigido com mão de ferro. O poderio bélico era sempre ostentado ao extremo. Dizia-se que uma grande nação, que vivia uma política de comunismo, onde todos tinham direitos iguais, precisava de proteção contra idéias ocidentais, de idéias que pregavam o capitalismo, que pregavam uma falsa liberdade, onde, na realidade, para os russos, as nações fora da cortina de ferro eram escravas do poder econômico. Viviam a mercê daqueles que detinham o capital. Para eles de nada adiantava a liberdade de mercado, se não tinham o que comer, ou onde morar ou acesso à educação.

 Mas essas coisas não escapavam à percepção de Maggie. Ela notava que a população também sofria a miséria da mesma forma que as populações dos países capitalistas além de viverem sempre com medo do partido. Mas quem seria ela para poder comentar suas opiniões, já que estava viva devida a benevolência de um homem que fazia parte de todo aquele sistema e o defendia com toda a sua força?

Continuamente ela lembrava de sua infância, no período anterior a guerra. Edward - o que teria acontecido àquele jovem inteligente que ela tanto admirava? Teria sua vida se esvaído nos campos de batalha, ou estaria ele ainda vivo? Que diferença faria? Sim, se ela voltasse para Londres será que ele lembraria dela? Não. O melhor seria ficar ali mesmo. Aos poucos estava desenvolvendo um amor por aquela família. Vladimir era um homem de poucas palavras, mas que fazia de tudo para que ela se sentisse bem e a tratava com uma delicadeza que ela jamais vira antes.  Era extramente educado e polido naquilo que conversava com ela.

Quando ele se ausentava por um período muito longo devido aos seus compromissos no exército, ela já sentia falta dele. Dos seus comentários no jantar, ao contar dos tempos em que ele esteve ativamente envolvido nas greves antes da revolução russa, na sua atuação para acabar com a opressão das grandes empresas que oprimiam seus pais...emfim, ele realmente fazia falta.

 Maggie sentia-se protegida quando ele estava ao seu lado. Ele era um homem de feições fortes. Era alto, de ombros largos que poucos não deixavam de notar sua presença onde quer que ele estivesse. Ela sentia-se importante quando estava ao seu lado. As pessoas o cumprimentavam sempre com um sorriso no rosto. E quando ela ia até a feira ou o mercado com a senhora Chernenko, ela notava que as outras mulheres a observavam com a admiração, como se a invejassem por ela fazer parte daquela família respeitável.

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O caixão do ditador é carregado por seus
 principais colaboradores no dia 09 de março de 1953

Janeiro de 1953.

O chefe supremo do partido comunista, Josef Stalin só ia ao Kremlin ( sede do poder central ) à tarde e à noite. Depois de assinar a correspondência e receber visitantes, recolhia-se em sua datcha  ( Casa de campo ou fazenda ) de Kuntsevo, em plena floresta, a 15 minutos de carro do Kremlin. Ao redor da vila, protegido por cercas entre as quais circulavam guardas com cães, ele gostava de caminhar e respirar o cheiro dos pinheiros. Incapaz de suportar a solidão depois do suicídio de sua segunda esposa, costumava convidar três ou quatro colaboradores para um jantar interminável e copiosamente regado.


O cardiologista Vinogradov, que tratava dele havia 15 anos, recomendou-lhe cuidar da saúde e parar de fumar. Stalin não gostava de receber ordens; tinha medo da morte e, para evitar que o envenenassem, recusava-se a tomar remédio. Eternamente paranoico, encarregou Ryumin, um dos agentes do serviço secreto, de averiguar se os médicos que tratavam dos principais dignitários do partido não haviam fomentado um complô.

No dia 13 de janeiro de 1953, o jornal Pravda denunciou os "assassinos de jaleco branco", professores de medicina, na maioria judeus, suspeitos de atuar sob as ordens do serviço secreto inglês ou americano e de uma organização sionista, a Junta, que, segundo os boatos, se infiltrara nos mais altos escalões do partido.

Não passava um dia sem que os jornais denunciassem novos escândalos, novas prisões. Cochichava-se que jovens oficiais não saíam vivos de certos hospitais. Aparentemente, as enfermeiras sabiam que ocorriam coisas estranhas, mas não se atreviam a dizer nada por medo dos médicos judeus. O processo dos "assassinos de jaleco branco" estava previsto para 5 a 7 de março. Quanto à sentença, não havia a menor dúvida, já se haviam tomado providências para que as execuções ocorressem em 11 e 12 de março. Todos os homens de confiança sentiam-se ameaçados.


Stalin não poupava os colaboradores mais próximos. Demitiu seu fiel secretário Proskrebychev depois de mandar fuzilar sua esposa judia. Mandou prender o chefe de sua guarda pessoal, o general Nikolai Vlassik, suspeito de ter "favorecido os médicos envenenadores". Prometeu poupar a vida de seu médico Vinogradov, "desde que ele reconhecesse francamente seus crimes e delatasse todos os cúmplices", mas só conseguiu arrancar-lhe uma confissão depois de vários dias seguidos de espancamento.

Às 11 horas da noite de 28 de fevereiro de 1953, quatro habitués chegaram à datcha: Gueorgui Malenkov, Nikolai Bulganin, Kruschev e Beria. Eles conversaram e brindaram com o chefe, mas não se sentiram à vontade. Principalmente Beria, que tinha ligação com muitos envolvidos em uma pretensa conspiração mingreliana (grupo étnico da Geórgia).

Às 4 horas da madrugada, Stalin foi se deitar. Os quatro convidados se despediram. Dias antes, Beria tinha conseguido afastar o guarda-costas mais chegado a Stalin, Alexei Rybin, nomeando-o chefe da guarda do Teatro Bolshoi, e substituí-lo por um homem de sua confiança, Krustalev.

Em 1º de março, Stalin, que costumava acordar às 11 horas, não deu sinal de vida. Mas ninguém estava autorizado a entrar em seus aposentos sem ordem expressa dele. O tempo passou. Meio-dia. Duas horas. Seis horas da tarde. Dez horas da noite. Os empregados e os guarda-costas já estavam preocupados. No entanto, havia telefones instalados em todos os quartos, em todos os salões, em todos os banheiros, para que Stalin pudesse pedir o chá, a correspondência, os jornais. Mas não havia utilizado nenhum. Essa rede telefônica era complementada por um sistema de alarme. Os cômodos eram equipados de sensores escondidos nas cortinas e nas portas para que os guardas monitorassem todas as idas e vindas. Ora, nenhum deles havia detectado o menor movimento.

Às 11 horas da noite, depois de muita hesitação, Starostin, o chefe da guarda pessoal da datcha, tomou coragem. Usando como pretexto a chegada da correspondência do Comitê Central, ousou bater na porta do chefe. Nenhuma resposta. Ele entrou e deu com Stalin caído no chão, de pijama, os olhos arregalados, incapaz de articular uma palavra. O chefe maior do partido estava morto!

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