Lênin pregando a revolução entre os trabalhadores
Rússia - 1917
A Grande Guerra assolava a Europa e a população russa já estava exausta com mais uma guerra, dessa vez muito mais longa e mortífera. Havia escassez de víveres e racionamento, sendo que a prioridade era dada aos soldados na linha de frente. Cansados de lutar, porém, os soldados desertavam em massa, voltando para suas aldeias e cidades. Os regimentos se decompunham caoticamente e a hierarquia do exército se esfarelava. A economia também estava desorganizada, a produção em declínio, havia gargalos de abastecimento em todos os setores.
O cansaço com a guerra era generalizado e também a insatisfação com o regime. A agitação política se intensificava e os rumores de uma nova Revolução cresciam. Logo os "soviets" ( conselho de delegados operários ) começariam a ressurgir espontaneamente no seio das massas. A população em geral (e os soldados em especial) queriam o fim da guerra. Os camponeses queriam mais terra. E todos queriam pão. Só havia um grupo político que, sintonizado com as necessidades populares, agitava sistematicamente essas três palavras de ordem, “pão, paz e terra”: o partido bolchevique. E mais do que isso, os bolcheviques indicavam também por meio de outro slogan o único caminho pelo qual essas três reivindicações poderiam ser atingidas: “todo poder aos soviets!” Era a senha da Revolução.
E lá estava ele. Vladimir Chernenko, então um jovem com apenas 19 anos de idade, ansioso para ver mudanças, estava cansado da miséria a qual vivia sua família, estava cansado de ver seus pais entrarem nas fábricas para trabalharem mais de 12 por dia e receberem um salário miserável, que quando não vinha corroído por descontos abusivos dos patrões, vinha sempre atrasado com ate dez ou quinze dias. Ele sabia que havia necessidade de mudanças.
Havia se tornado um ávido leitor e até mesmo já tinha lido o famoso livro de Karl Marx, O Capital, que pregava a liberdade do proletariado para governar a si mesmo onde toda a sociedade deveria viver de maneira coesa, com igualdade em todos os setores da civilização, onde não houvesse os que dominassem com poder econômico, mas onde todos deveriam SER o poder econômico repartindo igualmente a riqueza produzida pela sociedade de maneira geral.
Contrariando seu pai, Vladimir começou frequentar as reuniões dos soviets e passou a ver a revolução como a única saída para sua grande nação. Ele considerava-se um privilegiado por saber ler e ter aproveitado o pouco tempo que ficara na escola para aprender a ler com clareza e entendimento. Vira nos discursos daquele homem, Lênin, as palavras que todo o povo queria ouvir e a solução para expulsar do país os estrangeiros que sugavam as riquezas do país além de explorarem o povo russo miserável que se submetia às exigências dos burgueses que dominavam e, da Igreja que de maneira sútil também explorava o proletariado por pregar que essa era a vontade de Deus, que era na pobreza e no sofrimento que o homem purificava sua alma e atingia o Reino dos Céus ao morrer, enquanto a maioria do clero vivia em grande riqueza ignorando a maioria da população que vivia em absoluta miséria!
Vladimir entrara sem fazer barulho em casa, visto que já era tarde da noite e não queria acordar seus irmãos e seus pais que deitaram cedo, porque o dia seguinte seria mais um dia de labuta para eles na fábrica e ele e sua irmã mais velha iriam para a lavoura do seu Hans Becker, um alemão que viera para Russia com grande riqueza e comprara a terra de muitos camponeses que não tinham mais como comprar sementes para plantarem ou condições de manterem as suas fazendas ou pequenos sítios. Hans comprou terras por valores irrisórios, já que a maioria dos camponeses não tinham outra opção, se não aceitar a oferta do alemão se não quisessem morrer de fome com suas famílias. Hans além de comprar as terras, oferecia para os camponeses trabalho em uma metalúrgica, onde ele era também sócio e pagava um salário de fome aos empregados.
- Onde você estava até essa hora da noite? perguntou seu pai que estava sentado em uma poltrona perto do fogão à lenha aquecendo-se do frio do inicio da madrugada.
- Estava na casa de um amigo - respondeu Vladimir asperamente.
- Meu filho, por favor, não se meta com essa gente. Eles só querem provocar uma anarquia no nosso país. Agora nós estamos bem. Eu e sua mãe na fábrica, você e sua irmã trabalhando com seu Becker, logo conseguiremos comprar nossa terra de volta e retornaremos a plantar e viver como vivíamos antes.
- Pai, não adianta! Não tem mais volta! O senhor acha que eles vão permitir isso? Como vamos economizar dinheiro se os nossos salários juntos não chegam nem mesmo para nós podermos nos alimentar direito?
Eles já pagaram a vocês o salário do mês passado?
- Ainda não, mas eles sempre pagam filho, você sabe disso!
- Sim. Enquanto eles não pagam, eu fico pegando dinheiro adiantado do seu Becker ou trazendo milho, batatas e beterraba de suas terras e fico com uma eterna dívida com ele. Esse mês eu já estou devendo para ele. Não tenho o que receber! É isso que não entendo, pai! Seu Hans Becker é sócio na fábrica em que você mamãe trabalham. Eles atrasam os salários e eu é que fico devendo para ele se pego alguma coisa da lavoura para que tenhamos o que comer...Ele não é capaz nem de nos dar o que pegamos da lavoura por conta dos salários atrasados de vocês! Isso me deixa muito irritado.
- Mas nos revoltarmos não vai levar a nada, filho! Temos que ter fé em Deus!
- Que fé, papai? Que fé é essa? Por acaso o padre da nossa cidade está passando por alguma dificuldade?
É claro que não! Está sempre bem alimentado, sempre tomando o melhor vinho! Para ele é fácil dizer que isso é da vontade de Deus! Está sempre junto com os donos das fábricas, junto com seu Hans pra cima e pra baixo...Isso me dá nojo!!
- Não fale tal blasfêmia meu filho..
- Boa noite papai! Vou dormir porque amanha tenho que ajudar o sr Hans Becker a ficar mais rico, eu e Aninka.
( Continua...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário